Em meio à maior catástrofe climática já registrada no Brasil, com o Rio Grande do Sul enfrentando uma situação sem precedentes, a necessidade de repensarmos nossas estratégias de adaptação às mudanças climáticas torna-se mais urgente do que nunca. Londrina vive um momento relevante para definir seu futuro ambiental e climático. A discussão sobre a revisão do Código Ambiental Municipal e a iminente elaboração de planos municipais como o de Conservação e Restauração da Mata Atlântica e de Mitigação e Adaptação Climática são passos fundamentais nesse processo.

Os dias atuais exigem ir além da redução da emissão de gases de efeito estufa. As infraestruturas verdes e as soluções baseadas na natureza surgem como respostas vitais aos desafios climáticos, promovendo a melhoria da qualidade do ar, o aumento da biodiversidade, a regulação térmica urbana e a prevenção de enchentes.

As florestas urbanas, componentes essenciais das infraestruturas verdes, desempenham um papel de destaque na melhoria da qualidade de vida nas cidades. Elas contribuem para a regulação do clima local, reduzindo o efeito de "ilha de calor", melhorando a qualidade do ar e oferecendo refúgio para a biodiversidade local. A preservação e expansão dessas áreas verdes urbanas são fundamentais para a construção de uma cidade mais resiliente e adaptada às realidades climáticas futuras.

As Soluções Baseadas na Natureza (SbN) se referem a ações e intervenções que usam processos naturais para resolver desafios ambientais e sociais. Essas soluções incluem a restauração de ecossistemas degradados, renaturalização de rios e córregos, práticas agrícolas sustentáveis, agricultura urbana e soluções construtivas como áreas permeáveis e reaproveitamento da água da chuva. Ao promover a coexistência harmoniosa na natureza, as SbN oferecem uma abordagem eficaz para amenizar os impactos das mudanças climáticas.

Londrina é privilegiada por ter muitos fundos de vale relativamente protegidos, o que contribui para evitar enchentes e regular o clima na cidade, e tem uma oportunidade única de se tornar um modelo regional de sustentabilidade e resiliência climática. A implementação de infraestruturas verdes, como parques e florestas urbanas, corredores ecológicos, telhados verdes, e a adoção de SbN, são essenciais para um futuro sustentável e resiliente.

A situação no Rio Grande do Sul serve como um lembrete sombrio do que pode acontecer quando não estamos preparados para enfrentar os extremos climáticos. Embora distante geograficamente dessa tragédia, Londrina não está imune aos efeitos das mudanças climáticas. A frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, como secas, tempestades e ondas de calor, já afetam nossa região e tendem a aumentar.

Londrina tem até uma Lei que trata de Soluções Baseadas na Natureza e um projeto usando essa tecnologia foi implantado no Lago Cabrinha, recentemente, numa parceria da prefeitura de Londrina com o ICLEI América do Sul. Nesse caso, em vez das convencionais obras acinzentadas de concreto, um conjunto de pedras foram utilizadas para reduzir a força da água e evitar a erosão do solo, junto a plantas que ajudam a purificar a água e facilitam a função ecológica e paisagística do local.

Neste momento decisivo, os vereadores de Londrina têm a oportunidade única de aprovar um Código Ambiental moderno, estabelecendo um marco da resiliência climática em nossa cidade. Além disso, parlamentares estaduais e federais podem destinar emendas para a criação de novos parques, restauração de florestas e elaboração de planos estratégicos ambientais nos seus municípios de origem. O momento de agir é agora: infraestruturas verdes e soluções baseadas na natureza esperam por nosso compromisso e ação.

Gustavo Góes, gestor ambiental, assessor executivo da Secretaria Municipal do Ambiente e Conselheiro Municipal do Meio Ambiente de Londrina.

Olívia Orquiza, arquiteta e urbanista, professora da UEL e Conselheira Municipal de Planejamento e Gestão Territorial.