Habitação de interesse social
A população invisível e os impactos socioambientais nas cidades em rápido crescimento
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 11 de março de 2025
A população invisível e os impactos socioambientais nas cidades em rápido crescimento
Luiz Cândido de Oliveira

O crescimento acelerado das cidades brasileiras tem levado à formação de assentamentos informais em áreas ambientalmente vulneráveis e socialmente marginalizadas. Esse fenômeno, resultado da deficiência no planejamento urbano e da falta de políticas habitacionais adequadas, gera impactos socioambientais significativos.
A "população invisível" - famílias de baixa renda ou sem renda - vive em condições precárias, sem acesso a serviços básicos, aprofundando desigualdades. A urbanização descontrolada decorre da migração campo-cidade, desemprego e altos custos de aluguéis. Em cidades como Londrina (PR), assentamentos irregulares avançam sobre áreas de preservação, comprometendo recursos hídricos e a qualidade ambiental. A ocupação do Córrego Sem Dúvida, por exemplo, causa impermeabilização do solo, desmatamento e contaminação da água.
A falta de saneamento básico agrava as condições sanitárias, aumentando riscos à saúde pública. Essa população vive à margem do planejamento urbano, excluída de políticas públicas efetivas. Muitos trabalham em serviços essenciais, mas não têm garantias básicas de cidadania. Durante a pandemia de COVID-19, as condições precárias dificultaram a adoção de medidas sanitárias, ampliando a propagação do vírus.
O planejamento urbano deve integrar essas comunidades ao tecido formal da cidade, reduzindo impactos socioambientais. Geotecnologias, como sensoriamento remoto e geoprocessamento, podem monitorar ocupações irregulares e propor medidas de ordenamento territorial mais eficazes. A regularização fundiária urbana de interesse social (REURB-S) e a provisão de infraestrutura básica são passos fundamentais para reduzir desigualdades.
A gestão pública precisa adotar estratégias participativas, envolvendo as comunidades na formulação de soluções habitacionais e ambientais. Políticas como o Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.257/2001) e o Plano Diretor são valiosas, mas sua implementação enfrenta desafios. A valorização da economia local, a melhoria dos serviços de saúde e educação, e a promoção de moradia digna são essenciais para transformar a realidade dessas comunidades. A urbanização inclusiva deve ser prioridade, garantindo crescimento planejado e sustentável. Soluções padronizadas devem ser evitadas, respeitando as particularidades de cada território e promovendo intervenções que fortaleçam os laços comunitários e garantam moradia digna.
Os desafios das cidades em rápido crescimento exigem medidas inovadoras e inclusivas. A integração de tecnologias de monitoramento, o fortalecimento da gestão ambiental e a implementação de políticas habitacionais adequadas podem reverter danos socioambientais e resgatar a cidadania da população invisível. É necessário um compromisso coletivo para promover cidades mais justas, sustentáveis e humanas.
Programas de habitação de interesse social, sustentáveis e acessíveis, devem ser ampliados, com subsídios para aluguel social e financiamentos habitacionais mais acessíveis. Investimentos em infraestrutura verde, como parques lineares e sistemas de drenagem sustentável, ajudam a minimizar impactos ambientais.
A participação da sociedade civil e das universidades é essencial para soluções inovadoras. O fortalecimento da gestão ambiental e a educação ambiental são passos importantes para conscientizar as comunidades sobre a preservação dos recursos naturais e práticas sustentáveis. A questão da população invisível deve ser tratada com seriedade, promovendo cidades inclusivas e justas.
A colaboração entre setores público, privado e sociedade civil é indispensável para soluções que garantam sustentabilidade ambiental, equidade social e melhoria da qualidade de vida. Parcerias entre governos, ONGs e universidades são essenciais para promover pesquisas e soluções inovadoras. Somente com um compromisso coletivo será possível reverter a situação atual, garantindo um futuro mais justo, equitativo e inclusivo para toda cidade.
Luiz Cândido de Oliveira, arquiteto e urbanista, especialista em Habitação e Desenvolvimento Urbano e em Direito Ambiental e Urbanístico, mestrando em Engenharia Ambiental pela UTFPR Londrina

