Recentemente, no dia 02/09/2021, uma mulher de 32 anos (Geisa), mãe de um bebê de 08 meses, teve 90% do seu corpo queimado, o que lhe tirou a vida após 26 dias de internação numa Unidade de Tratamento de Queimados do Hospital Geral de Vila Penteado (São Paulo), por ter usado álcool para tentar cozinhar alimentos, em razão de não ter dinheiro suficiente para comprar um botijão de gás, por estar desempregada. E esse bebê, que também teve 18% do seu corpo queimado, mas que conseguiu sobreviver, jamais terá o amor, o afeto e o carinho de sua mãe por toda a sua vida.

E, respondendo à pergunta do título, a resposta é: a vida não tem preço. É incomensurável. No entanto, a vida dessa mulher, única e tão preciosa por si mesma e para aqueles que a amavam, teve um preço: o valor de um botijão de gás, que na semana de sua morte valia R$ 96,89.

Alguém poderá dizer que foi imprudência dela em manusear álcool combustível como foi feito, o que em parte pode ser verdade, no entanto a causa mais profunda dessa tragédia foi a condição de miserabilidade em que se encontrava essa mulher e a necessidade dela em preparar refeição com alimentos doados para si e seu filho. R$ 96,89 é nada para gigantes da indústria petrolífera, mas era muito para ela que não tinha nada. E esse nada para grandes carteis, custou uma vida que não tem preço.

A conjuntura de crise econômica e de restrições provocadas pela pandemia do Covid 19 fez com que quase 15 milhões de brasileiros ficassem desempregados em 2021, criando um contingente cada vez mais crescente de pessoas em estado de vulnerabilidade social, financeira e de extrema pobreza no Brasil.

Por outro lado, somente a Petrobrás, umas das gigantes da indústria petrolífera no mundo, que produz o gás de cozinha (GLP) que a mulher morta não pode comprar, teve um lucro de R$ 74,9 bilhões, considerando apenas o segundo e terceiro trimestres de 2021, revertendo um cenário negativo onde num passado recente ela foi dilapidada pela ganância de corruptos, de onde foram desviados mais de R$ 43 bilhões, segundo a Operação Lava Jato.

Gerar lucro é uma das premissas da Petrobrás, considerada um patrimônio nacional por toda a sua história de lutas e conquistas, sendo importante instrumento estratégico na produção de combustíveis para o Brasil, inclusive o GLP, no entanto penso que é inadmissível que atores políticos e empresariais do setor energético se portem de forma indiferente e insensível diante de milhões de brasileiros, que como a mulher morta por queimadura, não tem condições de pagar R$ 100,00 por um botijão de GLP, quase 10% do salário mínimo atual, imprescindível para uma vida minimamente digna de uma família.

Se os corruptos puderam saborear vinhos importados, lagostas e canapés com os recursos desviados da Petrobrás, de forma ilegal, então porque ela não pode subsidiar, de forma legal, o preço do botijão de gás para que os mais pobres possam ao menos cozinhar arroz, ossos de boi e pés de galinha com segurança e um mínimo de dignidade. Nada vale mais que uma vida.

Carlos José Estevam Lioti, administrador em Londrina