Toni Garcia acusa Moro do que acusou, resgatando fatos deslembrados e argumentando logicamente o seu conteúdo. Conseguiu, assim, estabelecer certo padrão cronológico que dá luz a fatos supervenientes. Estes, por sua vez, desaguam em uma série de eventos correlatos que, ao se entrelaçarem, se complementam, estabelecendo significado à sua fala: foi agente infiltrado de Moro!

Enquanto isso, a imprensa familiar brasileira (Civita + Marinho + Frias + Mesquita) parece estar em Marte cobrindo o evento do século – algo parecido com a descoberta de uma urna eletrônica marciana com selo de auditagem venusiana...

O acusador de Moro revela o modus operandi de sua utilização ilícita e o modelo estabelecido na relação promíscuo-criminosa faz corar muita prostituta em noite de despedida de solteiro. Toni Garcia, enquanto ‘agente infiltrado de Moro’, viabilizou a prisão de muita gente.

Tenho um amigo (grande advogado) que padeceu da sanha persecutório-criminosa de Moro, justamente após ter sido gravado durante conversa de boteco com Toni Garcia. Meu amigo foi preso, denunciado, processado e condenado por Moro. Depois, os tribunais reformaram todas as condenações (absurdamente inverossímeis), mas ele jamais foi a mesma pessoa!

Não imagino desvalor de conduta maior do que um juiz (in casu ex-juiz) se aliar ao Ministério Público, combinando estratégias, celebrando metas, estabelecendo condições, buscando resultados, perseguindo pessoas, destruindo reputações, modificando resultado de eleições, assassinando biografias – ao tempo em que burla a consciência crítica de uma sociedade punitivista, ávida por pedras de tropeço ideológico.

No ponto nevrálgico, Toni Garcia chegou a dizer que, por ordem e orientação direta de Moro, gravou conversas com alvos estabelecidos pelo ex-juiz, seguindo um roteiro prévio que lhe chegava malhado – tal e qual a droga da poesia do Cazuza.

A fala de Garcia, em lugar menos distópico que o Brasil de nossos dias, valeria cobertura midiática em tempo real, conformada nos programas de sempre, com os especialistas de tudo (de leitura corporal ao jogo dos búzios) e já estaria o Ministério Público atento a equação que se anunciava.

Que nada. Passada uma semana, por aqui se vê um silencio perturbador das prensas. Dá a impressão, aos desavisados de plantão, que não há relevo na fala de Garcia.

Reparem que sequer conjurei a hipótese de ela não ser verdadeira – que isso se confirmará ou não na investigação isenta que o estado deve fazer. Todavia o relevo das afirmações é fabuloso e remete ao uso do aparato de um poder de estado (judiciário) em causa própria por um ex-juiz, em prejuízo e na perseguição de adversários ideológicos.

A desonra de Moro reclama a necessidade de nos protegermos deste estado totalitário que, ao conjurar no mesmo caldeirão os interesses pessoais de um ex-juiz com a necessidade de produzir conteúdo econômico (em causa própria) de uma imprensa desligada da realidade, faz emergir o monstro de sua lagoa de arrebatamentos, colando na sustentação do dia os equívocos maléficos de seu elã privado sobre o conteúdo social de um país.

Assim é que não haverá liberdade de expressão em sua plenitude cidadã, enquanto jornalista não noticiar o fato sem qualquer amarra, naquilo que (hoje) o dono da prensa capturou a vontade de informar, em resguardo de seus interesses econômicos que, ao final do mês, pagam salário.

É um ciclo do capitalismo desenhando a vinculação dos meios de comunicação ao interesse de grupos econômicos desanuviados de qualquer compromisso social e mais fortes – afinal o mercado já ensinou que a notícia é um negócio e, por aqui, a imprensa familiar brasileira parece acreditar na ideia de que proteger Moro talvez seja preservar-lhe enquanto potencial candidato da direita.

Assim, ao trair o caráter imparcial de sua atuação enquanto juiz, Moro fez uso privado da toga, desviando em sua conduta a distribuição da justiça. Um juiz apanhado com a cueca recheada de dinheiro ilícito não teria lesado tão severamente o contrato social.

Agradeço a independência desta Folha e o relevo de sua interação ao jogo democrático, que a um só tempo me permite questionar a falta de compromisso dos jornalões e cobrar severa e rigorosa apuração da fala de Toni Garcia, notadamente quando este tece suas acusações em desfavor de moro.

Em tempo: não há hipótese de passar pano para funcionário público que se desvia do prumo – afinal a lei não seria para todos?

Tristes e corrompidos trópicos.

Saudade Pai!

João dos Santos Gomes Filho, advogado

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