Luiz Geraldo Mazza




A prospecção de novo
Lá pelos anos 70, a profissão mais em moda era a de futurólogo. Como somos condenados à cultura reflexa, condicionada, bastava qualquer mestre dos States dar um chute na direção do futuro, em torno do qual o parâmetro distante era o paradigmático ano 2000, alvo de todas as especulações. E foi nessa época que ‘‘pintou’’ no cenário o ‘‘sábio’’ Hermann Khann, do Instituto Hudson, muito badalado pelo jornalista João Féder que veio da corte, como dizia Paulo Francis, defendendo a tese da instituição do grande lago em nossa badalada Amazônia que os gringos sempre quiseram botar a mão.
Pois as previsões do imenso bruxo – sozinho batia o Lerner, o Orlando Pessuti e o Jô Soares e nem nas lojas Varca havia roupas com seu número – eram as mais arrasadoras possíveis. Voltado para o futuro remoto, a obra, que só poderia ser prefaciada por Roberto Campos, envelheceu em pouco mais de um mês: estava inteiramente defasada quanto aos indicadores de PIB, renda per capita, o escambau. Hoje ela é peça de museu, mostra apenas que nem serviria, por suas projeções estatísticas, elaboradas com o uso de computadores de última geração da Remington Rand, para criar estímulos internos de auto-superação.
O pior é que a claque americanalhada repetia aquilo como se tivesse mais do que a aura de um Nostradamus, já que alicerçada na parafernália cibernética, como se fosse um fato consumado. Quando se usa números num país como o Brasil, a cautela manda que não se esqueça de um princípio constantemente lembrado por Bento Munhoz da Rocha nos seus discursos condoreiros dos anos 50 (de 51 a 54) ao referir-se ao Paraná mutante (muito antes da Rita Lee) em que, como rotina, as estatísticas nasciam desatualizadas.
Vimos, nestes dias, alguns ensaios nessa direção relativamente ao Paraná: uns afirmando, na velha toada triunfalista, de que a média regional seria, uma vez mais, superior à nacional. E isso dito como um feito incomum, como se não houvesse a obrigação elementar de obter tal descompasso. Houve quem falasse em registros superiores a 4% dos resultados obtidos no ano passado. Luis Eduardo da Veiga Sebastiani, do Conselho Regional de Economia, a despeito de ser jovem, toma cuidados em relação a esse tipo de previsão e lembra aquela diferença sutil entre crescimento e desenvolvimento. Este se dá quando se somam fatores como o econômico e o social e não quando submetidos a uma dicotomia, como quase sempre acontece, entre esses dois pólos.
Um dos riscos que corremos com o modelo lerneriano de industrialização é o de obtermos indicadores de agregação tecnológica e de capitalização intensiva sem a resposta devida no front do emprego, o qual só pode ser ativado se evitarmos desprezar nossas vocações no campo agroindustrial que não poupa mão-de-obra com a intensidade verificada no estilo de crescimento privilegiado.



BIZARRICE
Para a cápsula do milênio em Nova York, há quem sugira a roupa de baixo de um desses padres que arrebatam multidões no Brasil. Lá pelo ano 3000, seria um ícone tão importante quanto a batina do padim Ciço no Nordeste

AXIOMA O mundo está mudando e o Paraná também: há dez ou vinte anos passados, seria inimaginável que o Instituto de Arquitetos do Brasil, secção regional, contestasse Jaime Lerner. Pois ele acaba de trombar, e com toda a razão, por causa das mudanças urbanísticas no Centro Cívico.
GLOSA Nesta semana, finalmente o Atlético Paranaense ingressou formalmente no Clube dos 13. Como os três mosqueteiros que eram quatro (Atos, Portos, Aramis e Dartagnan), nos 13 agora há 20. Lembra o final de um filme do Mário Moreno (Cantinflas) em que ele, referindo-se a uma assembléia da ONU, anuncia, com sua voz inconfundível de jornaleiro, a manchete: ‘‘Amanhã, reunião dos quatro grandes e 44 pequenos!’’
EPIGRAMA No retorno da temporada de praia é que se perceberá, com a romaria aos médicos (alergistas para cuidar de doenças da pele, oftalmologistas para as lesões da retina e da córnea, gastrenterologistas para ver estragos sérios, inclusive hepatite) por parte dos banhistas, o porquê de chamarem as nossas praias de cloacas.
SPRAY Hoteleiros do litoral estão preocupados com o baixo movimento nas praias, embora a melhora do feriadão de fim de ano e finais de semana. - Frequência média em hotéis, pousadas e pensões era de 10 a 15 dias no ano anterior e caiu agora para cinco no máximo. - Assim mesmo, a cabeça dos proprietários parece não funcionar com a cobrança de alugueres diários de R$ 80 a R$ 120, superiores aos vigorantes em Santa Catarina, onde a presença de argentinos (com moeda de valor duplicado) desequilibra. - O fato de alguns empresários de Curitiba terem transferido suas atividades como o Curaçao e o Calamengau para Guaratuba, o que melhorou a estrutura de animação, não é suficiente para aquecer a temporada. - Em Santa Catarina, há um calendário sincronizado de promoções entre os balneários principais. O centro principal é na Penha com o parque de Beto Carrero, todos os anos com atrações novas. Em Camboriú o teleférico (não artesanal e de risco como o de Matinhos, adequadamente interditado) é outra atração de primeira qualidade. - Piçarras é prova, pela recuperação de mais de cem metros de areia, de que o ‘‘engordamento’’ pode salvar Matinhos.
FOLCLORE No segundo governo Lupion o chefe do cerimonial, capitão Sidney, da Aeronáutica, do Palácio Iguaçu foi exonerado porque contratou uma artista acrobática tipo Eros Volúsia, num balê ousadíssimo para recepcionar o empertigado e duro general Lott, ministro da Guerra, que ficou roxo de tão escandalizado.
Atribui-se ao cerimonial ainda o convite ao arcebispo metropolitano D. Manoel da Silveira D‘Elboux e excelentíssima reverendíssima senhora.
CROMO Luciana, rosa rubra: o orvalho matinal é o brilhante cotidiano.
AFORÍSTICO Que os políticos não invadam a praia, pois são mais temidos que tubarões.