Assisto manifestações de torcedores de futebol em Espanha, de caráter racista e, por isso mesmo, criminosas, tiradas em estádios quando joga o Real Madrid; todas assacadas contra o fabuloso atacante negro brasileiro Vinícius Júnior.

Esse crime continuado não foi coibido ou mesmo combatido, com energia moral relevante, pela liga de futebol espanhola. Antes o contrário; seu presidente Javier Tebas, no cargo desde 2013, se desdobra a passar pano para o racismo.

Não por acaso Javier é apoiador declarado do grupo extremista de direita (leia-se: nazi-fascismo) Vox, além de já ter integrado os quadros do Fuerza Nova, agremiação partidária fascista que existiu entre 1976 e 1982, cujo único motivo de criação foi preservar o franquismo durante a transição para a democracia.

O tal Tebas já deu declarações públicas (2016) em favor do fascismo, chegando a assumir que seu pensamento de hoje é o mesmo que mal cheirava (tu fedes javier!) em 1976, quando integrava o grupo fascista. Deveras, ao apoiar o Vox publicamente em 2019 (‘eles me parecem bons. Se continuarem assim, eu votarei no Vox’), não contente com a tolice de sua opção, chegou a enfatizar (à época) que a Espanha ‘precisava de algo como o Vox’.

Aos que não têm lembrança, recordo que dentre as pautas fascistas do Vox estavam o fim da imigração à Espanha e o cancelamento das leis que coibiam a violência doméstica.

Outro tanto, não sou dos que simpatizam com o Real Madrid por qualquer motivo outro que não o de ter sido o time de Franco, na medida em que abomino (odeio, com o perdão do amor de minha santa mãe que, na esteira do pensamento maior de Chaplin, me ensinou que somente os não humanos odeiam) o generalíssimo e sua ditadura (1939 - 1976) que perdurou por quase quarenta anos a serviço da morte aos de pensamento diferente (comunistas, pensadores, professores universitários, poetas, cientistas, cantores), aos homossexuais e a toda minoria de época – ciganos, negros, mulheres independentes...

Bem provável que o maior poeta espanhol seja Federico Garcia Lorca (‘pronuncio teu nome nas noites escuras, quando vêm os astros beber na lua’). Ele foi morto na cidade de Granada, em 1936, por ordem de oficiais da ditadura do generalíssimo Franco, segundo documentos obtidos pelo jornal The Guardian.

Todavia e na conta das mortes, a mim me encanta muito mais a desobediência civil da Catalunha do que a quinta coluna madrilenha. Ainda assim abraço o Real Madrid que, pela grandeza de seu diretor técnico (o italiano Carlo Ancelotti), abraçou sua ‘cria negra’ (Vinícius), e está a questionar qual o sentido de se jogar para uma plêiade de racistas.

Há muito dinheiro em jogo em La Liga, naquilo que a liga de Real e Barcelona, por si, é a quintessência dos que amam o jogo de bola em solo europeu – bem combinado que aqui é e sempre será (ei) Corinthians! Não seria, então, altura de os patrocinadores repensarem no que estão investindo?

Vejam o sitio Sleeping Giants que, por aqui, tem feito extraordinário serviço educativo em desfavor do porta voz da extrema direita no Brasil. O Giants está atacando onde deve atacar (no bolso).

Noves fora pululam manifestações em nosso Congresso em favor de Vinicius Júnior. Várias (imensa maioria) autênticas, relevantes e sensíveis ao contexto histórico. Outras tantas oportunistas e tiradas na esteira de Vinicius Júnior ser cria do Flamengo, não por ser um negro ofendido por agressões raciais. Há, todavia, a fala do senador Magno Malta – pastor evangélico fundamentalista.

Deveras, Malta está senador da República e da tribuna do Senado enviesou sua fala sobre as agressões raciais à Vinícius Júnior, traçando um raciocínio (?) conclamando manifestação dos protetores de animais, naquilo que ao ser chamado (ofendido) de macaco, teriam os agressores cometido crime contra o animal irracional (o macaco e não ele próprio, o Malta, que para meu desespero ainda se diz magno).

Estou preso nessa bolha de imbecilização política que, apenas para contrapor uma posição contrária às muitas manifestações de solidariedade que afloraram no Congresso, viabilizou a fala acima destacada de um pastor evangélico fundamentalista.

Quem é essa gente? De onde vem? Precisamos saber com urgência para localizar e tapar o buraco de onde saíram! Não é possível que a distopia instaurada em 2016 espraie reflexos tão imbecilizantes feito os que Malta defecou em sua fala racista e profundamente desconexa.

O mundo e até o Real Madrid (time de franco; terra dos quinta-coluna) estão a condenar o pensamento racista em estádio de futebol em Espanha, ao passo em que o senador evangélico fundamentalista reclama manifestação da sociedade protetora dos animais em favor do macaco, sem sequer reconhecer, enquanto negro que é (ou ao menos deveria ser), a maledicência que se está a fazer contra Vinicius Júnior em Espanha, pelo viés de uma minoria de criminosos fascistas.

É essa a representatividade evangélica no Congresso? É dessa qualidade? Então que Deus nos salve dos fundamentalistas políticos e de sua exacerbada ignorância, que vai de se propor contaminação de rebanho em plena pandemia, ao livre convencimento imotivado terraplanista!

Tristes trópicos. Saudade Pai!

João dos Santos Gomes Filho, advogado

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