ESPAÇO ABERTO: Namoro Santo. O que é? Para quê?
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 14 de julho de 2023
Mary Neide Figueiró
Namoro Santo é um projeto elaborado pela Igreja Católica sobre o qual, recentemente, muito ouvimos falar, devido à ocorrência de uma tragédia em uma Escola Estadual, em Cambé. O namoro requer orientações sábias, de pai, mãe, Igreja e escola. Ficamos entristecidos diante de meninas grávidas; crianças nascendo sem um lar solidamente constituído; famílias desestruturadas; casamentos desfeitos; pessoas infelizes na vida de casado/a etc..
Precisamos, sim, educar nossos/as jovens para que namorem com responsabilidade e se casem de maneira planejada, sem comprometer os estudos, a carreira profissional e/ou de trabalho, do rapaz e da garota. Que uma gravidez não os/as encontre despreparado/as para assumirem a educação e cuidarem da saúde e da vida dos filhos/as.
“É possível namorar sem desagradar a Deus? Ou seria melhor inventar outra forma de relacionamento?” Assim começa o texto, disponível no site: https://formacao.cancaonova.com/diversos/namoro-santo-e-possivel/, acessado em agosto 2019. Há elementos válidos e positivos no Namoro Santo, quando este propõe, por exemplo: - “Não se isolem. Muita gente, após um namoro desfeito, descobre que não tem mais amigos [...]”. - “Não se sintam ‘donos do outro’”. - “Aprendam a demonstrar carinho com respeito. Palavras doces, pequenas surpresas e programas agradáveis a sós podem revelar seu amor pelo outro [...]”.
Tais recomendações são válidas também para a vida de casado. Há, contudo, algumas com as quais não podemos concordar. Por que incluir: “Não dêem lugar ao diabo (Efésios 4:27). [...] Não façam aquilo que virá a despertar desejos mais íntimos ou sexuais.”? Ao ler o programa, fica claro que a Igreja passa a ideia de que sexo é só no casamento e, quiçá, para a procriação. Passa a ideia de pecado, uma vez que a figura do diabo é citada.
O oposto de santo é: imoral, depravado, desavergonhado, vulgar, promíscuo, o que conduz à conclusão de que fazer sexo antes de casar é tudo isso. Quando se incute a ideia de pecado, o/a jovem não se previne, pois, preparar-se para uma relação sexual com responsabilidade, é preparar-se para pecar. É importante uma formação em valores morais, como: igualdade, justiça, fraternidade, bondade, respeito a si e ao outro, respeito por seu corpo e pelo do/a outro/a etc.. É necessária a prevenção à violência sexual – abuso infanto-juvenil e estupro.
Entretanto, é preciso ensinar os/as adolescentes a pensarem com criticidade e autonomia, sem lhes dizer o que devem fazer e o que não devem fazer, ou seja, sem lhes ditar regras, e a expressarem seus sentimentos e se comunicarem de maneira positiva. Além disso, deve-se oportunizar debates entre pessoas com variados pontos de vista e idades próximas. Assim, formaremos jovens felizes, que viverão o amor e a sexualidade com seu/sua parceiro/a sem culpa e vergonha. É importante para eles/as, também, o conhecimento sobre métodos contraceptivos, IST etc..
Sejamos capazes de ouvir, mais do que falar. Já afirmei, em várias oportunidades, que gosto da opinião de Júlio César Machado, biólogo, em seu livro Sexo com Liberdade: “Sexo é um modo de as pessoas se encontrarem e fazerem deste encontro um momento muito agradável, cheio de atos carinhosos e tornando as pessoas muito íntimas e ligadas entre si”. Para o casal que se ama, é válido crer que o sexo pode gerar mais intimidade e proximidade, fazendo o amor crescer.
A Associação Mundial para a Saúde Sexual, na Declaração de 2005, também afirma: “O prazer e a satisfação sexuais são componentes integrais do bem-estar e requerem ser reconhecidos e promovidos universalmente”. O geriatra Marcos Cabrera, ao ser entrevistado, diz, na Folha de 21/07/2014: “O sexo impacta positivamente no bem-estar e nas condições cardiocirculatórias; os indivíduos sexualmente ativos têm saúde superior em relação aos inativos”. Considero bom quando um casal decide, com liberdade, depois de saber das várias possibilidades e do fundamento de cada uma delas, se vai ou não transar antes de se casar.
Mary Neide Figueiró, psicóloga, professora aposentada da UEL (Universidade Estadual de Londrina)

