O silêncio dos inocentes é um filme americano dirigido por Jonathan Demme e estrelado por Jodie Foster, Anthony Hopkins, Ted Levine e Scott Glenn. Lançado em 1991, arrecadou mais de 130 milhões de dólares, durante a exibição nesse país. Quem é minimamente cinéfilo não deixou de apreciar a tensão que pervade a película, do início ao fim. Um filme para não esquecer! Eu o assisti duas vezes!

Contudo, a aparente semelhança do assunto de hoje com esse filme limita-se ao nada inocente título! Malgrado a montanha russa que tem caraterizado as notícias políticas no país nos últimos dias, é ensurdecedor o silêncio dos que em outras ocasiões invadiram as ruas de verde e amarelo, exigindo “justiça” e tropas fora dos quartéis! Era um barulho danado, provocativo e com ares de prepotência estarrecedora.

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O Brasil minúsculo vivia então uma espécie de doença mental que alienava os indivíduos em relação aos fatos. Uma realidade paralela, em que pedaços de barro viraram mitos e acontecimentos falsos, eventos históricos! Levantava-se o estandarte nacional, que ondulava sob ventos malfazejos e perversos. A navegação sem rumo, implodindo os portos seguros da democracia, ameaçava levar a pique um gigante que se dizia desperto!

O sonho acabou; melhor dizendo, o pesadelo se dissipou, tal nevoeiro virando nada, nas manhãs ensolaradas de inverno. Com o rigor da lei, entrelaçada à liberdade como bem maior e deslizando sob os trilhos ortodoxos da justiça, ei-los agora nus, buscando na estapafúrdia argumentação a tábua de salvação para umas grades quase inevitáveis.

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Enquanto isso, as redes (as famosas redes sociais dos embalos eleitoreiros), se alimentam do cardápio de sempre: a mentira deslavada, que repetida à exaustão, quiçá vire verdade! O rei está nu, mas muitos acham ainda ver as vestes reais! O Brasil do sofá tem proporção inimaginável e não há garantia de alta. Pelo menos tão cedo!

Não há inocentes quando o prato principal do manjar funesto ameaça envenenar a democracia e o Estado de Direito. Os interesses escusos foram assumindo tamanha visibilidade que se tornou improcedente classificar de ingênuos e incautos os aplausos estridentes a um aprendiz de ditador. O silêncio de agora, quisera eu que transparecesse a constatação de um engodo coletivo; porém, não creio que as provas contundentes da maracutaia dos que se diziam incorruptíveis sejam suficientes para devolver a fala a quem ao longo de quatro anos legitimou todos os absurdos vindos de Brasília.

O silêncio dos não inocentes é eloquente. Revela o implausível senso de quem não se conforma em aceitar a derrota, porque a vitória escapada entre os dedos era, sim, vida ou morte para um regime nascente! Ao perceber o lamaçal em que vários militares de alta patente parecem agora se afundar, como não lamentar que as nossas Forças Armadas tenham corrido tão grande perigo! Perfiladas num torpor de canto de sereia pressupuseram que a vitória contra o comunismo e a defesa “das liberdades individuais” passaria pela quebra do arcabouço institucional. Pobres patentes que viram num político do baixo clero, expulso das suas fileiras, o comandante de uma volta ao passado!

O tsunami de episódios trágico-cômicos, envolvendo joias, vacinas, tentativa de golpe de Estado e uma série de outras aberrações terão um mérito primordial: revelar ao país que em nenhum momento deve baixar a guarda na defesa intrépida da sua Constituição e instituições democráticas. A punição exemplar dos que flertaram com o crime ou o levaram a cabo dará à posteridade a aula contra todo tipo de impunidade. Por outo lado, tem o Brasil a oportunidade de não repetir erros cometidos e que vieram a descredibilizar a própria Justiça. Quem viver verá.

Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina

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