Uma ‘‘virada’’ de Rafael?
A barra do ministro do Esporte e Turismo está cada vez mais leve, depois de manter-se, durante meses, diante de um pelotão de fuzilamento por causa dos bingos. Anteontem, na Justiça Federal, Rafael Greca foi excluído pelo titular da 7ª Vara de Brasília de uma ação cautelar inominada do Ministério Público, ‘‘diante da flagrante ilegitimidade passiva para a causa’’. E diz mais o juiz Cesar Antonio Ramos: ‘‘Adotada a tese do Ministério Público, em face da cadeia de causalidade afirmada, até mesmo o Senhor Presidente da República estaria legitimado para responder à demanda’’.
Na verdade, o pleito foi atendido, na parte relativa ao Indesp, mandando suspender efeitos de um convênio com a Prefeitura de Touros/RN. Antes houve aquele desmentido à denúncia de sindicalistas, encampada por Rosinha, de que a senhora Teresinha Buffara Freitas tivesse recebido os milhões em sua conta, e agora essa. Se as respostas vierem nesse diapasão, o ministro vai se beneficiar disso por causa de um outro complexo brasileiro: o vitimalismo.
Lupion só foi recuperado, moralmente, anos depois de a tempestade de acusações o ter atingido. Alceni Guerra comeu o pão que o diabo amassou no governo Collor com toda a mídia pegando em seu pé, fungando-lhe na nuca. E mais: Getúlio Vargas, na véspera do suicídio, se houvesse pesquisa de opinião em 1954, estaria no mais vil dos pelourinhos e com o seu martírio destruiu a conspiração em marcha. Essa virada rápida do próprio povo é uma lição nos que se assanham em momentos de linchamento.
Fortalecido moralmente, Greca passa, outra vez, a ser um disputante sério do governo. E Álvaro Dias, que pegou a moleza do ‘‘acordo branco’’ com Lerner, possivelmente perderia para o ex-prefeito no pleito ao Senado. Observe-se a votação que obteve para deputado federal. Basta agora que se saia bem na sua condição de ministro, mesmo que não permaneça no posto.
BIZARRICE Segundo Cândido Gomes Chagas (da ‘‘Paraná em Páginas’’) os ‘‘Anéis da Integração’’ devem ser chamados agora de ‘‘as argolas do Lerner’’.
AXIOMA Nélio Botelho, líder caminhoneiro, ontem: ‘‘vamos enfrentar o governo com pedras e pau!’’ Dá para cantar, neste momento melancólico do desgoverno Lerner, ‘‘Águas de Março’’, sucesso interpretado por Élis Regina, adequado como fundo musical para o cenário: ‘‘É pau, é pedra, é o fim do caminho’’.
GLOSA Nelson Justus, presidente do Legislativo, com as recomendações feitas sobre assiduidade dos deputados, lembra em tudo bedel de colégio.
EPIGRAMA Se só havia essa dezena de delegados e policiais envolvidos, conforme a CPI das Drogas, como é que conseguiam se impor à esmagadora maioria e, ainda por cima, não serem percebidos nem pelo governador e muito menos pelo seu secretário de Segurança?
PAGAMENTO Circularam, nos últimos dias e de forma constante, notícias de que o pagamento do funcionalismo estadual, que já atrasou em relação às práticas anteriores, ficaria para segunda-feira, 3 de abril. Deveria, conforme a praxe, sair, no máximo, amanhã, dia da Redentora, último do mês. O crédito sai a 31, mas a turma só bota a mão na bufunfa na terça. O dinheiro, aliás, ficaria liberado a 1º de abril, que é sábado e dia da mentira.
No meio da semana houve um momento crítico: a falta de pouco mais de R$ 70 milhões para fechar a folha. Dá para imaginar o suspense daqui em diante.
Uma lembrança: a imprensa paranaense nasceu a 1º de abril de 1854 com o jornal ‘‘O Dezenove de Dezembro’’. Nasceu oficial, pois divulgava os atos públicos como sucedâneo do Diário Oficial e ainda no dia da mentira. Esse problema congênito da nossa imprensa é um velho desafio.
SPRAY ‘‘Não há como fazer omelete sem quebrar os ovos.’’ A frase batida, que poderia até produzir uma gemada, foi dita, ontem, pelo secretário de Segurança, José Tavares, admitindo que houve violência na repressão aos caminhoneiros. - Felizmente não acertaram ‘‘os ovos’’ de um dos motoristas agredidos, mas sua região glútea teve que ser submetida a cirurgia, conforme deu para perceber na denúncia da vítima diante dos deputados. - É bom ir, desde logo, se acostumando: está aberto o ciclo de repressão, não porque o Tavares o deseje, mas em função da crise acumulada. Nas greves dos professores e dos trabalhadores do Judiciário, que dificilmente serão contornadas, conforme o tom da revolta (e a amostra da invasão da Secretaria de Administração com centenas de reféns é um indicador), o pau vai baixar e o salário não sobe até porque não há dinheiro. - Para evitar mais conflito em dias de clássicos de futebol, se estuda a retirada, pura e simples, dos ônibus, já que há resistência contra o fim das torcidas organizadas. - CPI das Drogas deveria não só ser estadualizada como também municipalizada: os frutos da existente em Ponta Grossa mostrou que adensa a mobilização e aumenta a vigilância. - 38 oficiais PM estão sem função e proibidos de usar uniforme. Promovidos na Academia, sargentos e subtenentes estão, desde outubro, à espera de nomeação. Pelo jeito, é a falta de grana. - Outra coisa: essas motonetas vão botar em risco a vida da rapaziada. Cuidado que as simplificações poderão sugerir o uso de patinetes e até skates. - Anteontem, um carro foi roubado na frente do Palácio Iguaçu.
FOLCLORE Uma jogada de contrainformação da parte oficial sugeria que Nélio Botelho, líder caminhoneiro, apostava na frouxidão crônica do governo paranaense para tentar uma greve nacional. Doutor Silvana, imaginem só, é chapa branca. E finge pichar o governo para criar estados psicossociais e constranger eventuais desafetos e oposicionistas. O virtual é a virtude, única e exclusiva, da ordem que está aí. Só que pedágio é tatuagem.
CROMO Só os gnomos, sob cogumelos ‘‘chapéu de sapo’’, sabem em que lugar estão os canteiros de trevo de quatro folhas e reservas de pó de pirlimpimpim.
AFORÍSTICO Nas festas de Curitiba ficou visível que Lerner catapultava Cássio e que hoje é o abraço do afogado.