Não é novidade que o governo do presidente Jair Bolsonaro vem desafiando os limites do Estado laico. Entenda-se, com isso, que há uma grande tendência em colocar de lado a neutralidade em assuntos religiosos, o que não parece ser um problema para boa parte dos brasileiros que votaram em Bolsonaro. Afinal, ele se elegeu com forte apoio da comunidade evangélica e defendendo a “tradição judaico-cristã”.

Ocorre que Bolsonaro é presidente de todos os brasileiros e a Constituição assegura, em seu atrigo 5º, inciso VI, a liberdade de crença a todos os cidadãos brasileiros e estrangeiros que vivem no território nacional. Enquanto Estado laico, fica garantida a desagregação da religião e seus valores sobre os atos governamentais. E no Brasil, o que não falta é a pluralidade de crenças e valores convivendo em conjunto. Como em toda democracia, o que se espera é que essa convivência seja harmoniosa e respeitosa. Por isso, a importância de que o princípio da laicidade não fique apenas na “teoria”, pois é uma ferramente essencial para a preservação da democracia e dos direitos individuais e coletivos.

Lembrar o governo da importância desse princípio é papel da sociedade. Desde que tomou posse, em 1º de janeiro, o presidente brasileiro, católico, mas batizado no Rio Jordão em 2016, vem se colocando em algumas situações polêmicas envolvendo temas religiosos. Assim que o resultado das urnas foi relevado, a primeira-dama, Michele Bolsonaro, evangélica, demonstrou o desejo de retirar obras de arte de simbologia católica e de candomblé da residência oficial, em Brasília. Ideia que encontrou muita resistência.

Na última terça-feira (21), o presidente participou do Ato de Consagração do Brasil ao Imaculado Coração de Maria. Com a cerimônia, o Palácio do Planalto atendeu a pedido do deputado e cantor gospel Eros Biondini, do PROS de Minas Gerais, representando grupos católicos.

O que se questiona aqui não é o ato da consagração, reconhecendo a importância do significado dela para a comunidade católica, mesmo considerando que em 1942 o Papa Pio XII já havia consagrado todo o mundo ao Imaculado Coração de Maria. A questão é que a cerimônia de consagração foi além da fé cristã e enquanto a #OrePeloBrasil ficou entre as hashtags mais comentadas no twitter, muita gente viu no ato a oportunidade de criticar o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional.

O momento é para buscar união entre os Poderes em prol de um tema tão comentado nos últimos dias, a governabilidade. E isso não será alcançado agradando apenas parte do eleitorado e abrindo concessões conforme princípios religiosos.