Com o ataque (criminoso) deflagrado pelo hamas aos civis de Israel, os jornalões familiares (frias + mesquita + civita + marinho) reativaram o modo "quintal estadunidense" e, engajados, estão analisando o lanço em si e não a "Questão Palestina" feito um todo.

Os cavaleiros do apocalipse, enquanto arautos dos interesses estadunidense (alinhado com Israel), estão se esforçando feito contorcionista encurtado na modelagem de uma situação pontual (não é jorge?), desconhecendo o que vem desde o pós-guerra e, nessa medida, ignorando a agonia do povo Palestino.

A estética de isolar o ataque do hamas em geopolítica não é senão um evento (trágico e criminoso) que não autoriza um mergulho mais profundo, mas serve ao interesse dos jornalões.

O alinhamento da imprensa familiar brasileira ao interesse norte-americano é antigo feito a noite e projeta um não jornalismo que aplaude fake news por aqui, desde que seja do interesse do dono do modo de produção. Por este viés a história vem sendo desconsiderada.

Assim é que qualquer estudante de jornalismo sabe que o ataque do hamas é fruto da ‘Questão Palestina’ em sí, e ele emerge feito signo com a criação do Estado de Israel em 1948.

A "Questão Palestina" alinha uma hipótese religiosa que é feita em cortina de fumaça sobre o sistêmico desrespeito às normas de direito internacional que Israel teima em desconhecer – no ponto a Resolução 181 do Alto Comissariado da ONU, de 1947, recomendando a criação de dois estados (árabe e judeu) independentes, com uma Jerusalém internacionalizada. Na prática isso jamais funcionou.

Desde 1948 Israel avança fronteiras sobre áreas palestinas, em um movimento político expansionista que não convola qualquer elemento religioso, elidindo a justificativa cenobítica, ao tempo em que impede a "vero independência" da Palestina.

É, portanto, a reiteração sistêmica do desrespeito à soberania do povo Palestino, pelos governos de extrema direita de Israel, que impede os Palestinos de se autodeterminarem enquanto estado. Eis, em poucas palavras, o que se dessume da "Questão Palestina’".

Noves fora o que as circunstâncias desenham sobre a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, o que não cala é o alcance com que o homem vem medindo a vida, naquilo que a constituição de um governo de extrema direita em Israel seria tão improvável quanto estúpido.

A crítica necessária à extrema direita (nazi-fascismo) não se comunica ao povo que governa. Seja porque viver segue sendo complexo e extravagante (a um só tempo); seja porquanto atos de estado não entram na conta da população – não fora assim o povo alemão seria coautor do nazismo.

O inquestionável alinhamento estadunidense com Israel está recepcionado em recente relatório do Congresso norte-americano (publicado em março de 2023), onde se contabiliza o aporte de aproximadamente US$260 bilhões em Israel – sendo metade em "auxílio militar" – desde o final da segunda grande guerra.

Para além do suporte financeiro, enquanto membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, tio Sam faz uso reiterado de seu poder de veto para barrar qualquer admoestação à Israel, por suas sucessivas investidas ocupacionais ao território autônomo dos Palestinos. São mais de oitenta vetos norte-americanos ao longo dos últimos setenta anos e, em geral, constituem-se em votos únicos.

Por aqui a imprensa familiar brasileira, feito cachorro que busca à quem abanar o rabo, teima em seguir o alinhamento estadunidense israelita e, nesse sentido, segue desconhecendo a reiteração das investidas expansionistas de Israel ao território Palestino.

Em decorrência de seu abandono pela zona de proteção do direito internacional, a Palestina anunciou ao mundo a sua independência, pela ação da OLP (Organização pela Libertação da Palestina) em 1988 e, via imediata de seu novo status, passou a reivindicar as áreas, então e desde a Guerra dos Seis Dias em 1967, ocupadas por Israel.

Essa reivindicação (justa e legítima) jamais conjugou um qualquer viés de pacificação e os Palestinos seguem existindo sem a devida consideração da comunidade internacional.

Trata-se de um conflito geopolítico com a violação sistemática do direito internacional e dos direitos humanos dos Palestinos. Não se trata de contrapor lados (judeus, cristãos e muçulmanos), ainda que variáveis religiosas estejam presentes.

A questão é, pois, o colonialismo expansionista de Israel e seus reflexos remontam a 1917, com o expansionismo do pensamento sionista sobre os húngaros e tchecos.

Esse é o berço, aliás, do nacionalismo judaico, naquilo que ao propor a erradicação de sua Diáspora, o sionismo conclamou o retorno dos judeus que se espraiaram pelo mundo ao atual estado de Israel, opondo-se à assimilação de sua cultura pelas sociedades em que vivem.

É esse pensamento que projeta um nacionalismo exangue e que vê no Palestino alguém que é estranho à região onde a terra seria santificada.

Tristes trópicos, onde desconhecer história autoriza acreditar em qualquer narrativa que venda um interesse forte o bastante para comprar uma versão estereotipada dos fatos.

João dos Santos Gomes Filho, advogado

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