ESPAÇO ABERTO: O monsenhor que era Zé para todos
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 20 de abril de 2023
MANUEL JOAQUIM R. DOS SANTOS
O “padre Zé” era para os amigos, ou não, isso mesmo: o Zé! O Zé de Rolândia! Aliás, Rolândia sem Zé é como Zé sem Rolândia! Um missionário à moda antiga. Não que os de hoje não o sejam! Mas o maltês, que deixou a sua terra natal, um arquipélago situado no Mar Mediterrâneo, 93 km ao sul da ilha da Sicília (Itália) e 288 km a nordeste da Tunísia (África), 1.826 km a leste de Gibraltar e 1.510 quilômetros a oeste de Alexandria, pertencia aos que deixando para trás a sua pátria, sonhava em que muitos se deliciassem com a mensagem de Jesus.
Missionário no sentido pleno! Intrépido! Exaustivo! Homem da missão! “Oportuna e inoportunamente”, parafraseando S. Paulo, aquele mesmo, que naufragando, aportou nessa ilha, como nos narram os Atos dos Apóstolos (At.27). Malta abrange uma área terrestre de 316 km², sendo um dos menores países da Europa, possuindo também a maior densidade demográfica. Em tempos idos, foi a capital das vocações missionárias! Estou localizando o seu berço, de propósito! Quem ama o Zé, não o dissociará jamais da sua terra natal!
Quando se deixa a pátria e se adentra mundo afora, tecendo a vida com sonhos e ideais, perde-se de vista o epílogo que poderá ser redigido a qualquer momento e em qualquer país! Foi assim com outro missionário entre nós, o monsenhor Vitor Gropelli, também Vitor, para os amigos! Há três anos, numa viagem à sua terra, no norte da Itália, tragicamente nos deixou, num acidente.
Foram amigos e companheiros durante décadas! Ajudaram a construir esta Igreja Particular de Londrina, assim como o monsenhor Bernard Gafá que ainda nos brinda com a sua presença. Monsenhor José Agius talvez tivesse outros planos. Ou não. O que é certo é que o encontro definitivo com o Mestre, totalmente imprevisível, aconteceu a poucos passos de onde há oitenta e um anos veio à luz! Deus sabe tudo, foi isso que ele pregou!
Estava jubilado, mas não parado! Portador de um dinamismo invejável, cheguei a apontá-lo como o exemplo coerente de como envelhecer. Presenteava-nos com constantes vídeos de ensinamento bíblico na TV, com excelente desenvoltura!
Para os padres jovens desta arquidiocese, a vida do Zé é um paradigma em múltiplas dimensões. Sonhador até ao fim. Trabalhador incansável. Humilde, quando as circunstâncias o puseram à prova. Amigo de fazer amigos e de cultivar as amizades, o que na verdade é uma arte! O Zé é um pedaço da história; o futuro sem ela perde o sentido!
O padre Zé é do tempo em que padre nascia e morria na mesma paróquia e do ditado “time que está ganhando não se muda”! Era práxis até ontem, na Igreja. O padre que casou os meus pais, batizou-me e esteve presente na minha ordenação, já bem idoso! Dizem que existem desvantagens. Contudo, muitos habitantes de Rolândia dirão o contrário! Ele era pai, irmão e amigo de milhares que passaram em sua vida.
Amou a cidade e tornou-se alemão com os alemães, italiano com os italianos e até português com os (poucos) portugueses! E nisso continuou seguindo o famoso naufrago maltês (1Cor 9,19)! Ao chorarem o Zé padre e monsenhor lamentarão a ausência do carisma, da garra, da determinação e do zelo do seu pároco! Amarão outros com certeza! Mas o Zé é a esfinge espiritual de marca indelével que ninguém apagará.
Vai em paz, Zé!
Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina

