Por motivos óbvios estou muito feliz hoje, 31 de outubro de 2022. A vida me sorriu de volta.

Noves fora minhas circunstâncias todas, a felicidade, hoje, se deve ao resgate de meus valores. Meio que recupero a toada da vivencia e me encontro desaguando no caminho antigo em que iniciei minha corrida contra o tempo.

Torno ao cimo do outeiro onde percebi a valência das coisas e me apaixonei pela vida, enquanto menino que crescia à sombra de dúvidas existenciais que o Fidalgo de La Mancha plantou em minha incipiente consciência.

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Foi com o Quixote que aprendi a importância dos companheiros com quem repartir as batalhas, suposto que na divisão de esforços com aqueles que respeitem minorias eu sempre estaria esgrimindo a bom combate.

Segui assombrado, agora pelas histórias do bardo de todos os bardos. Willian e sua relação jurídica que imortalizou o mercador de Veneza será, para todo o sempre, o meu jurista favorito – suposto que me falta sangue para falar do poeta.

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Dante e sua Comédia Divina, matriculada na desconstrução das paixões com a narrativa do amor capaz de levar um homem aos portais do inferno (limbo) para resgatar o amor (Beatriz), fechou este ciclo – a vida abriu outros.

Daí em diante eu vivi uma profusão de sentimentos que moldaram o homem que sou nas paixões que vivi e, consabido seja, o que melhor me define (paixão Corintiana à parte) é o zelo com as demandas sociais.

Nesse sentido, sigo confiante nas relações humanas centradas no respeito as minorias. Sou, por grandeza e paciência de minha linda caçula que se dispôs a me reeducar, um homem diferente daquele que estive por ocasião do seu nascimento.

Isabeau esgrimiu minha criação em ambiente machista e eu, fiado em seus olhos negros, deixei de reproduzir cultura machista – obrigado Neca!

Nessa medida e além, confesso não ter sido muito feliz nos últimos seis anos. Meu espírito parecia anunciar o divórcio com minhas memorias, enquanto eu resignava um lamento de pouco alcance.

Foi exatamente nessa quadra que a Adriana De Cunto, Chefe de Redação, me abriu as páginas da Folha e, por encantamento, a tinta redimiu a angústia, resignificando o resgate de minhas lembranças.

Sou plural e minha formação remete uma visão de mundo que aloca o homem no centro das coisas, em comunhão com natureza e com ele próprio. Deus está no meio de nós.

Jamais consegui conviver com o conceito de um Deus acima de nós, justamente porque Ele nos concedeu o livre arbítrio. Como alguém, sendo onipotente, que se pretendesse acima de nós, nos concederia a liberdade da escolha?

Cristo sempre me pareceu maior e muito mais sábio que todos os pastores que colocam seu Pai acima de nós, ainda que bem mais pobre (mormente que os neopentecostais).

Estando no meio de nós, inclusive, Ele mandou o próprio filho para a nossa salvação e, se bem me recordo da passagem do Nazareno por aqui, quem lhe patrocinou o desterro, contra a vontade do governador romano (Pilatos, que sucumbiu pelo interesse em agradar o patriciado Judaico de época), foi a elite de seu próprio povo, bem auxiliada pelos pastores de época.

Assim é que os interesses de uma elite econômica qualquer, quando comungam com as aspirações de religiosos, não me parecem informar ou significar a vontade do Cristo – antes o contrário; na Judeia então governada pelos romanos, os interesses foram anticristo. Tanto que o mataram.

Vou então sugerir a você, meu paciente leitor: doravante tenha muita cautela ao associar a palavra de religiosos à voz de Deus, notadamente em se tratando de questões caras a elite econômica de um povo – afinal, Deus nunca se envolveu em política, tanto que assistiu seu filho crucificado sem levantar um só pleito em seu favor.

Não joguem pedra ainda, caros pastores de ovelhas de balido tímido. Penso, também, que, se o voto é secreto, porque religiosos disputam um convencimento qualquer com ênfase em um suposto interesse divino, notadamente em sendo o Pai, onisciente?

Será que Deus não sabe em quem votamos nas eleições passadas? É essa a ideia?

Esse coronelismo eletrônico que grassa as falas de homens que mercadejam a própria santidade em hipóteses de salvação de almas não é cristão. Podem espernear, mas não é. Ele é político e busca apenas e tão somente atender aos interesses dos pastores que rezam por seus mitos de pés de barro. Eles não lutam por sua alma. Lutam por seu dinheiro – evidente que há extraordinárias exceções (Pastor Messias eu te amo).

De um lado a força do amor, de outro lado a força da brutalidade ignóbil.

A escolha entre o livro e a arma não deveria demandar qualquer dificuldade. Quem plantou a dificuldade foram justamente os que se distanciaram de Cristo para pregar, em nome Dele, os próprios interesses.

Tristes trópicos onde a eleição ensaia um terceiro turno na marcha do gado que pede intervenção militar. Não passarão. Nós somos a tempestade!

João dos Santos Gomes Filho, Advogado

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