Luiz Geraldo Mazza
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 05 de janeiro de 2000
Luiz Geraldo Mazza
Números ruins
O Paraná sempre foi ligado em escalas numéricas para fixar os seus feitos. Dizia-se que era a quinta quando se tratava da décima comarca paulista e mais recentemente, em 1965, tivemos a badalação de Paulo Pimentel de que seríamos o segundo Estado do País. Se era utopia, por que não, desde logo, o primeiro? Isso poderia ser usado contra o governador por sua origem paulista. Pois 35 anos depois da sacada publicitária ainda estamos em segundo no sul, já que perdemos para o Rio Grande.
Temos, pois, uma tradição de fascínio por números expressivos. Alguns dos nossos economistas, especialmente os chapa-brancas do Ipardes, acham, embora não tenham elaborado um cenário nítido sobre o assunto, que superaremos logo o Rio Grande do Sul, ficaremos em quarto lugar em participação da renda interna, aproximando-se dos 7%. Em passado recente já estivemos em posição melhor do que a dos cinco últimos anos.
Não bastassem os números ruins em taxa de credibilidade, os piores de sua carreira de político encabulado (volta e meia diz que não é; vai ver que é, vai ver que é), do governador Jaime Lerner ainda mantemos posição negativa no custo de vida, figurando em segundo lugar no Brasil. O primeiríssimo é dos gaúchos, apesar dos governos petistas no estado e na Grande Porto Alegre, mesmo com a tarifa mais baixa de combustível e de transporte coletivo.
Despontando como a segunda maior taxa inflacionária dentre as capitais, a Grande Curitiba acumula 9,96% de janeiro a novembro. Porto Alegre com 10,96% é a primeira. O pior é que não se vê da parte de tanta gente, ligada em estudos estatísticos e fenômenos como o da inflação, qualquer explicação mais clara que possibilite uma reversão. É o caso de perguntar: o que os outros têm que falta à capital paranaense? Se compararmos ainda com São Paulo (7,74%) e o Rio (8,92%) a coisa se agrava.
Estamos com razoável proximidade dos centros produtores de mercadorias, temos um razoável coeficiente de abertura em nossa economia, contamos com todo o aparato mercadológico: centrais de abastecimento, rede modernérrima de super e hipermercados, invejável infraestrutura em estradas, energia e telecomunicações. Como explicar essa persistência numa posição incômoda e que parece não preocupar os especialistas?
Há algumas deformações fortes perceptíveis no fato de que em Santa Catarina se encontra maior gama de produtos locais nas gôndolas dos supermercados do que com uma comparação com os daqui. Essa contingência se agravou com as mudanças havidas na atuação do grupo português e transnacional Sonae junto aos seus fornecedores regionais, tensão ainda persistente. Mistério é que não é.
BIZARRICE
Dias passados um empresário da área de comunicação perseguiu um secretário de Estado que lhe devia algumas faturas. Perseguiu o cara como se fosse o inspetor Javert atrás de Jean Valjean. Até que se encontraram na praça da alimentação e um pão de batata e um pastel mel os aproximou.
AXIOMA Pontagrossenses que fazem temporada em Guaratuba, segundo o Rubinho Ferreira, debandam da praia se o prefeito Jocelito Canto aparecer por lá. Na cidade ele está com 75% de aprovação, mas na areia é diferente. Apesar do que disse o poeta Baudelaire de que o homem vai ao campo para reconstituir a cidade. Se assim é com o campo deve ser também com a praia.
GLOSA O jornalista Cândido Gomes Chagas (Paraná em Páginas) saiu ontem no Informe JB por ter incluído o Chico Buarque entre os piores do ano em sua revista. Chico é um mito carioca e o fato teve repercussão. Só que a revista lhe deu nota baixa por ter se recusado a receber o título de cidadania preferindo jogar pelada. Os políticos se promoveriam muito mais do que o Chico e ele, na verdade, nem foi avisado adequadamente da honraria.
SPRAY Tanto Lerner quanto Cásssio Taniguchi vão sofrer desgastes com a tal reforma do Centro Cívico, embora a vitória parcial no campo jurídico. - Crea está em cima do empreendimento e o Instituto de Arquitetos do Brasil, seção do Paraná, também se posicionou contra. O Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea) vai notificar a prefeitura. - Pior do que isso é a chegada dos carnês do IPVA e juntamente com os do IPTU. - No caso do Centro Cívico, o Crea fez uma vistoria e não encontrou engenheiro responsável pela obra. Curitiba, pelo jeito, começa a aprender com Londrina a fazer funcionar os chamados entes intermediários entre o governo e a cidadania. - A oposição teria registrado em gravações os agradecimentos de fundo político dos artistas que se apresentaram no show do Parque Barigui e que fizeram mensagens promocionais pela reeleição de Cássio Taniguchi e pretendem criar um caso na justiça eleitoral. - Em modal de transporte urbano vamos perder mais uma de São Paulo: lá se encontram em experiência diversos ônibus movidos a gás natural numa operação partilhada com instituições universitárias. - Aqui houve recuos, pois tivemos veículos até com gás metano para empresas públicas e também elétricos, isso sem falar nos ônibus municipais em teste movidos a GLP. - Outro endereço fora o do Bagual na Internet dando a lista dos deputados que votaram a antecipação do IPVA: www.paranaempaginas.com.br. É só ligar e botar a raiva pra fora.
FOLCLORE Para provar que o show do Barigui não afetou a fauna, o último a cantar foi o João Lopes, mais do que ninguém bicho do Paraná. E o cantor ainda fez um merchandising eleitoral do prefeito Cássio Taniguchi.
CROMO A garça, alvíssima, busca refazer o cenário do Atuba quando havia mais água e menos pedreira e desolação. Vôo da memória contra o tempo predador.
AFORÍSTICO Nos últimos dias o astral no Palácio Iguaçu está tão baixo que se houver notícia boa todo o mundo vai desconfiar que é mentira.