Chegamos ao final do ano e os convites para happy hour, festa da empresa e eventos de confraternização se multiplicam. Algo comum nessas ocasiões e que não costuma faltar é a bebida alcoólica. O uso de álcool faz parte da cultura humana há milhares de anos e é bastante aceito socialmente, principalmente nas festividades. Mas, como médico, devo advertir: é preciso atentar para os exageros, principalmente quando o consumo é feito de forma mais frequente e com maior intensidade, o que não é raro nessa época de comemorações.

Uma dúvida recorrente é identificar quando a ingestão de álcool ultrapassa a moderação. E o primeiro alerta é que não adianta não beber a semana inteira e exceder em uma única ocasião. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), existe um padrão de consumo perigoso que pode acarretar problemas e riscos à saúde, chamado Beber Pesado Episódico (BPE) ou binge drinking. Ele é caracterizado pela ingestão de cinco ou mais doses por homens, e por quatro ou mais doses por mulheres, num período de duas horas. Nesse caso, uma dose padrão de álcool equivale a 350 ml de cerveja/chopp, ou 150 ml de vinho ou 45 ml de destilado.

Esse comportamento é mais comum do que se imagina. Aliás, como alertou a publicação Álcool e a Saúde dos Brasileiros – Panorama 2019, esse padrão entre os brasileiros aumentou de 12,7% em 2010 para 19,4% em 2016. Isso gera grande preocupação para a saúde pública, ainda mais no contexto da meta proposta pela OMS, de redução em 10% do uso nocivo de álcool até 2025, o que inclui o BPE.

Ultrapassar esses limites, além de possivelmente acabar com a comemoração, pode também ocasionar outras consequências – seja uma ressaca, amnésia alcoólica ou, pior, expor o indivíduo a situações perigosas, como envolvimento em brigas, acidentes de trânsito, sexo desprotegido e até afogamentos. Por isso, inclusive, cabe uma advertência: existem situações em que a ingestão de álcool deve ser zero, como para pessoas com dependência de álcool; ou, ainda, gestantes, menores de 18 anos de idade e motoristas.

Para quem decidir beber, uma orientação importante é alimentar-se bem, para proporcionar uma absorção do álcool mais lenta. Procure também intercalar as doses de álcool com água ou outra bebida não alcoólica. Não tenha pressa: beba devagar, pois a velocidade de consumo também impacta os efeitos do álcool no organismo. Outra recomendação clássica é não dirigir, se bebeu. Mesmo em pequenas quantidades, o álcool é capaz de alterar os reflexos e aumentar o tempo de reação. Deixe o carro em casa!

Os amigos também têm um papel importante. Respeite a decisão de quem optou por não beber, não insista. Inclusive, tem crescido o número de pessoas que preferem não consumir álcool. No outro extremo, dê um toque para quem estiver bebendo além da conta. Peça uma bebida não alcoólica ou um petisco para essa pessoa e evite que ela dirija. São atitudes protetivas!

Lembre-se: estamos numa época convidativa à confraternização e que deve ser curtida com consciência. Da mesma forma que uma dieta equilibrada e a prática regular de atividade física fazem parte de hábitos saudáveis, o consumo de álcool deve ser muito ponderado, para que não haja riscos à saúde. Portanto, comemore bastante as conquistas de mais um ano, mas não exagere: faça escolhas saudáveis!

Arthur Guerra, psiquiatra e presidente executivo do CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool