ESPAÇO ABERTO: O que nos fez chegar até aqui?
Fico pensando em nossas crianças praticamente abandonadas à tecnologia, muitas vezes, sem o acompanhamento dos pais
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 09 de maio de 2023
Fico pensando em nossas crianças praticamente abandonadas à tecnologia, muitas vezes, sem o acompanhamento dos pais
Padre Alexandre Alves dos Anjos Filho
O último mês tem sido de intensos debates e muitas conversas em todo país. Todos ficamos chocados com os acontecimentos, seja em São Paulo, quando uma professora foi assassinada dentro da escola, ou mesmo a situação em Blumenau, quando crianças inocentes e sem a menor chance de defesa foram brutalmente assassinadas dentro de uma creche. E depois desses, tivemos pelo menos outras duas ocorrências, uma delas no interior do Ceará. O que pensar de tudo isso?
Muitas medidas estão sendo discutidas e tomadas nas esferas federal, estadual e municipal. Detectores de metal, guardas armados dentro das escolas, botão do pânico, tudo isso é válido discutir, se bem que tenho meu posicionamento pessoal, mas não quero falar dele aqui, neste espaço. Meu intuito aqui é outro.
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O que tenho sentido falta nos debates do governo em todas as esferas é muito simples! Armas, detectores de metal, botão do pânico, tudo isso é válido, mas não estamos fazendo uma pergunta fundamental: o que nos levou a chegar até esse ponto? O que nos fez chegar até aqui, até esta situação? A questão é a saúde mental de pais e alunos.
Fico pensando em nossas crianças praticamente abandonadas à tecnologia, muitas vezes, sem o acompanhamento dos pais. São verdadeiros “órfãos de pai e mãe vivos”, cooptados pela tecnologia sem a menor “fiscalização” (não gosto desta palavras, mas é que me vem agora) dos pais. Nossas crianças e adolescentes “cooptadas” pelo mundo virtual e nossos pais não estão preparados para dialogar com eles. Qual o suporte tem sido dado aos pais neste processo? Qual o “botão do pânico” os pais vão apertar quando a situação já degringolou de vez?
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Pensar em armas, em detectores de metal, tudo isso precisa ser discutido, mas não pensamos como está a saúde mental de nossas crianças e de seus pais. Quem tem formado a cabeça deles? Quem tem acompanhado os pais? O governo de São Paulo anunciou a contratação de 550 psicólogos em todo Estado, ou seja, 550 psicólogos para 5 mil escolas em todo Estado, num universo de 3,5 milhões de alunos. Será suficiente?
Os pais já apertaram esse botão do pânico muito antes que as escolas, mas não foram ouvidos. Muitas famílias não se sentem acolhidas, nem mesmo em nossas comunidade cristãs! O acolhimento, inclusive em nossas comunidades, cristãs ou não, é fundamental. Esse botão de pânico já foi tantas vezes acionado, mas ninguém ouviu.
Não é só o governo federal, estadual e municipal que precisa pensar no acolhimento das famílias de nossas crianças. Nossas Igrejas precisam pensar também nesses pais que se sentem sobrecarregados e sozinhos. Nossas comunidades precisam pensar no acolhimento de crianças e jovens à deriva, sem um ideal.
Precisamos criar comunidades onde essas famílias consigam ser acolhidas e ouvidas. Acolher é o que Jesus faria! E se somos seguidores de Jesus, como na parábola do bom samaritano, ouviremos o Senhor Jesus dizer: “Vai e faze tu o mesmo” (Lc 10,37).
Padre Alexandre Alves dos Anjos Filho, Arquidiocese de Londrina
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