Inês Belanson, a nova cidadã de Cambé
Ela faz questão de explicar que ninguém faz nada sozinho. Agradece o apoio e a generosidade dos demais voluntários
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sexta-feira, 31 de março de 2023
Ela faz questão de explicar que ninguém faz nada sozinho. Agradece o apoio e a generosidade dos demais voluntários
Edinelson Alves
“Todos aqueles que se doam, mesmo que um pouco de si pelo bem, estão semeando flores. Cada gesto uma semente, cada semente uma flor. Se todos nós imitássemos, faríamos da terra em que vivemos, em pouco tempo, um grande jardim”. Essa frase atribuída a irmã Dulce resume a trajetória de vida de Maria Inês Madalosso Belanson, que em novembro de 2019 recebeu a “Moção Honrosa” por iniciativa do saudoso vereador Nilson da Bahia, e que na segunda-feira (27) foi homenageada no mesmo plenário com o título de “Cidadã Honorária” de Cambé, indicação do vereador Jota Mattos. Natural de Sabáudia, desde 1988 Inês adotou Cambé como “cidade do coração”. Líder comunitária, por 13 anos ela foi presidente da Associação de Moradores do Jardim Tupi, onde tem feito do trabalho voluntário o seu sacerdócio.
Até 2001 Inês tinha uma vida normal. Três filhos, casada com João Belanson, a quem define como um fervoroso cristão com forte atuação na Igreja Católica, a família comemorava o nascimento da neta e a transferência a trabalho do filho Hugo para Presidente Prudente (SP). E justamente no dia 15 de julho daquele ano, às 11 horas da manhã, o caminhão que transportava a mudança de Hugo sofreu um grave acidente. Após passar por cirurgias, 12 horas depois Hugo faleceu. E João, que chegou a ser dado como morto pelos médicos – conforme conta Inês – “sobreviveu graças as orações”, mas mergulhou num estado de coma profundo.
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Para salvar a vida do marido, Inês impediu que os médicos desligassem os aparelhos. Posteriormente, o acompanhou para tratamento no Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, e depois, a cada três meses, o levava a São Paulo no Hospital Ortopédico AACD onde, novamente, foi aconselhada pelos médicos a desistir, pois o estado do seu marido era irreversível. A espera de um milagre, ela insistiu, mesmo com ele apenas piscando os olhos. O diálogo entre eles era estabelecido pelas lágrimas: quando ela chorava, ele chorava também. Esse gesto de amor, companheirismo e cumplicidade durou 10,3 anos, até o derradeiro descanso de João.
Em casos de perdas dramáticas como essa (ela estava num veículo menor acompanhando o caminhão de mudança, e ajudou a procurar o corpo do marido e também do filho - ambos foram jogados para longe), muitas pessoas entram em profunda depressão, e começam a se perguntar “por que isso aconteceu comigo”? Mas Inês, mesmo após a perda do filho e com o marido em coma, mesmo vivendo das cestas básicas doadas pelos Vicentinos, teve forças para criar, em 2007, o Projeto “Acamados Mais Amados” para socorrer outros pacientes e familiares de Cambé que também sofriam como ela. Ao longo desses anos, mais de mil famílias foram atendidas com cestas básicas, fraldas geriátricas, encaminhamentos nas áreas de saúde e social, distribuição de marmitas, além de muitas outras ações.
Ela faz questão de explicar que ninguém faz nada sozinho. Agradece o grande apoio dos demais voluntários e também a generosidade dos muitos doadores que sempre ajudam as famílias atendidas pelo Projeto “Acamados Mais Amados”. Baseada na sua experiência de líder voluntária de tempo integral, ela dá o seguinte conselho: “Se você ficar apenas ouvindo o que a televisão e as mídias sociais dizem, parece que nada mais tem jeito porque só falam de coisas ruins. As coisas boas que acontecem, essas não recebem o devido destaque. Mas eu digo que o mundo tem jeito e pode ser muito melhor. O importante é que cada um faça a sua parte, ajude a consertar o que está errado e assim tudo vai melhorar”.
Sobre como conseguiu enfrentar tantas adversidades e ainda ajudar outras pessoas, Inês responde: “É como aquela música `Força Estranha´ do Roberto Carlos. Com meu filho morto, o meu marido em coma, uma neta de 20 dias e minha nora abalada emocionalmente, Deus me deu forças para permanecer em pé. Procuro a cada dia segurar bem forte na mão do meu Criador e Salvador e seguir em frente. Já perdi mais de 20 familiares em acidentes de veículos, afogamentos e até suicídio. Mesmo com tudo isso eu me sinto uma agraciada. Sei que Deus é amor e Ele é muito bom. E eu sempre digo para as pessoas, com toda certeza, eu sou uma pessoa feliz e vou sempre procurar ajudar o meu próximo naquilo que for possível”.
Edinelson Alves, jornalista
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