Quem não se lembra da hora do recreio em seu tempo de escola?

Muitos têm boas lembranças. Para outros são as melhores lembranças da escola. Mas há também os que sofreram muito durante o recreio. Já havia bullying, antigamente...

Ao retirar o recreio das escolas, a Secretaria da Educação de Ibiporã não imaginou o vespeiro em que estava entrando. Pois, mesmo sem argumentos pedagógicos, a intuição, o bom-senso, o peso da tradição, levaram os pais a agir rigorosamente. (Não se mexe em tradições impunemente).

Eu acho o recreio tão natural, tão profundamente enraizado, que tive que pensar duas vezes para justificar o valor do recreio com argumentos das ciências ligadas à educação.

Então, vamos lá...

O princípio básico da Educação escolar ou familiar – não importam a filosofia educacional, ou os métodos de ensino – é que “educar é auxiliar, ampliar o desenvolvimento natural da criança e do (a) adolescente”.

Às vezes, esquecemos que criança e adolescente são natureza, são guiados pela natureza. Contrariar essa natureza humana é tão sério quanto o problema do aquecimento global causado à natureza física.

Faz parte da natureza do estudante ter um limite em seu tempo de atenção focada, secularmente, os 50 minutos de aula. Depois desse tempo, é necessário mudar o assunto.

Mas, após duas a três aulas, o corpo todo reclama. É preciso levantar-se, sair da sala. Muitos querem brincar, correr, jogar bola, movimentar-se.

A natureza social dos (as) alunos (as) ajuda a “relaxar o cérebro” jogando conversa, fora desenvolvendo laços de amizade. Sempre que questionei alunos (as) sobre o que mais os atraía à escola, geralmente, a resposta era: os (as) amigos (as).

No meio do período de aula, as necessidades fisiológicas também devem ser satisfeitas: é hora de ir ao banheiro, de tomar água. A fome também bate nesse horário. Fazer o lanche na hora da entrada e ficar quatro horas sem comer, como propôs a secretaria, não corresponde às necessidades nutricionais do (a) aluno (a).

Quase todas essas necessidades da natureza dos (as) estudantes valem para os (as) professores (as). Afinal, professor também é gente!

Mas, se o argumento da secretaria é que os (as) alunos (as) entram para as aulas tão agitados, perdendo muito tempo das próximas aulas para se organizar, qual é a solução que a educação da natureza do (a) aluno (a) nos propõe?

No meu tempo de estudante (há muito tempo), o autoritarismo resolvia o problema; e, a escola não era para todos.

O desafio de educar, com qualidade, a todas as crianças e adolescentes, não deixando ninguém de fora, é uma evolução muito grande na história da educação. Conhecer somente as matérias que leciona não habilita o (a) professor (a) a resolver os problemas da escola de hoje.

O caminho do (a) professor (a) é mais complexo: é se aprofundar em todas as áreas ligadas às descobertas científicas sobre o desenvolvimento natural do ser humano de hoje nas áreas cognitiva, social, afetiva, moral, física, espiritual (não é religião). A partir dos conhecimentos, os (as) educadores (as) vão encontrando soluções, (mesmo que por ensaio e erro) para resolver os problemas educacionais – que são o dia-a-dia escolar.

Volto a afirmar: não controlar o recreio é o problema. Eliminar o recreio não é solução, é negação. A solução é mais complexa, exige estudo sobre o desenvolvimento natural do (a) aluno (a), e atitudes que auxiliem esse desenvolvimento a atingir um novo patamar.

Luiza L. C. e Silva, professora