ESPAÇO ABERTO: Páscoa: a luz que dissipa as trevas
Celebrar a Páscoa é nos libertarmos dos coelhinhos inocentes e do chocolate que nem sempre colabora para uma boa saúde
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 15 de abril de 2022
Celebrar a Páscoa é nos libertarmos dos coelhinhos inocentes e do chocolate que nem sempre colabora para uma boa saúde
Padre Manuel Joaquim R. dos Santos
Para os cristãos, católicos e evangélicos, bem como para outras religiões, a luz é um elemento simbólico relevante para exprimir as forças transformadoras e acessar o paradigma de uma vida plena e repleta de sentido. As trevas do erro, do medo, do tropeço, da cegueira e da perda, caracterizaram desde sempre, a ausência de um rumo e de um horizonte que devolvesse ao ser humano a capacidade de se enxergar na sua plenitude.
Quando os católicos no Sábado de Aleluia colocam o “círio Pascal” em evidência e o apresentam como a Luz de Cristo, confessam a convicção de que o brilho de Deus nunca esteve ausente na história da humanidade, que “o povo que andava nas trevas viu uma grande luz” (Is 9,2) e que essa luz é agora a imagem perfeita da vitória da vida sobre a morte e da claridade sobre a escuridão. Onde abundou o pecado superabundou a graça, como nos lembra Paulo (Rm 5,20)
Celebrar a Páscoa é nos libertarmos dos coelhinhos inocentes e do chocolate que nem sempre colabora para uma boa saúde. Embora sejam símbolos interessantes não alheios à mística pascal, como tantos outros, foram invadindo o espaço sagrado com nuances comerciais a ele incompatível. Por conseguinte, assim como no Natal, faz-se necessário avançar para o mistério celebrado, descalçando as sandálias do capitalismo e soprando sobre a poeira que normalmente cobre esses tesouros misteriosos e lhes rouba o brilho.
A Páscoa, na sua origem, é a festa que marca o início do calendário bíblico de Israel e delimita as datas de todas as outras festas na Bíblia. Páscoa (Pêssarr, em hebraico) significa literalmente “passagem”. Jesus atribui-lhe um novo significado enquanto celebra a antiga com os seus discípulos. Afinal ele era israelita!
Se a passagem miraculosa dos hebreus no Mar Vermelho, enquanto os egípcios morriam afogados, foi um acontecimento extraordinário e marcante na sua história, para os que creem, a passagem da morte para a vida, do pecado para a graça, é sim o acontecimento dos acontecimentos! Equivalente à primeira criação! Superando-a, aliás! Isso é Páscoa cristã.
Na Europa esse evento coincide com a chegada da Primavera. O que estava dormente e letárgico no rigoroso inverno, ressurge exuberante de folhas e flores nessa estação. É vida que irrompe estonteante mudando o humor de pessoas e animais. É tempo pascal no verdadeiro sentido etimológico. É a vida que segue se renovando e impondo-se sobre os sinais externos de morte.
Assim era, remotamente, quando os ancestrais dos hebreus levam as ovelhas para pastar nas montanhas, depois de meses confinados nos currais. O brilho dos raios solares, tornava verde as pastagens nas encostas e proporcionava o esperado espetáculo anual.
A tradição cristã, assim como já o fizera com o feriado de Saturnália, uma festa romana entre os dias 17 e 25 de dezembro, que virou a festa de Natal, tornou o grande acontecimento da ressurreição de Cristo na primavera da vida. “Porque procurais entre os mortos Aquele que está vivo”, lemos em Lucas 24,5.
O surgimento dessa “estação”, tornou-se o maior sinônimo do substantivo feminino esperança! “Se Ele ressuscitou, é proibido não ter esperança”! São Paulo é peremptório: “Se não há ressurreição dos mortos, então nem mesmo Cristo ressuscitou; e, se Cristo não ressuscitou, é inútil a nossa pregação, como também é inútil a fé que vocês têm. (1 Cor 15,13-14)
A Páscoa cristã ilumina e dissipa as trevas que cobrem o ser humano, nomeadamente tudo que lhe rouba o brilho e a sua dignidade. O homem não foi feito para a morte. O cemitério não é o final da linha. O caixão não é a última palavra! Mas o ser humano também não veio a este mundo para uma vida medíocre e a “passeio”! Há um sentido profundo na existência, que o transcende enquanto tal.
A Páscoa ajuda-o a responder às mais elementares perguntas: “de onde vim, o que faço aqui e para onde vou”! O inverno em determinados períodos históricos, parece ir além do tempo previsto e invadir a primavera. Assim nos parece hoje, com esta guerra perversa e as várias crises que assolam o ser humano. Mas mesmo nos escombros da humanidade ferida, é possível e necessário dar testemunho da Vida que sempre vence. Sabendo, porém, que para aqueles que creem, nenhuma explicação é necessária; e para aqueles que não creem, nenhuma explicação é possível.
Feliz Páscoa!
Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina
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