Fechamento de estradas e falta de manutenção afastam investimentos
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quinta-feira, 23 de março de 2023
Adam Patterson
Os constantes bloqueios registrados nas rodovias brasileiras devido ao excesso de chuvas e deslizamentos de terras têm causado muitos prejuízos à população e à economia de uma forma geral. Mas a falta de manutenção na infraestrutura logística e a demora do poder público para solucionar este problema podem impactar negativamente a atração de investimentos estrangeiros ao Brasil.
As atuais condições das rodovias encarecem a logística e, consequentemente, toda a cadeia produtiva. Isso eleva o custo para novas empresas que queiram se fixar no país, podendo afastar os investimentos internacionais em Fusões e Aquisições (M&A), que tendem a priorizar outros mercados, onde haja mais estrutura para o escoamento da produção.
Na BR-277, por exemplo, entre Curitiba e Paranaguá, a instabilidade da encosta bloqueia parcialmente a pista há cinco meses. No início de março, no entanto, a situação piorou com o afundamento da pista em dois pontos distintos da rodovia após fortes chuvas atingirem a região, chegando a ficar totalmente bloqueada no sentido litoral por alguns momentos. De acordo com uma estimativa da Federação das Empresas de Transportes do Paraná (Fetranspar) o prejuízo acumulado no setor chega a R$ 100 milhões desde outubro.
Lembrando que a rodovia é a principal ligação ao Porto de Paranaguá, o segundo maior em movimentação de cargas do Brasil, atrás apenas de Santos (SP). Com o transporte mais lento e sem perspectivas de liberação total da rodovia, muitos produtores estão direcionando suas cargas para o porto de Santos, o que encarece os custos com o transporte. Segundo um estudo realizado pela Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), o prejuízo para o escoamento da soja produzida no estado pode ultrapassar R$ 600 milhões com essa mudança no itinerário.
E situações como essas influenciam negativamente o ambiente de negócios no Brasil e elevam o chamado Custo Brasil, conjunto de fatores que dificultam a operação comercial de empresas como a infraestrutura, legislação e tributos. E o custo de logística no Brasil já soma mais de 13% do PIB, contra 8% nos Estados Unidos, por exemplo.
Vale lembrar que no relatório de competitividade global do Banco Mundial de 2019-2020, o Brasil ocupava a 56ª posição no ranking entre 160 nações, no segmento de logística, atrás de países como México, Chile e África do Sul. É um dado preocupante, uma vez que a matriz ‘infraestrutura’ tem um forte impacto na atração de capital.
A infraestrutura inadequada é uma das principais barreiras para o crescimento econômico do Brasil. A extensão da rede rodoviária, juntamente com a eficácia do sistema portuário e o tempo de espera dos contêineres, por exemplo, tem implicações diretas na entrega pontual e econômica de mercadorias. Por isso, o investimento em infraestrutura de qualidade é essencial para promover o crescimento sustentável, construir riqueza e melhorar o bem-estar da população.
A pergunta que fica é: para um investidor internacional olhando para oportunidades no setor de agro, comércio internacional ou na indústria em geral, se deveria investir no Brasil onde tem problemas agudos na infraestrutura ou em outro mercado com melhor qualidade dos ativos de transporte? Afinal, o Brasil é um país continental e a facilidade de deslocamento e transporte de bens é fundamental para uma operação sustentável e rentável. O maior risco, no entanto, está a médio prazo, se estes problemas não começarem a ser resolvidos agora.
Adam Patterson, economista e sócio da Redirection International (consultoria especializada em fusões e aquisições)

