ESPAÇO ABERTO: O Brasil está mais corrupto ainda
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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024
Ludinei Picelli
No índice mundial da corrupção o Brasil desceu mais 10 posições rumo ao fundo do poço da roubalheira do dinheiro público. Da 94ª colocação em anos anteriores, fechou 2023 na 104ª situação na escala global. Essa queda constante e crônica é o resultado da conjunção de vários fatores negativos que repetidamente vem ocorrendo no sistema político-governamental do país.
É claro que corrupção no Brasil não é nenhuma novidade. Todavia, de 2003 para cá um misto de governos fortemente corruptos e outros comprovadamente medíocres contribuíram significativamente para essa triste e vergonhosa marca desabonadora. A pilhagem bilionária nas finanças da nossa estatal de petróleo e a afrontosa desmobilização da maior operação da nossa história, montada para promover a ruptura dessa cultura de raízes profundas para desviar recursos na esfera pública, foram determinantes para que amargássemos essa humilhação e o descrédito internacional.
Nos últimos 21 anos, a corrupção cresceu assustadoramente. Em meio a esse tempo a população saiu às ruas para protestar contra os desmandos, exigir a destituição de governantes corruptos, incompetentes e ladrões do dinheiro público, dando total apoio àquelas autoridades que se dispuseram a puni-los na forma da lei. Resultado: um presidente "impichado" e outro preso por 580 dias.
Mas num país próspero em desvios de dinheiro público e que sempre frequentou as piores posições no ranking mundial da corrupção, a bandalheira voltou, desta vez mais fortalecida e garantida pela impunidade oficial. Aquele que foi condenado e preso voltou à presidência da República, ungido pela maior corte da nossa Justiça e embalado pela mediocridade do desempenho governamental do seu maior oponente.
Então, começou a ser gestado um plano dissimulado para reestabelecer o 'status quo' da corrupção impune no poder. Por conseguinte, iniciou-se uma manifestação de desejos inconfessáveis de determinados ministros togados para sepultar definitivamente a Lava Jato. Para celebrar as exéquias da operação que mais prendeu ladrões do dinheiro público neste país, cassaram o mandato do deputado federal Deltan Dallagnol, afastaram o juiz Marcelo Bretas do cargo e iniciaram uma perseguição implacável ao senador Sérgio Moro; os principais ícones do combate aos crimes do colarinho branco.
Com o caminho livre para as quadrilhas se rearticularem, afrouxaram ainda mais as penalidades legais, visando o retorno daqueles mesmos canalhas que assaltaram os cofres da nação, que transportaram malas de dinheiro roubado, que guardaram em seus apartamentos verbas milionárias desviadas do orçamento público, entre outras falcatruas. Para isso, canetadas monocráticas irresponsáveis e desvergonhadas tiraram mais réus confessos da cadeia e anularam multas bilionárias de acordos de leniência de empresas notoriamente condenadas por suas práticas de corrupção.
Na sequência desse 'liberou geral', mais recentemente a nomeação do advogado particular do atual presidente da República para uma vaga de ministro da corte maior da nossa Justiça foi uma afronta à ética, uma desmoralização total do atual sistema de indicação de nomes ao STF e um verdadeiro tapa na cara dos brasileiros.
Outra atitude despudorada foi a criação do orçamento secreto, largamente usado pelo governo anterior como um grande balcão de negócios entre o Executivo e o Legislativo. Declarado inconstitucional, ressurgiu no atual governo com nova denominação, mas com a mesma finalidade espúria preservada, a de barganhar aprovações no Congresso em troca do loteamento de cargos ministeriais. São manobras ardilosas que ferem o princípio da honestidade e serve, geralmente, para manter o privilégio dos sanguessugas da nação.
E, assim, vai o nosso Brasil descendo a ladeira da imoralidade, da certeza da impunidade, do enfraquecimento proposital do sistema judiciário para enfrentar os corruptos e da injustiça social.
Lamentavelmente, os brasileiros não confiam mais na sua Justiça.
Ludinei Picelli (administrador de empresas)

