Isto é o meu corpo: a origem do Corpus Christi
Em 1263, o padre Pedro de Praga, do Sacro Império Romano-Germânico, dirigia-se em peregrinação a Roma
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sexta-feira, 27 de junho de 2025
Em 1263, o padre Pedro de Praga, do Sacro Império Romano-Germânico, dirigia-se em peregrinação a Roma
José Ruivo da Silva
Hoje a cidade de Londrina festeja o dia de seu padroeiro, o Sagrado Coração de Jesus. Como leitor da Folha há mais de 40 anos, gostaria de aproveitar a data para agradecer ao jornal pela cobertura em torno do Dia de Corpus Christi, celebrado na última quinta-feira (19 de junho) e rememorar a origem dessa festividade católica, narrando aos leitores a bela e piedosa história que nos fala sobre a presença de Jesus Cristo na Sagrada Eucaristia em corpo, sangue, alma e divindade.
Em 1263, o padre Pedro de Praga, do Sacro Império Romano-Germânico, dirigia-se em peregrinação a Roma. No coração do sacerdote, pairavam dúvidas sobre a presença real de Jesus Cristo na Eucaristia.
Ao passar pela cidade de Bólsena, o padre celebrou a missa na igreja dedicada à virgem e mártir Santa Cristina. No ato de sustentar a hóstia já consagrada para parti-la sobre o cálice, esta se converteu em carne e sangue, com exceção de um pequenino fragmento que o padre tinha entre os dedos. As gotas de sangue que se desprendiam da sagrada hóstia marcaram os corporais, assombrando o sacerdote.
Na tentativa de ocultar aquele sangue, o padre dobrou os corporais, mas em vão, porque até nas dobras dos corporais se reproduziram vinte e cinco manchas, nas quais aparece impressa a imagem do Salvador no triste aspecto com quem foi mostrado ao povo judeu por Pôncio Pilatos.
Depois de testemunhar o milagre, o sacerdote dirigiu-se então a Orvieto, onde naquele momento residia o Papa Urbano IV, e informou o pontífice sobre o que havia ocorrido. O Papa então ordenou ao bispo de Orvieto que fosse até Bólsena e dali trouxesse as sacrossantas relíquias. Chegando o bispo, na presença do clero e de uma multidão imensa de povo que havia acudido, tomou na sacristia na igreja de Santa Cristina a Hóstia adorável e os sagrados lenços tintos de sangue
e, acompanhado por sacerdotes e pelo povo, voltou a Orvieto. Ali, lançou-se aos pés do Sumo Pontífice e lhe pediu a absolvição de suas faltas, relatando a história do prodigioso sucesso.
Junto à ponte que atravessa a torrente chamada Rio Chiaro, lhe foi ao encontro o Sumo Pontífice, acompanhado do Sacro Colégio dos Cardeais, de eclesiásticos, associações religiosas, autoridades civis e militares e de uma inumerável multidão de fiéis. Profundamente inclinado e de joelhos em terra, o Papa adorou o Santíssimo Sacramento, e tomando das mãos do bispo a Sagrada Hóstia convertida em carne, assim como os Corporais manchados com o preciosíssimo Sangue de Jesus Cristo, conduziu em procissão até a cidade, entre os devotos cânticos do clero e do povo, depositando-os no sacrário da Catedral.
Foi providencial o admirável acontecimento, pois determinou ao Sumo Pontífice Urbano IV instituir em toda a Igreja Católica a festividade de Corpus Christi, que já havia algum tempo lhe era pedida pela beata Juliana, cisterciense de Liège. Essa solenidade anual foi decretada pela bula Transiturus, publicada em Orvieto no ano de 1264, e fixada para quinta-feira depois da oitava de Pentecostes. Os sagrados corporais manchados com o precioso sangue são venerados na mesma catedral, dentro de um precioso tabernáculo.
Em feliz coincidência com a data de hoje, podemos observar que a própria ciência já com comprovou a presença do Sagrado Coração de Jesus na Eucaristia: estudos liderados nos anos 70 pelo professor Odoardo Linoli, famoso anatomista italiano, comprovaram que a carne e o sangue encontrados na hóstia de Lanciano — que remonta ao século VIII — corresponde ao tecido muscular estriado, o músculo do coração.
De fato, a transubstanciação — isto é: a presença real do corpo, sangue, alma e divindade do Nosso Senhor Jesus Cristo nas espécies do pão e do vinho — é justificada pelas palavras do Senhor no fim da última ceia: “Tomai e comei todos vós: isto é o meu corpo, que será entregue por vós”.
José da Luz Ribeiro Ruivo da Silva, 95 anos, é médico, estudioso católico, irmão da Ordem Terceira de São Domingos em Lisboa e membro da Academia Londrinense de Artes, Ciências e Letras
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