Investimento como estímulo ao crescimento sustentável
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terça-feira, 06 de setembro de 2016
Economistas de diversos matizes se debruçam sobre as causas da recessão e as soluções que podem levar o País ao crescimento sustentado do PIB. Independentemente das diversas linhas de pensamento, o consenso de que é preciso muito mais do que ações pontuais ou conjunturais se fortalece. A teoria econômica e os dados empíricos no pós-guerra sugerem que o processo de rápida aceleração do crescimento experimentado por economias emergentes é raramente sustentável no longo prazo. Isso pode estar relacionado, entre outros aspectos, à falta de planejamento ou foco apenas em fatores específicos que, quando ainda abundantes, formam apenas bolhas de crescimento econômico.
O modelo de crescimento baseado no consumo utilizado pelo Brasil nos últimos anos, por exemplo, foi eficiente para inverter uma tendência de desaceleração do ciclo econômico, mas com o tempo gerou desequilíbrios estruturais na economia à medida que a ociosidade dos fatores de produção foi se exaurindo.
A implementação de uma política de crescimento econômico de longo prazo não pode prescindir de uma estratégia de recuperação da base produtiva do País, o que requer a sinalização de que há um arcabouço institucional e regulatório capaz de gerar níveis de confiança adequados à ampliação dos investimentos produtivos.
Os investimentos ampliam o potencial de crescimento de uma nação, aumentam a competitividade da economia e sustentam ciclos econômicos mais duradouros. No Brasil, após o boom ocorrido na década de 70 e alguma recuperação observada entre 2003 e 2010, essa forma de estímulo econômico tem perdido espaço na formação do PIB brasileiro.
Entre os principais componentes dos investimentos, as máquinas e equipamentos, a pesquisa e desenvolvimento (P&D) e a destinação de recursos para infraestrutura são os principais fatores que melhor explicam o crescimento da produtividade da economia, além de estimular as inversões privadas. Mas é justamente na questão da infraestrutura que a economia brasileira não apresentou evolução relevante nas últimas décadas. Desde o final dos anos 90, os números mostram que o total de investimentos públicos em infraestrutura vem patinando em torno de 2% do PIB.
A literatura econômica é pródiga de estudos que buscam definir os canais de transmissão do investimento para a economia real. Esses trabalhos apontam como os aportes em infraestrutura beneficiam as famílias com melhores condições de saneamento, água, esgoto e energia - e sinalizam às empresas o potencial dos mercados, a capacidade de racionalizar custos e obter ganhos de produtividade.
Para tentar mensurar o efeito multiplicador dos investimentos em infraestrutura sobre o crescimento da economia, uma das alternativas é uma simples análise estatística por meio da aplicação de modelos VAR (Vetor Autorregressivo). A partir dos multiplicadores estimados por essa metodologia, os resultados da simulação que efetuamos no Banco do Brasil apontam que, em média, um aumento da taxa de investimento em infraestrutura dos atuais 2% do PIB para 3% do PIB, por exemplo, tem potencial para elevar o crescimento real da economia em cerca de 1 ponto percentual ao longo dos próximos 5 anos. Da mesma forma, caso os investimentos em infraestrutura fossem ampliados para 4% do PIB, o impacto adicional sobre o crescimento do PIB seria da ordem de 2 pontos percentuais no mesmo horizonte de tempo.
Esses números revelam a necessidade de elevar o capital em infraestrutura. Por fim, e não menos importante, é o fato de que, em meio ao reduzido espaço fiscal para ampliação dos investimentos públicos, a alternativa ao País é ampliar os estímulos ao investimento privado, via concessões ou outro arranjo contratual que amplie o interesse das empresas locais ou internacionais. Oportunidades não faltam.
ÉLCIO GOMES ROCHA é economista-chefe do Banco do Brasil
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