High Line é um Parque Jardim que foi implantado no centro de Nova York em 2009. O projeto recupera o espaço abandonado de uma antiga estrada de ferro que cruzava a cidade de Leste a Oeste. Tem cerca de dez quadras de extensão. Prestes a ser demolida, a histórica ferrovia elevada foi resgatada pela comunidade e transformada em um jardim suspenso. Dividido em zonas, possui decks de madeira estrategicamente distribuídos. Permitem explorar e apreciar os jardins e as vistas da linha férrea. Hoje, dez anos depois, é um dos locais mais valorizados e frequentados da metrópole.

Penso na Avenida Leste Oeste em Londrina. Foi projetada na antiga linha da Companhia Ferroviária São Paulo Paraná. Um largo canteiro foi preservado para marcar o caminho do trem. Complementava o projeto a preservação de todas as travessias de pedestres pré-existentes e uma pioneira ciclovia. Isso tudo na década de 1980.

Lembro que preservar o eixo da linha de trem como um vazio era uma das concepções principais. Incluía o trecho do pátio ferroviário. A justificativa era a possibilidade de implantação de um futuro transporte de massas. É verdade. Esse espaço livre já foi considerado desocupado, perdido, por alguns. Assim, trechos foram sendo ocupados e desocupados. Cada qual com uma justificativa da época. O uso como estacionamento felizmente foi coibido nos últimos tempos.

Refletir sobre a importância e necessidade de preservar esse eixo da estrada de ferro. Integrar os espaços livres das imediações. Transformar a Leste Oeste numa “High Line Londrinense” !

A High Line e a Leste Oeste têm algumas semelhanças. O primeiro trem cruzou a High Line em Nova York em 1933. A estação de Londrina foi inaugurada em 1935. Na década de 1970 a 80 os trens entram em declínio em ambos os casos. Mas, também, existem diferenças. Em 1983, os Estados Unidos aprovam uma lei que transforma as áreas de antigas linhas férreas em áreas de uso recreacional. Visionária, permitiu o posterior surgimento da High Line em plena Nova York.

Podemos aprender com a Leste Oeste em Londrina. Por exemplo. As praças em meia lua e quadras curvas no Bairro Shangri-lá foram resposta à Lei 133/1951, de Loteamento e Zoneamento de Londrina, a Lei Prestes Maia. Deveria existir um afastamento de quadras imediatas em relação aos trilhos. Uma alameda de curvas suaves e rampas de 2% na Leste Oeste permite ainda hoje, a um bom observador, rememorar a paisagem ferroviária.

Nesta época de distanciamento social, as cidades precisam cada vez mais de espaços livres. Lugares amplos onde o verde seja o personagem principal. Não à profusão de bancos e outros mobiliários coloridos que insistem num protagonismo que não têm. Para isso é necessário que as intervenções em espaços livres sejam mais generosas e menos compartimentadas. Precisam de espaço de respiro, contemplação e descanso, de manutenção, limpeza e segurança impecáveis. Sensibilidade em não desperdiçar espaços livres passíveis de uso em outras atividades, ao implantar ciclovias. Vislumbrar as continuidades no plantio de novas arvores.

É suficiente a grama e jardim bem tratados, o túnel verde, a história gravada em praças limítrofes, antigos barracões e chaminés, além de edificações icônicas como a antiga estação ferroviária. Os grandes protagonistas continuam sendo, todavia, as vistas e horizontes. Londrina cidade implantada num “Alto”.

Por ultimo. O projeto recente da Champs Élysées em Paris tem como proposta principal ampliar as calçadas. Reduzir, portanto, as faixas para autos. A mais bonita e famosa avenida de Paris irá restringir a circulação de automóveis. É uma solução que passou a ser frequente mundo afora.

Quantas cidades têm o potencial de Londrina. Possuir uma faixa livre contínua, de mais de cinco quilômetros de extensão, atravessando o seu centro?

Londrina rumo aos cem anos. Cidade saudável e que preserva o patrimônio.

Humberto Yamaki, Coordenador do LabPaisagem UEL