Londrina, situada no norte do Paraná, consolidou-se como um dos mais importantes polos urbanos da região sul do Brasil. Com uma população estimada de 577.318 habitantes em 2024, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade enfrenta desafios típicos das grandes metrópoles, especialmente no setor habitacional. A necessidade de habitação de interesse social tem sido uma constante ao longo da história de Londrina, e a Zona Norte da cidade se destacou como o principal palco da construção de empreendimentos voltados para essa demanda.

A história habitacional da cidade passou por diversas fases de desenvolvimento. Durante a segunda metade do século XX, um dos projetos mais emblemáticos foi a construção dos chamados "Cinco Conjuntos" ou "Cincão". Esses bairros foram criados como parte de uma grande iniciativa para atender à crescente demanda por moradia popular, sendo compostos pelos Conjuntos Habitacionais Aquiles Stenghel (1.000 unidades habitacionais), Engenheiro João Paz, Engenheiro Luiz de Sá, Semiramis Barros Braga e Sebastião de Melo César. Em 2000, a população desses conjuntos totalizava cerca de 36.000 habitantes, uma parcela significativa dos moradores da Zona Norte de Londrina.

No entanto, a cidade se expandiu muito além dos "Cinco Conjuntos", e essa evolução habitacional demonstra a complexidade da urbanização de Londrina. De acordo com os dados do IBGE, em 2000, a Zona Norte possuía uma população de 108.086 habitantes, representando 25,22% do total de Londrina, que na época somava 446.822 moradores. Com o crescimento populacional e a consequente necessidade de novas moradias, a região se desenvolveu rapidamente, tornando-se um dos principais eixos de expansão urbana da cidade.

Entre 2000 e 2010, a população de Londrina cresceu 13,34%, enquanto entre os anos 2010 e 2022 o crescimento foi de 9,72%. Esses números indicam uma desaceleração no crescimento populacional da cidade, mas ainda assim demonstram uma progressão significativa. Estima-se que, entre 2022 e 2024, a cidade tenha crescido mais 3,84%, alcançando a atual população projetada de 577.318 habitantes. Esse crescimento impacta diretamente as políticas habitacionais e a necessidade de infraestrutura adequada para comportar o aumento da população.

A urbanização acelerada de Londrina não se restringiu à Zona Norte. Outras regiões da cidade também passaram por significativas transformações habitacionais. A cidade se desenvolveu a partir de um planejamento urbano que buscou, em diferentes momentos, equilibrar a necessidade de moradia com a criação de infraestrutura urbana. Contudo, como ocorre em muitas cidades brasileiras, a questão da habitação de interesse social ainda enfrenta desafios, principalmente na oferta de moradias adequadas para a população de baixa ou ainda, sem renda.

A concentração da população na Zona Norte de Londrina também impulsionou a criação de novas centralidades urbanas. Regiões antes vistas como periféricas passaram a contar com infraestrutura própria, como centros comerciais, escolas, hospitais e serviços públicos, tornando-se polos de desenvolvimento autônomo dentro da cidade. Esse fenômeno de descentralização urbana reforça a necessidade de políticas públicas eficazes que garantam a qualidade de vida dos moradores dessas áreas.

Os desafios habitacionais de Londrina, contudo, vão além da mera construção de novas moradias. A cidade enfrenta problemas como a regularização fundiária de áreas ocupadas irregularmente, a necessidade de investimentos em infraestrutura e serviços públicos, e a garantia de acesso à moradia digna para as camadas mais vulneráveis da população. Além disso, o mercado imobiliário tem influenciado a dinâmica habitacional da cidade, muitas vezes priorizando empreendimentos de médio e alto padrão em detrimento da habitação popular.

Diante desse cenário, o planejamento urbano de Londrina precisa considerar a complexidade das demandas habitacionais e o impacto do crescimento populacional sobre a infraestrutura da cidade. Estratégias como a implementação de políticas de regularização fundiária, a ampliação do acesso ao crédito habitacional para famílias de baixa renda e a criação de projetos de habitação social em áreas com acesso a serviços básicos são fundamentais para garantir um desenvolvimento equilibrado.

Outro aspecto relevante é a sustentabilidade urbana. O crescimento desordenado pode gerar impactos ambientais e comprometer a qualidade de vida dos moradores. Assim, políticas habitacionais eficazes devem levar em conta não apenas a necessidade de novas moradias, mas também a preservação de áreas verdes, o planejamento de mobilidade urbana e o incentivo a construções sustentáveis.

Londrina, ao longo das décadas, demonstrou sua capacidade de crescimento e adaptação. A cidade, que um dia foi marcada pela construção dos "Cinco Conjuntos", hoje se apresenta como um espaço urbano dinâmico e multifacetado. No entanto, o desafio de garantir moradia digna para todos os seus habitantes ainda persiste. O futuro habitacional de Londrina depende de um planejamento urbano integrado e sustentável, capaz de equilibrar crescimento econômico, preservação ambiental e inclusão social. Assim, a cidade poderá continuar se desenvolvendo, mantendo sua identidade e garantindo qualidade de vida para seus moradores.

Luiz Cândido de Oliveira é Arquiteto e Urbanista, especialista em habitação e desenvolvimento urbano e em direito ambiental e urbanístico.