ESPAÇO ABERTO: Metafísica silábica
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 09 de fevereiro de 2023
Adriana de Cunto
Cópias. Ponderações. Autoria. A vida é, adequada e pedagogicamente, bancada de mudanças (Goethe), transformações (Lavoisier) ou evolução (Darwin), internas e externas, que ocorrem nos três tempos da vida: passado, presente e futuro. O tido pai da Química, Antoine Lavoisier, lavrou que "na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Reescrever ou encontrar diferente contexto para inserir uma ideia ou um texto existente é natural, que precisa ter esta conotação apropriada.
Logo: plágio é vida.
Refutar nossa linha de pensamento é possível, para isso é simples – mamão com açúcar; basta demonstrar ter ciência da tese da metafísica de Aristóteles, e assim, serem genuínas as 4 determinantes da sua ideia/texto: material, eficiente, formal e final; ou seja, que sua iniciativa é do começo ao fim inaugural, do contrário é plagiato.
Na internet e, seus inúmeros trabalhos maravilhosos, existem os vídeos, reações ou reacts, que são pessoas expondo vídeos de terceiros e reagindo – normalmente apenas zombando e rindo. Um ato totalmente aceito, legalizado como arte e muito engraçado. Agora, se eu diagramar um texto do professor Mario Sergio Cortella com onomatopeias nos rodapés, será igualmente aceito (rs)? – kákáká.
O exemplo dos exemplos. Filósofo grego Aristóteles escreveu “a arte imita a vida”; tempo depois Oscar Wilde chancela “a vida imita a arte mais do que a arte imita a vida”, reescrevo cravando para os tempos atuais que a “as máquinas imitam a vida e arte”. São ideias reescritas para adequar o conceito ao tempo, correndo do abismo do anacronismo – inclusive.
Escrever que é o ponto mais alto do crítico ao plágio precisa ter o mesmo entendimento da fala. Uma criança para aprender a falar primeiro presta atenção em quem sabe falar, depois imita palavras e frases, com o tempo e prática, e diante necessidades, inicia o processo de criação de suas próprias ideias.
O primeiro degrau em qualquer habilidade é copiar algo que deu certo. Segundo é reescrever, depois modificar partes e assim criar algo. É muito mais bonito o professor dizer aos alunos de direito que no começo é bom copiar petição e prestar atenção no que foi escrito, para com o tempo fazer ajustes e ter suas próprias peças. Ser realista é mais vantajoso que viver na fantasia.
A escrita precisa ter a mesma engrenagem acima. Toda iniciativa precisa ser comemorada, principalmente se for alguma pessoa próxima. Quando alguém lhe der um texto, elogie ou comemore; faça votos de incentivos para continuar melhorando a habilidade.
Quem sabe, conhece. Talvez demore uma vida inteira para ter as condições necessárias e reais de criar um texto sem qualquer cópia, apenas com as próprias ideias. Artimanhas exclusivas dos poetas.
Toda iniciativa vale a pena, se a mente não é pequena (preciso citar Fernando Pessoa?). O plágio de ideias e textos invés de criticado deve ser estimulado com observações. Neste enredo atire a primeira pedra quem não tem pecado. Consciente ou inconsciente copiamos uns aos outros. Normalmente quem mais critica plágios são os que mais reescrevem histórias.
Vejam o cerne da questão que levanto, talvez a inaptidão tenha ofuscado meu discernimento ao repassar a ideia para o texto; se até as máquinas aprenderam a copiar, por que ter receio? Comece a escrever ainda hoje copiando quem admira; leia e releia, escreva e vá subindo degraus.
Ronan Wielewski Botelho, filósofo, Londrina
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