Não fosse especialmente a mídia regional, cúmplice extrema dos esquemas dominantes no Paraná e na capital, e não haveria essa impressão de que Curitiba estaria imunizada contra síndromes como a de Londrina, Araucária, Cascavel, Ponta Grossa, Pinhais etc. Dá a impressão que os dirigentes de Curitiba, antes e depois de assumirem, fazem regulares operações num lava-rápido dos postos de combustíveis, a fim de pasteurizarem suas respectivas imagens e se apresentam à população como se tivessem acabado de sair de uma sauna e, ainda por cima, com água benta.
O transporte coletivo de Curitiba poderia ter subido 150% durante o Plano Real? Há pessoas, que já atuaram na área e dominavam as planilhas e hoje estão de fora, que afirmam que nada mudou quanto à manipulação dos números, jamais explicados e olhados como esotéricos. Se a Câmara Municipal dá, como sempre, toda a cobertura para o que ocorre no setor, percebe-se aí o maior obstáculo a qualquer transparência. Se nem o ‘‘grampo’’ telefônico, que captou o ‘‘papo’’ entre o Iris, presidente da Câmara, e o irmão João Simões, então secretário do cartel, teve sua apuração, quer pelo Legislativo ou pelo Ministério Público, dá para entender que o novo clima, criado pela mobilização em Londrina, poderia alterar o velho conformismo, como se deu ao norte, onde também as coisas eram suprimidas com a máxima naturalidade.
Além desse caso do transporte, há o absurdo do novo regime do IPTU, que vai operar com força confiscatória e trazer um impacto social violentíssimo contra os pobres e a classe média com a aplicação dos 3% sobre o valor venal. Coitados dos mutuários do sistema habitacional que, além das prestações e das taxas de condomínio, vão ter que enfrentar essa espoliação, digna de Herodes.
Por que não se revelam irregularidades na área das licitações? Porque o pessoal listado, se denunciar, fica de fora dos futuros contratos ou têm os seus pagamentos retardados e que podem levá-los à quebra. Um empresário tucano bicou 60 paus e o assunto é corriqueiro na área dos empreiteiros, não apenas pelo vulto dos negócios como pela forma pouco ortodoxa como se deu com uma licitação aberta num dia com um só concorrente e adjudicada no dia seguinte, um feito a mais para o Livro dos Recordes.
Se a sordidez das vinculações entre a polícia e o crime se davam em nossa cara, como se tais relações fossem normais, imagine-se o que não pode acontecer no intercâmbio governo e empresariado. Se o Tribunal de Contas, mais de três anos depois, retoma uma apuração de irregularidade do Canal Extravasor no rio Iguaçu é de entender-se por que há tanta falta de transparência. Por que só agora e por que tanta desídia também da oposição e órgãos fiscalizadores, logo de uma obra que agrega recursos de bancos internacionais?
BIZARRICE
Anedota corrente na praça revela que uma jovem modernosa, que vivia em relações promíscuas, um dia teve um filho e um dos que foram visitá-la deu a boa nova: ‘‘O bebê é a cara da rapaziada’’. É o que se pode dizer, também, de certos governos: suas obras são ‘‘a cara da rapaziada’’
AXIOMA O Banestado neste governo conseguiu o recorde de ambivalência: ser o máximo da sujeira (a Leasing, especialmente) e lavanderia, como o ocorrido na agência de Londrina, conforme a Polícia Federal.
GLOSA A bandeirada na cabeça do Mário Covas e o lançamento de ovo na face do ministro Serra não significam uma caça a tucanos. Não justifica, porém, que o governo, a pretexto de impedir a baderna, tente enquadrar na Lei de Segurança Nacional a galinha produtora do ovo, origem afinal do corpo de delito.
A LISTA Com as diligência da Promotoria de Investigações Criminais, apareceu uma lista de beneficiários de emissões de cheques do homem dos desmanches, o Mandelli, indiciado nas vinculações com o crime organizado. Delegados, policiais da hierarquia intermediária, deputados, gente da área de comunicação social, advogados aparecem em canhotos de cheques emitidos.
Como no caso dos bicheiros do Rio de Janeiro enquadrados pelo procurador de Justiça (daqui de Curitiba, por sinal, tendo atuado como suplente do PT na CPI das Drogas) Biscaia e pela juíza Denise Frossard ‘‘em formação de quadrilha’’ havia lá igualmente a listagem de beneficiários, a maioria deles em código, em linguagem cifrada.
SPRAY Banco Itaú corrigiu a idiotice da colocação de uma cerca no caixa automático da Boca Maldita depois que o povão colocou uma galinha no local. - Parece inconcebível que uma empresa que gastou uma fortuna para pretextar identificação com Curitiba, ao ponto de promover ruidoso plebiscito para apurar o símbolo da cidade, faça uma asnice dessas. - Aliás, o banco não respeitou o resultado do plebiscito e tem dado mais destaque ao ‘‘kitsch’’ que Lerner e Cassio queriam como identificação da cidade, o Jardim Botânico, do que a Universidade Federal do Paraná, que saiu em primeiro na pesquisa. - Depois do papelão que fez no aeroporto, ameaçando Amaury Escudero de morte e marcando-o para o seu companheiro ‘‘Ari Navalhada’’, o deputado federal José Janene arrependeu-se pelo transbordamento em conversa com o professor Teophilo Bacha durante vôo para São Paulo. - Globalização chega ao mercado funerário: as organizações da Região Metropolitana de Curitiba denunciaram as dezenas de Curitiba que pertenceriam a cinco famílias. A bronca está na Delegacia de Proteção do Patrimônio e tenta uma espécie de ‘‘zoneamento’’. A bronca do jogo do bicho começou assim.
FOLCLORE As agruras de Covas e Serra vistas pelo Jota Carlos e suas quadras rimadas: ‘‘Rolo em Covas, ovo ao Serra/ Iniciando a pizza chique/ que pela receita encerra/ farinha em Fernando Henrique!’’. Minha réplica: ‘‘Que se implique com Fernando Henrique/ Que o Jota faça versos com perseverança/ nada impede que se lhe aplique// a velha e odiosa Lei de Segurança.
CROMO Os médicos americanos alertam que o amor virtual faz desaparecer o real, o de carne e osso. Apesar disso, o nosso governo prefere o virtual ao virtuoso.
AFORÍSTICO O senador Requião defendeu o secretário Raggio: deve ter ficado com preocupação dobrada, ainda que fosse declarada sua inocência.