Luiz Geraldo Mazza




Paraná, rumo à fossa
Quando se dissipavam as nuvens escuras que toldavam o cenário do ministro Rafael Greca, eis que as duas principais lideranças do Paraná resolvem dar vexame em Brasília e no Senado: Lerner, o desatento, e Requião, o tempestuoso. Lerner querendo exibir uma coragem que não tem, a de enfrentar o senador, e aquele no velho exercício das artes da desagregação, em que é pós-graduado.
Levaram as disputas de campanário, ainda que com alguma conexão nacional, para todo o País, de uma forma pouco inteligente, seja na mal inspirada carta de Lerner, lida pelo senador Hugo Napoleão, sobre a figura de Requião e as suas acusações contra o Estado ‘‘imerso até o pescoço no pó branco da cocaína’’, e os transbordamentos próximos da histeria do ex-governador, fazendo acusações que jamais conseguirá provar. Aliás, se há conexão frequente entre o chamado crime organizado e a polícia, isso já ocorria até antes da gestão Requião, tal a firmeza das raízes estabelecidas.
O fato é que nunca estivemos tão por baixo como agora. Vemos, antes de tudo, dois potenciais desperdiçados: a imagem construída de Lerner, o gestor urbano de fama internacional, se diluindo e também a fúria combativa, aliada ao humor cáustico do senador, prejudicada em raciocínio de beira de cais. Enfim, uma dose paquidérmica de constrangimento pelo baixo nível, primário, das colocações feitas pelos dois na base das acusações genéricas sem base factual.
Se Lerner ‘‘quebrou’’ o Banestado, o que é inegável, seus antecessores deram uma contribuição apreciável nessa direção, ainda mais aqueles que, como Requião e Álvaro Dias, atuaram sem oposição. Deste, aliás, corre no Ministério Público federal uma ação responsabilizando diretores do Banestado da sua gestão por haverem dado descontos indevidos em favor de empreiteiros.



AFORÍSTICO
Requião diz que o pó é que elegeu o governo, mas também insiste que foi a lama. Afinal, foi o pó ou a lama? E não teria sido a língua, feita de destempero, que derrotou Requião.

PREMIER O Paraná pode viver dentro em pouco uma experiência alegórica de parlamentarismo com o ex-prefeito Saul Raiz operando como primeiro ministro. A falta de ‘‘punch’’, energia, do governo Jaime Lerner seria neutralizada como se essa ‘‘coordenação geral’’ desse consistência e coerência à dinâmica atual dos trapalhões, que deixa muito a desejar. A notícia, que circulou ontem, já irritou alguns condestáveis que se acreditavam o dono do pedaço.
FLAGRANTE Na tarde outonal de anteontem um repórter fotográfico da ‘‘Folha’’ registrou um encontro dos delegados Mário Ramos e Marcos Micheloto, titular atual da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos, batendo um papo numa esquina da Marechal Deodoro, no exato momento em que a Polícia Militar e o Ministério Público faziam a megaoperação nos desmanches.
GLOSA Romário, o futebolista, deu uma lição de espírito e finesse em Lerner e Requião. Como Edmundo, estrela que disputa com ele a condição de prima dona do Vasco, disse que Romário era o príncipe ungido pelo rei Eurico Miranda, o goleador replicou: ‘‘Há o rei, o príncipe e o bobo da corte.’’
AXIOMA Continuo sugerindo humor na batalha do pedágio: na hora de pagar a tarifa, o motorista ergue os braços como quem está sendo assaltado. Para a grosseria do reajuste, a suavidade do protesto sutil. Erguer os braços é ação, cruzá-los é aceitar as imposições ditatoriais.
BIZARRICE O maior desmanche no Paraná é o promovido pelo governo que terceiriza como ninguém (vide locação de veículos em favor de financiadores de campanha eleitoral), cria as tais organizações sociais autônomas, que deseja fora do alcance da fiscalização do Tribunal de Contas, vende ações e abre caminho para privatizar o Banestado, a Copel e a Sanepar. Será que a eleição servirá como ‘‘batida’’ nesse desmanche?
A idéia seria fazer de Saul Raiz um ‘‘premier’’ com mais poderes do que os desfrutados por Euclides Scalco, após a defecção dos principais secretários de Richa, Belmiro Valverde, o de Planejamento, e Erasmo Garanhão, da Fazenda. Só há uma coisa que destoa em Saul Raiz: a voz do Rivelino, mas assim mesmo sabe mandar, como Scalco é mestre em ouvir.
LAMENTO Essa disputa interna no Hospital Erasto Gaertner, de Curitiba, é uma situação pior do que a havida na dos excepcionais, onde a política profissional busca tutelar o movimento. Com amigos dos dois lados, é constrangedor lembrar que a imagem, construída, ao longo do tempo, de ciência e solidariedade, tanto do hospital como da instituição, fica exposta a um desgaste irremediável. O ganho que houver em disputa de poder não o compensará.
SPRAY Pesquisa US, Último Segundo, pela Internet mostra que Cássio é quem segura Lerner. - O governador aparece em sexto lugar (estava habituado a figurar no ‘‘podium’’ até o terceiro lugar) com 76 pontos e fica atrás de Garotinho (85%), Amazonino Mendes (86%), Jereissati e Borges, da Bahia (88%) e Jarbas Vasconcelos, com 89%. - A pesquisa foi nas capitais entre 17 e 24 de março, portanto ainda sob a síndrome do narcotráfico, e para prefeito na corrida eleitoral de 8 capitais, Cássio aparece em quinto (o que é também uma queda na tradição de figurar em primeiro ou segundo lugares), com 38%. - Imbassay, de Salvador, está com 56%, Tarso Genro, de Porto Alegre, com 47%, Edmilson Rodrigues, do PT de Belém, com 44%, Roberto Magalhães, do Recife, com 43%. - Dá para prever acirramento das disputas entre Polícia Civil e Militar em função da devassa dos desmanches. A PM bateu forte no Caboclinho e agora a Civil vai fazer o processo de responsabilização. Dá para imaginar o que virá.
FOLCLORE No Paraná Banco um encontro entre Joel Malucelli, dono da casa, Álvaro e Osmar Dias, Beto Richa, Tony Garcia e o Naninho (Carlos Nasser), de avaliação da sucessão municipal de Curitiba. Para botar time em campo é preciso banco, ele que mantém as reservas. Nasser é mais do que o cérebro, segundo Campana; ele é a Sorbonne mais próxima.
CROMO Janaína no seu nome (rainha do mar) e olhar a placidez de oceano.