Em plena efervescência da criminosa deturpação história desenhada por um tal de monark (que passou? Não teve talento bastante para ser uma Caloi?) que, em um podcast da vida (flow), defendeu a legalização do partido nazista em terras brasilis, um outro sujeito imbecilizado (adrilles), coroando o teatro de absurdos que está a vigorar nesta quadra de nossa latinidade, falando pelo outrora poderoso microfone da rádio Pan-americana (onde nasceu o Pai da Matéria) mandou um ‘sieg heil’ ao final de sua participação ao vivo...

Imagem ilustrativa da imagem ESPAÇO FINAL - O ‘sieg heil’ pelo microfone da jovem pan...
| Foto: Reprodução

O sieg heil é uma expressão alemã que, literalmente, significa salve a vitória e foi amplamente utilizado a partir dos anos 30 (ascensão do partido nazista) pelos hitleristas...

Deveras, o que leva um cidadão defender a legalização de um partido político que produziu a maior máquina de extermínio humano que a história já registrou? Há algum resquício de vida inteligente nisso? Alguma justificativa minimamente relevante? Dizer o que da tentativa de comunicação através do sieg heil?

Não há sinal de inteligência nisso. Apenas maldade parida na ignorância, uma vez que monark e adrilles são frutos do obscurantismo de nossa época. Ambos pavimentam a construção de uma narrativa estúpida que ao negar o outro, contribui para alicerçar a ditadura da maioria. Ainda que subsumam conteúdos nazistas são, em verdade, fascistas.

Vivemos uma época triste, marcada pela presença de criadores de conteúdo de mergulho raso em areia adoecida, que vegetam por um mar de hipóteses a negar pensamento diverso e pluralidade de modelos. Hoje, respeito não é senão uma lembrança...

A tese (respeito à pluralidade política) defendida pelo tal monark não se aplica ao nazismo justamente porque o hitlerismo não respeita opinião contrária. Quem ousar pensar, ou ser diferente, deve ser eliminado...

Esse conceito (em verdade um não conceito) tem caráter limitador do desenvolvimento humano e, por isso mesmo, é o que de pior a sociedade poderia produzir.

Nesta medida, quando um comunicador social busca um conteúdo neste campo, em verdade o que se está a criar é um não conteúdo. A justificativa do tal monark (‘estava bêbado, me desculpem’) só não é mais cínica do que a ressureição tropical do sieg heil que adrilles tentou transformar em um tchau...

Não cola. Não poderia colar pelo tema que motivava o debate, uma vez que a chancela simbólica do nazismo reclama pronto combate institucional, em ordem a não pactuar a circunstância irresponsável do ódio gauche que alimenta a extrema direita, para quem tudo que há de mal no mundo advém do comunismo....

É preciso enxergar nos dois sujeitos cancelados o retrato falado de nossa época rasa, onde o sonho coletivo dá lugar ao desespero individualista, sob patrocínio da mão invisível de um capital cada vez mais improvável, cujo herdeiro é aquele sujeito pobre, morador em situação de penúria, batalhador e cheio de fé que paga um dízimo de suor e desalento, na esperança de apascentar a própria dor...

O significado de nossa tragédia social emoldura uma noite eterna ladeada de lembranças de uma época que já passou, suposto que a juventude está sendo levada a repetir e não a pensar. O tal monark e o sub tal adrilles são alguns dos responsáveis diretos de nossa tragédia anunciada...

Quando a noite ainda era jovem e os horrores que a máquina de extermínio nazista patrocinava eram incipientes, a sociedade alemã, então amedrontada (com razão), entendeu menos traumático alinhar-se ao detentor da força...

Esse erro revelou-se fatal (pois calou a capacidade crítica de um povo livre) naquilo que custou a segunda guerra mundial. Hoje, a turba do pensamento único (fascistas) tenta resgatar esse clima de terror. Escalam, para tanto, estúpidos com microfone para gerar conteúdos miseráveis que negam ciência, história, humanidade...

Todavia, quando dois estúpidos digitais se encontram no próprio preconceito, o que emerge é um bem definido contributo fecal que não informa qualquer apanágio civilizacional – antes o contrário: flerta com regimes totalitários e normaliza o extermínio de seis milhões de judeus ao sugerir a legalização do partido nazista...

Estamos radicalizando nossa estupidez a ponto de influenciador digital (cosa fato?) e pseudo comentarista político consumirem, na desventura de ser, o elastecimento de nossa histórica condição de empobrecimento social.

Já não basta ser racista, homofóbico, machista, misógino, fundamentalista e fascista: é preciso, também, ser nazista e poder odiar livremente quem se queira odiar, desde que sejam judeus, comunistas, ciganos, pretos, homossexuais, portadores de necessidades especiais...

O mundo está se desencantando e os criadores de não conteúdo patrocinam a morte da fantasia. Alice já não iria querer encontrar o caminho de casa; Peter estaria mais feliz na Terra do Nunca e meu fidalgo favorito estaria tomando uma taça de vinho (um Aldaz, Vega del Castillo) com seus gigantes imaginários.

Tristes e imbecilizados trópicos. Saudade Pai, você ensinou que ideias precisam ser protegidas e fomentadas, jamais negadas.

João dos Santos Gomes Filho, advogado

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