Luiz Geraldo Mazza
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 07 de janeiro de 2000
Luiz Geraldo Mazza
Uma bomba de efeito
Pelo jeito o Cassio Taniguchi, prefeito curitibano, com a jogada do IPTU, que lhe permitirá, no ano que vem, mexer no valor venal dos domicílios e ainda por cima aplicar a alíquota de 3%, como alertam os tributaristas, vai superar aquele jogador de futebol que batia pênalti com efeito. Parênteses abertos vamos à anedota: o cara bate a penalidade e o goleiro pega, para espanto da torcida, mas quando vai devolver, orgulhoso e altaneiro, a bola para o meio de campo, assiste ela quicar, como se fosse um ser vivo, e entrar no gol.
Cássio já bateu o pênalti e nós, contribuintes, como goleiros, pegamos a bola transformada em carnê do IPTU. Tal qual o arqueiro iludido, que devolveu a pelota, crendo que evitará o gol, não estamos percebendo que, além do reajuste deste ano, teremos o outro bem maior de 2001 quando não haverá eleição, o que tornará inúteis as queixas e reclamações.
Claro que a prefeitura se escuda no fato de o Supremo Tribunal Federal ter derrubado a progressividade, que afinal atendia, de certa forma, imperativo de justiça social e por estar na dependência de mudanças que viriam com a Reforma Tributária, muito mais demorada que Godot, fixou a alíquota de 3% que somada a ajustes eventuais no valor venal teremos o gol surpresa em favor do Erário e contra o contribuinte. A fase de transição, ora estabelecida, ajustará o percentual ao máximo de 8% da inflação acumulada, mas no ano que vem a paulada será maior e impiedosa. Afinal todos já terão votado, razão pela qual se torna indispensável que a prefeitura deixe tudo transparente, nada translúcido e muito menos opaco, tal qual as coisas ao menos aparentam.
Dá para imaginar o Cassio rindo do nosso desapontamento de goleiro perplexo e atrapalhado, sempre com cara de bobo, expressão comum do nosso contribuinte. Essa, como a do batedor de pênalti, supera a folha seca do Didi.
BIZARRICE
O Cândido Gomes Chagas da revista Paraná em Páginas no anúncio mostrado na televisão tomou a cautela de não reproduzir as figuras da capa que aparecem em destaque entre os piores do ano: no lugar do governador Jaime Lerner e do ministro Rafael Greca botou dois pontos de interrogação. Empresários como Cunha Pereira e Paulo Pimentel, que o Candinho conhece bem, não aceitariam esse tipo de divulgação nada cortês e diplomático.
AXIOMA Não há o menor empenho para preservar a arquitetura moderna no Paraná. Várias obras de um dos maiores arquitetos do Brasil, Vilanova Artigas, gente da terra, fundador do curso de arquitetura em São Paulo, foram derrubadas sem a menor cerimônia. As dos que se julgam os reis do pedaço como os kitschs do lernerismo estão aí superbadalados. Agora tratam de desfigurar o Centro Cívico. Salvam só o deles.
GLOSA Perda de renda dos paranaenses, ano passado, foi de 3,5%, segundo avalia o Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese). A realidade cada vez contrasta mais com o simulacro de estatística oficial.
EPIGRAMA Na célebre discussão entre Geisel e seu sucessor Figueiredo sobre o Riocentro o primeiro tinha razão ao cobrar punições justamente porque teve peito de exonerar o comandante do 2º Exército depois do assassinato do Vlado (Vladmir Herzog) no DOI-CODI. E aqui tudo de ruim que acontece na área de Segurança pode levar a queda de vários atores, como aconteceu com comandos da Polícia Militar e titulares da polícia civil, menos o secretário, embora os problemas persistam e tudo se mantenha como dantes.
BUMERANGUE Dissidentes do requianismo usam as mesmas técnicas para combater o ex-chefe, como ele o fazia com os adversários. Quando Requião brigava com alguém imediatamente saiam às ruas os pichadores malhando o desafeto do prefeito ou governador. Quando deixou o governo houve o inquérito das diárias frias e bastou isso para que os grafiteiros reclamassem o dinheiro desviado e agora pedem que diga onde estão os dólares. Um dos que entrou nessa, também ex-seguidor leal, o motorista Tabaco, colocou faixas na cidade sugerindo que sabe em que lugar se encontram os dólares e aproveita, de forma pouco sutil, para cobrar supostas dívidas trabalhistas do seu ex-patrão.
SPRAY O governador Jaime Lerner, se perder a questão da nomeação dos procuradores que passaram em concurso, vai ter que pagar uma fortuna e do próprio bolso e que anda por volta de R$ 1 milhão. - Sua assistência jurídica é desastrada e pode até levar os seus passos processuais ao enquadramento em litigância de
má-fé, já que entrou simultaneamente com agravos em tribunais de hierarquia. - Para quem empurra tudo com a barriga, esperando que os fatos se autometabolizem, não surpreende. - O governador, como sempre, se agarrou na tal Lei Camata, que nunca respeitou e que detonou, logo no início do primeiro mandato, com a nomeação de mais de 600 pessoas para cargos em comissão e cujo valor remuneratório aumentou abusivamente. - Advogados estão provando que após o concurso da Procuradoria, nomeou 1.193 servidores, mais de mil em cargos em comissão e 90 e poucos efetivos. - Governo alega que parte desses é de pessoas que haviam sido exoneradas e renomeadas. Mas se está preocupado com a Lei Camata não deveria fazê-lo. - Anteontem a equipe se batia em Brasília pelos royalties de Itaipu antecipados com voracidade máxima e superior a do IPVA. E aferra-se na capitalização da ParanaPrevidência, cuja necessidade é de fato indiscutível, mas que vai encontrar resistência pesada no Judiciário.
FOLCLORE Um secretário importante do governo está defendendo a privatização dos serviços da Procuradoria-Geral do Estado. Curioso é que um dos secretários tem um escritório de advocacia que absorve a parte nobre dos investimentos nacionais e estrangeiros subsidiados.
CROMO Érika, apesar do que diz o nome, não é rica, mas parece ter roubado o sol em seu corpo queimado de praia.
AFORÍSTICO Nosso governador está cada vez, quando se expressa, mais parecido com o Fala Claro do Chico Anísio encenado pelo Agildo Ribeiro.

