Há poucos dias, alguns vereadores de São Paulo resolveram expor um pouco mais do que de pior existe na política! Assinaram um requerimento para abertura de uma CPI sobre as ONGs que atuam no centro da capital, mas cujo objetivo mirava especificamente o padre Júlio Lancellotti. As trevas cobrem a terra de Anchieta. O elementar da perversidade aconteceu: não tendo plano para lidar com pobres e dependentes, desejam acabar com quem deles cuida! Mas havia uma pedra no caminho destes insignificantes e minúsculos vereadores! Padre Júlio não é um cidadão qualquer!

Peço licença ao leitor para trazer alguns dos títulos de reconhecimento público. A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil deu-lhe o Prêmio Franz de Castro Holzwarth em 2000 por seu trabalho contra a violação sistemática dos direitos das crianças e dos adolescentes.

Em 2003, a Casa Vida recebeu o Prêmio OPAS, da Organização Pan-Americana da Saúde. Em 2004, o Movimento Nacional de Direitos Humanos concedeu-lhe o Prêmio Nacional de Direitos Humanos. Também em 2004, a Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo ganhou o Prêmio Nacional de Direitos Humanos, na categoria livre. Em 2005, padre Júlio recebeu menção honrosa do Prêmio Alceu Amoroso Lima Direitos Humanos. Em 2007, recebeu o Prêmio Direitos Humanos promovido pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, na categoria "Enfrentamento à Pobreza". Em 2020, recebeu, pelo voto popular, o Prêmio Poc Awards na categoria "Influencer do Ano" - promovido pelo Gay Blog Br, a indicação de Lancellotti se motivou por se posicionar frequentemente contra a homofobia.

Padre Júlio é ainda Doutor Honoris Causa pela Universidade São Judas Tadeu (2004) e pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Em 2021, foi um dos vencedores do Prêmio Zilda Arns pela Defesa e Promoção dos Direitos da Pessoa Idosa, da Câmara dos Deputados, reconhecido pelo seu trabalho em benefício da população em situação de rua. Em 2022 foi agraciado com o Prêmio Juca Pato. Foi condecorado com a medalha da Ordem do Mérito do Ministério da Justiça e da Segurança Pública, no grau de Grã-Cruz. O decreto determinando a distinção foi assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 29 de agosto de 2023. Em 24 de setembro de 2023, o Padre Júlio Lancellotti recebeu uma medalha Ordem do Mérito, que foi concedida e entregue pelo ministro Flávio Dino, na Capela São Judas Tadeu, na região da Mooca, em São Paulo. Ufa! Sinto-me um anão olhando para este gigante da solidariedade!

Este homem de Deus é profundamente um servo do pobre, defensor da vida, nos lugares onde crassa sofrimento e morte. Com o seu avental ou marreta em punho, ele dedica os últimos anos de vida ao que de melhor pode honrar a velhice! Até ao final de semana passado, já se contabilizavam centenas de manifestações públicas de repúdio ao insano e tresloucado desejo desses vereadores. A CPI já nasceu morta e os seus assinantes serão devolvidos ao lixo da história. Uma Câmara de vereadores é coisa séria! Espera-se que, no mínimo, os seus nobres pares se preocupem de fato com o que lhes compete: a fiscalização do executivo e a elaboração de leis que tornem a vida dos munícipes mais aprazível.

Acusado de promover uma “máfia da miséria”, padre Júlio devolveu a acusação a quem a pronunciou: “máfia da miséria é quem abandona o pobre!" E é disso que estamos falando. Até hoje, ninguém, nenhum prefeito, nenhum político, apresentou qualquer proposta perentória que resolva definitivamente a questão dos moradores de rua. Enquanto isso não acontece, pessoas como Júlio Lancellotti mitigam o seu sofrimento tratando-os com a dignidade que qualquer ser humano merece. Ajudar o outro é mais do que filantropia, é dar-lhes dignidade. Ele sabe melhor do que eu que não se passa incólume quando se dedica a vida a esta causa! Por isso a sua serenidade, sendo alvo desta aberração, não nos surpreende. Força padre Júlio!

Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina