Apesar de ameaças, estímulos e tentativas, felizmente a ruptura institucional não aconteceu; a nossa democracia está preservada. Terminado o pesadelo nesse sentido, que nos apoquentou nos últimos quatro anos, um novo prenúncio de conturbação no comando do País nos preocupa. O espectro de um período governamental mal resolvido, em um passado não muito distante, está de volta e nos assusta.

Se de um lado o caminho para o extremismo de direita estava aberto e o objetivo era real, por outro, a guinada para a extrema esquerda, como está sinalizando a nova gestão, será muito brusca e vai nos acarretar retrocessos inquietantes.

A escalada da tensão vivida no período pós pleito eleitoral, com um irresponsável bloqueio de estradas, queima de veículos e o aterrorizante ensaio de atentado a bomba em Brasília, mostra uma síntese da truculência e do despreparo que dominou o governo, que se findou de forma decepcionante e melancólica.

Não menos desassossegador é o que vem por aí: um governo perdulário que historicamente sempre abusou da gastança desenfreada, descontrolada e inconsequente. É tempo de grandes incertezas e desconfianças; disso se aproveita a nossa classe política composta, com raríssimas exceções, de adesistas, fisiologistas e oportunistas de toda sorte em busca de cargos, vantagens, privilégios e negociatas junto aos novos governantes.

Desta vez não foi diferente e, para acomodar os novos apaniguados, a estrutura ministerial foi escandalosamente aumentada de 23 para 37 ministérios.

Enquanto os adeptos mais obstinados de ambos os lados promoveram um antagonismo hostil e inconcebível nas redes sociais, nas rodas do debate político e até dentro do seio familiar, indiferentes a essa situação, os rançosos caciques partidários colocaram suas siglas a serviço do novo ocupante do Planalto. Claro que serão regiamente compensados pelas benesses do poder central. Como diria o famoso personagem de Chico Anysio: "o povo que se exploda".

Levando em conta o fisiologismo crônico e sem escrúpulos, o mal supremo da nossa classe política, dificilmente teremos uma oposição forte; os espertalhões já mudaram de lado, sem nenhum constrangimento e incontinenti à proclamação do vencedor da eleição. Considerando a amostragem do toma lá, dá cá e das negociatas que envolveram a formação do novo governo, os indícios apontam para a reeleição do presidente da Câmara Federal o que é, lamentavelmente, uma enorme decadência e a certeza de que o odioso balcão de negócios continuará em plena atividade.

Foi deveras frustrante suportar quatro anos de mediocridades, falta de postura e de despreparo para governar, da mesma forma que nos traz pessimismo e desesperança a volta da turma do mensalão, petrolão, recessão, da presidente "impichada" e de muitos outros condenados por corrupção ao comando da nação.

Por tudo isso, o país atravessa uma fase ultrajante na essência e nas entranhas dos poderes da República, o que nos deixa sem alternativas para a escolha de bons dirigentes. Resta-nos o conforto de que o nosso direito às liberdades constitucionais está garantido, pelo menos por enquanto, para podermos resolver nossos problemas pela via democrática, continuarmos buscando um estadista para nos conduzir e prosseguirmos na luta por um Brasil melhor, mais justo e menos corrupto.

Ludinei Picelli (administrador de empresas) Londrina