Jesus, cujo desenlace da fisicalidade e sua ascensão ora se celebra, veio à Terra em voluntária missão para nos avivar a memória de que somos - ele incluído - uma fraternidade, originária do mesmo e único Pai Celestial. Por isso ele mesmo se intitula nosso irmão mais velho. Seus ensinamentos foram o mais marcante registro de sua última passagem terrena. Jesus veio também para doar-se, assim como fizeram outros avatares antes dele. Somos caminhantes nesta jornada, e nossa consciência cósmica tem todos os indicativos do que viemos fazer aqui, embora nossa memória objetiva não guarde lembrança disto. Jesus sempre disse que éramos iguais a ele, e isso ficou substanciado naquela sua frase de que o que ele fazia nós também poderíamos fazer, e ainda melhor. Ao ancorar nesta densa dimensão terrena - tantas vezes quantas foram necessárias - todos estávamos conscientes de que iríamos carregar nossa cruz e trilhar, cada qual, por caminhos de calvário. Viemos em missão de sacrifício, de doação, de reaprendizado e de purificação.


Nossa essência não tem uma idade cronológica, portanto tão antiga quanto os tempos eternos. A memória dessa realidade apagou-se temporariamente ao ingressarmos nesta densidade terrena, mas de qualquer forma estamos sob a guarda do nosso Eu Superior, pois somos múltiplos em nossa dimensão extracorpórea. Apenas uma parte de nós está manifestada aqui. Nossa totalidade não é o que vemos ao contemplar nosso corpo físico, que é o temporal, porque a essência é que é a realidade. O envólucro carnal tem a idade de nossos atuais anos terrenos, mas nossa substância maior tem a idade de Deus. Viver no pecado significa viver sob o véu da sombra, na ignorância acerca de nosso transcendente. Pecado quer dizer ocultação da luz. Ao aportar nesta tridimensionalidade terrena caímos no encobrimento. Tal se deu para que houvesse espontaneidade e mérito em nossos atos. Porque o despertar, por meio de nossa própria vontade, é parte do processo de ascensão.


Jesus nos disse que conhecêssemos a verdade, para nos tornarmos livres, e esta é uma redescoberta interior; a redescoberta do que somos no contexto universal e de nossa origem primeira. Despertar para essa consciência é o real sentido de nascer de novo. Jesus sabe da missão de cada um nesta profundeza planetária. Sua vinda em corpo físico foi para nos ajudar nessa jornada e sorver conosco o amargo desse cálice. Somos desdobramentos de Deus e carregamos em nós todos os seus atributos, daí dizer-se que somos feitos à sua imagem e semelhança - como cada gota forma o oceano e o oceano é a soma de todas as gotas. Portanto, não somos pequenos, porque compomos a soma de todas as coisas, dos céus e da Terra... Somos o micro e o macro, a totalidade universal. A crença em um Deus distante, habitando "lá em cima" e nós "aqui em baixo", tem obstruído o avanço para a compreensão de nossa real dimensão, e estabelece uma imaginária separação. Quando proferimos, em nossa prece, que "não somos dignos de que (Deus) entre em nossa morada", estamos ingenuamente negando-O. Porque nós, e tudo o que é e existe, formamos esse infinito campo vibracional que se denomina Reino de Deus. E o que é Deus? Não um ser antropomórfico, mas a Inteligência Suprema e "causa primária de todas as coisas", Deus Pai-Mãe, a Fonte Divina, a Totalidade, o Absoluto, a Supraconsciência, a Alma do Universo, o nome que se queira lhe dar. Deus é tudo que nos cerca, o que vemos e os que não vemos, o que sentimos, o mistério indecifrado; é o amor-amálgama que sustenta a vida e une todas as coisas numa só substância.

WALMOR MACCARINI, jornalista