A adoção do sistema “free flow” na PR-445 e na BR-369, prevista para a nova concessão das rodovias nos lotes que cortam a região de Londrina, marca um avanço na modernização da cobrança de pedágios. Essa tecnologia, já utilizada na Europa e nos Estados Unidos, além de ter sido adotada recentemente na Rodovia Rio-Santos, no Rio de Janeiro, elimina as tradicionais praças de pedágio, substituindo-as por pórticos equipados com sensores que calculam a tarifa com base na quilometragem percorrida. A medida promete maior fluidez no tráfego, redução de congestionamentos e um processo de pagamento mais ágil e automatizado.

Apesar dos benefícios, a falta de regras claras para a isenção de usuários frequentes em áreas metropolitanas tem gerado grande preocupação. Em entrevista à FOLHA, prefeitos, deputados estaduais e representantes do setor produtivo temem que a cobrança indiscriminada impacte diretamente os moradores que utilizam essas rodovias diariamente para trabalhar, estudar e acessar serviços essenciais. A reportagem publicada nesta segunda-feira (3) mostra que a ausência de uma diferenciação entre deslocamentos locais e viagens intermunicipais pode penalizar motoristas que não têm alternativa viária, criando um custo adicional injusto para quem depende das rodovias para sua rotina.

A Assembleia Legislativa do Paraná encaminhou um ofício à ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) pedindo regras mais transparentes e a criação de critérios para garantir isenções a moradores de áreas impactadas pelo pedágio. A proposta inclui a delimitação de um raio mínimo de 30 quilômetros para isentar motoristas que trafegam dentro da região metropolitana. Além disso, o deputado Tercílio Turini apresentou um projeto de lei na Assembleia Legislativa para proibir a cobrança do free flow em trechos urbanos no Paraná, uma medida que pode trazer maior segurança jurídica para os motoristas e evitar prejuízos desnecessários.

As prefeituras da região também começam a se mobilizar contra uma cobrança desproporcional. A Amepar (Associação dos Municípios do Médio Paranapanema) já colocou o tema em pauta, destacando o impacto sobre os milhares de moradores que transitam entre cidades vizinhas diariamente. Um exemplo concreto vem da Amusep (Associação dos Municípios do Setentrião Paranaense), que já questionou a ANTT sobre os efeitos negativos do modelo na região de Maringá, onde deslocamentos curtos dentro da área metropolitana podem gerar tarifas excessivas.

O setor produtivo também manifesta preocupação. A Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina) alerta que a tarifação excessiva pode encarecer produtos e serviços, elevando o custo de vida e prejudicando o comércio local. Para empresários e produtores rurais, a cobrança sem critérios adequados pode afetar a competitividade econômica da região, desestimulando investimentos e dificultando a logística do transporte de mercadorias. O pedágio deve servir como uma ferramenta para melhorar a infraestrutura rodoviária, mas não pode se tornar um obstáculo ao desenvolvimento regional.

A modernização do sistema de pedágio é bem-vinda, pois traz eficiência e segurança ao tráfego. No entanto, sua implementação precisa ser justa e equilibrada. O free flow não pode transformar os trechos urbanos e metropolitanos das rodovias em barreiras financeiras para a população local. É essencial que o governo, a ANTT e as concessionárias adotem regras transparentes e diferenciadas para usuários frequentes, garantindo que a inovação tecnológica não se torne um peso para quem mais depende dessas vias, a exemplo do que ocorreu no contrato anterior do Anel de Integração do Paraná.

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