Limites e ousadias do homem
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 04 de janeiro de 2000
Limites e ousadias do homem
Silvio T. Oyama
O mundo parece afinar-se para uma nova era, um novo milênio. O povo todo parece deslumbrar-se com as novas possibilidades. Enfim, mesmo com o latejar dos ranços a serem legados ou deixados do momento atual, o homem mantém-se aquém de suas possibilidades. Materialista ou supersticioso, concebido para vencer obstáculos, vai ele predispondo-se a novas tarefas e incertos desafios. Eis o que nos revela o estipêndio do ser e a capacidade de buscar-se nos galgares da tolerância. Sobretudo, a ver da globalização e da ausência já requerida da privacidade. O mundo hoje alimenta-se de dados e informações. A própria Internet tabulou os limites do jogo virtual, pois não existem segredos a ser guardados. Somos devassados pelos chips e pela cruel internacionalização das distâncias, então sem fronteiras.
Mas, assim mesmo, o homem continua avesso às fraquezas. São fraquezas tão comuns a qualquer ente pensante. Uns toleram, outros destoleram. Só que, a despeito das limitações, o agir-se egoisticamente para si tornou-se o lema básico da sobrevivência. É um querendo impor a sua falsa necessidade, em função do dever a cumprir; é a cultura de enganar e avantajar-se, a máxima-mor dos animados espertalhões.
Embora tudo se acolha e sirva de estatísticas, todos se calam ante o clamor do silêncio, sem modéstias. Os que sabem, igualmente. Todos se igualam, desigualando-se. Criam mecanismos os mais sórdidos, nada mais que aceitáveis. Afinal de contas, a quem servimos? À sociedade mesquinha ou a nós mesmos? Enfim, somos ou não filhos de Deus?
A história em si, na trilogia do homem, revelou-nos nuances fatais. Trouxe-nos o pensar livre e os dogmas da cruel tirania. São relatos e episódios exclusivos do homo sapiens, como ser arbitrário e individualista. Um valendo-se do outro para abiscoitar louros e glórias, já que percebe-se a ausência de classes; os fracos se equiparam, se compactuam no querer ausente. Um por todos e todos por um no citar os préstimos de Alexandre Dumas, até quando? E marionetes seremos nas mãos do tirano, ora falso anfitrião. Eis a tônica da reflexão, uma reflexão consciente e desinibida.
O presépio se foi, e depressa, talvez esperando o do ano seguinte. Foram-se igualmente as tardias lembranças e outras vieram. Os ares ganham novos alentos. Vê-se o fragor de luzes no horizonte distante, a nos deparar a ratio e a mão destra no instinto animal pautando-se nos criadores. É a perfeição simbiótica da justa mãe-natureza a interagir-se no seio dos homens. Homens sábios, mas sem rumos definidos.
Nesta virada do ano, ainda de lendas e crendices, os sinos estão repicando no alto das torres. Estão ali os pecadores, de braços com o vigário. Eufemismos?! Alguém se habilita no refrão? O povo encontra-se tão próximo, embora distante, alheio aos favores da corte, quiçá inibidos. Mas os homens do poder, os eleitos, poderiam adiantar-se às desgarradas ovelhas e exporem às más ações do dia. Se dotados da verdadeira fé, certamente que farão. E deveriam. Um rebanho todo a par das vantagens mefistotélicas, espera do mar de lama a devida explicação. Uma confissão plena e sincera, jamais um coalho de mentiras. Se dependentes da situação, da qual milhares sofrem do milho derramado e do pão seco, os aclamados deuses do patrimônio alheio, deveriam dispor-se. São tanto os crentes, os dignos, os privados de recursos, todos no aguardo de uma manifestação dos que neles depositaram o resguardo da confiança, o do voto. Cresçam e façam-se, pois, os senhores da responsabilidade!
Por aí, o tempero da humandade. A forma com que os passos serão dados, ainda que desajeitados, ajustarão o termômetro do bem querer. Nem por isso, gratidões. Somente os ponteiros do relógio correndo. Contudo, sob os encaixes do duplo eme romano, o prenúncio do terceiro milênio e, antes quem sabe, um período transitório para a entrada triunfal do novo século. Os bilhões de seres humanos querem se ajustar nos limites dos poucos privilegiados; querem... Não haverá uma uniformidade na comunicação global, uma só língua, mas basta a certeza de que os fluidos negativos serão afastados, subjugados. Assim nos aguarda o ano vindouro, o ano dos limites e das esperanças do homem do amanhã. E para finalizar a tão falada quem viver, verá!
- SILVIO T. OYAMA é advogado e escritor em Londrina

