ESPAÇO ABERTO: Quem dentre vós não tiver pecado...
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sexta-feira, 23 de junho de 2023
Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra. A cena do Evangelho nos coloca Jesus diante dos acusadores de uma mulher adúltera que mereceria o castigo, de acordo com a lei. Para Jesus, no entanto, a lei fica relativizada diante da misericórdia divina.
Podemos até não cometer pecado com o nosso corpo, mas quantas vezes nos prostituímos em pensamentos? Qual a diferença? E por que continuamos querendo apedrejar a pecadora, se estamos cheios de maus pensamentos?
Quantas vezes criticamos a corrupção em nosso país, ato ou efeito de se corromper, oferecer algo para obter vantagem em negociata onde se favorece alguém e se prejudica outra. Quantas vezes já não pensamos ou tentamos oferecer vantagens para que um agente público faça algo que, dentro de suas funções não deveria fazer ou deixar de fazer algo que deveria fazer? Quantas vezes não tentamos subornar um guarda de trânsito? Por que então achamos que só os políticos são corruptos, se nós também somos?
Nós não temos que ser justiceiros, como nos filmes de bang bang. Nem fazer justiça com as próprias mãos, como explica a lei de Talião: “Se alguém fizer uma ferida em seu próximo, far-se-á o mesmo a ele, olho por olho, dente por dente”. Mas não se pode calar diante de injustiças. Mas nós nos calamos e continuamos.
Às vezes, cerca de milhões de brasileiros se concentram na avenida Paulista para clamar pelo fim da corrupção. Quantos desses aí sonegaram o imposto de renda? A corrupção está tão enraizada no Brasil, que está em todo lugar. O brasileiro está tão acostumado a cometer deslizes morais e éticos, que já nem percebe quando está corrompendo. Ou percebe e se faz de inocente? Eu acho que ninguém é tão tonto.
Fazer carteiras falsas virou profissão em nosso país, tem comércio independente e lucrativo em muitas capitais e sabemos disso. Quantas CNH são compradas diariamente? Nem sabemos, de tantas que são.
Fazer hora no trabalho não é um tipo de corrupção? Portugal tem sérios problemas com trabalhadores brasileiros. Quem atira a primeira pedra?
Julgamos inescrupulosamente o Paraguai pela pirataria, mas teriam eles mais pirataria que no Brasil? Todos sabemos que não. Esse é um crime que se comete diariamente, como comer arroz e feijão.
Vemos diariamente, olhando para os tetos dos vizinhos, o famoso gatonete e as pessoas se vangloriando. Mas, no dia de combate à corrupção, ajudam a encher a avenida Paulista. Ficamos escandalizados com os políticos escondendo dinheiro na cueca, mas isso pela inveja ou pelo escândalo?
O Brasil ficou em 94º. lugar no ranking da honestidade e corrupção, entre 180 países investigados em 2022, divulgado pela Transparência Internacional. O que é uma tremenda vergonha. Mas graças a Deus, temos em nosso comando o presidente mais honesto do mundo, que certamente nos dará exemplos e nos tirará deste vergonhoso lugar.
Há poucos dias, vi o padre Júlio Lancellotti, em uma rua da capital se ajoelhar, e beijar o pé de um travesti. Ele que recebeu em 2004 um prêmio do Movimento Nacional de Direitos Humanos. Em 2005 o maior prêmio de direitos humanos concedidos no Brasil. Doutor em Honoris Causa pela Universidade São Judas Tadeu e pela PUC de São Paulo, autor de inúmeros livros. Somos nós melhores do que o padre Lancellotti? Não teríamos também que beijar os pés dos que vemos como pecadores e sair desta posição de julgadores? Seria bom pensar nisso. Porque se existir esse tal de juízo final, estaremos perdidos.
Nelio Roberto dos Reis, professor universitário, dr. em Ciências pelo Inpa
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