Estradas perigosas

Renan Calheiros
A insegurança pública é hoje um dos temas, além do desemprego, que mais angustiam a sociedade e vai conduzindo o Brasil para o 4º mundo. A taxa de criminalidade é intolerável, a impunidade vergonhosa e a tíbia ação do Estado, aí compreendidas todas as esferas (União, Estados e municípios), é preocupante.
Dentro deste cenário semibárbaro, o crime organizado cresce assustadoramente no setor de transporte de cargas e passageiros. A incidência criminosa nas estradas brasileiras está crescendo à razão de 30% ao ano. Nos últimos cinco anos, o número de roubos e furtos de cargas praticamente duplicou, passando de 2.500 casos em 1994 para 4.970 ocorrências em 1999.
Além de uma ameaça à propriedade, à integridade física de milhões de pessoas que trafegam por nossas rodovias, é um fator que ajuda a elevar o chamado custo Brasil. O roubo de carga, há cinco anos, representava 3,5% do faturamento das empresas, hoje está em 12%, o que significa seguros mais caros e o repasse dos custos ao consumidor. Afinal, 62% das cargas transportadas no Brasil o são por via terrestre.
Ainda no Ministério da Justiça tive a oportunidade de lançar o Programa de Segurança nas Estradas, com ações de curto, médio e longo prazo. Infelizmente o programa não teve continuidade. O reforço do policiamento em 90 pontos considerados críticos, em poucos meses, reduziu o número de ocorrências. A Polícia Rodoviária teve sua frota e equipamentos completamente renovados, mas os passos seguintes do programa foram esquecidos.
O Congresso acaba de criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar e propor soluções para coibir a atuação das quadrilhas de roubo de cargas. A CPI é, sem dúvida, oportuna e, além de apurar as óbvias conexões com o narcotráfico, contrabando de armas e tráfico de menores, irá saber apontar as providências para inibir e punir rigorosamente os piratas rodoviários.
É uma iniciativa congressual que procura suprir a tímida atuação do Estado no combate ao crime organizado. Hoje, nada mais, nada menos do que 95% dos roubos acontecem em rodovias estaduais e próximos a centros urbanos. São Paulo e Rio de Janeiro respondem por 78% do total de cargas roubadas e as rodovias federais acabam servindo de rota de fuga. Estes dados evidenciam a necessidade de uma integração entre os níveis de poder para combater este tipo de crime.
Mas não só o Estado – responsável pela segurança – deve se empenhar na solução deste problema. As empresas transportadoras, as seguradoras e todos os setores envolvidos deverão dar sua contribuição para tentarmos apagar mais este triste índice nacional, especialmente na aquisição de novas tecnologias. Neste setor específico, o crime organizado pode estar anulando os benefícios obtidos com a modernização de nossa malha rodoviária e com as privatizações.
- RENAN CALHEIROS é senador pelo PMDB-AL e ex-ministro da Justiça