Sabemos que o feudalismo foi o modelo de gestão dominante na Idade Média, na Europa, e se caracterizou pelo encelulamento do poder, concentrando-o nas mãos da aristocracia e subjugando a população. Manteve-se com o controle dos poderosos sobre as forças militares e o apoio incondicional da Igreja, e pregava uma ideologia de submissão a Deus, ao monarca ou líder local, e a segurança dos vassalos contra invasores.

Na passagem entre a antiguidade e a Idade Média, ocorrida em 476 d.C., quando Odoacro destronou o imperador de Roma, extinguindo, portanto, o Império Romano, iniciou-se o pré-feudalismo que depois se concretizou na Idade Média, a partir do século XI, e se fixou pela mantença de um líder que se mostrava ideal e imbatível, quase eterno. O feudo era tão severo e perverso, que para manter os fiéis se utilizavam do cabresto religioso. Em razão disso, quem questionava seus dogmas eram vistos como inimigos e chamados de hereges, e como temiam que esses episódios de contra-argumentos se alastrassem, e para manter coesa a religião cristã e a aristocracia, criou-se o Tribunal do Santo Ofício, a Inquisição, onde milhares foram assassinados sob a acusação de serem hereges, em síntese fácil de entender, aqueles que pensavam diferentes do domínio da Igreja.

Parece incrível, mas em pleno século XXI o feudalismo ressuscitou em muitas áreas, mascarado às vezes com o título de corporativismo, que existe e age amiúde na defesa exclusiva de seus interesses, distribuídos em entidades de classe profissional, associações, sindicatos, etc., que permite, sem qualquer dúvida compará-las ao feudalismo, daí que muitos o chamam de neofeudalismo.

Agora, estamos assistindo a dois episódios importantes: a eleição do próximo alcaide congestiona o aeroporto como acontecia na década de cinquenta, quando aviões, sim, aviões, muitos, vinham de São Paulo lotados de damas e cavalheiros para um Il dolce far niente, para os prazeres carnais dos finais de semana, só que agora aportam para criar um feudo político, sabe-se-lá qual o real interesse desse movimento, algo nunca visto em nossa história.

Outro evento são as chamadas de vídeo, mensagens, telefonemas, e-mails, abordagens de rua de personagens que pretendem se perpetuar no poder com ideologia e posicionamento estagnados, sem criatividade e comprometimento, e pasmem-se, estão no poder há quarenta anos! Em hipótese alguma, aceitam deixar o osso — esse deve possuir um sabor extraordinário. Dominam entidade que agrega profissionais indispensáveis ao Estado Democrático de Direito, e pior: aqueles que se encorajam e declaram abertamente sua opção por outrem, exatamente como se fazia na Idade Média, quando atribuíam ao cidadão a pecha de herege, agora é taxado de comunista!

Não aceitam, não admitem novas ideias, rostos, propostas e ações; preferem o marasmo, o céu de brigadeiro ou mar de almirante! São iguais à mula ao redor da moenda, gira, gira e não sai do mesmo espaço, faz apenas e precariamente o dever de casa.

Isso se repete em associações diversas e sindicatos, também com mais de trinta anos no poder, e, surpreendam-se, ouvi, sentado no avião, de membro de uma dessas entidades que lá só entra quem eles querem! Se não vier do grupo, sem chance, sem espaço! Quando um sai, tem outro do grupo já preparado para assumir, e como a mula ao redor da moenda, isso se repete em todas as eleições. Alguém de fora? Jamais! É comunista! Tornaram-se donos da entidade, associação ou sindicato.

São neofeudalistas, vivem no seu mundo, traçam os caminhos que desejam, se colocam como dominium, donos das entidades, agem como tal, falam como tal, vivem como tal! Se pararmos para analisar, veremos que essa comparação é adequada, dado que mantêm ou desejam criar feudos, se portam como donos do espaço e administram de forma autocrática. Precisamos impedir isso, é extremamente necessário a alternância, novos personagens e novas ideias. Londrina nunca permitiu o feudalismo!

Almir Rodrigues Sudan, graduado em direito, economia e jornalismo.

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