Os tempos estão bicudos, ninguém pode negar. A insatisfação geral campeia. Falta de trabalho, falta de comida, de boas condições de vida, falta de bons políticos... Tudo falta! Saúde, então, é daquilo de que as pessoas mais se queixam. É o plano de saúde, é a falta dele, o atendimento no posto de saúde, o médico, a doença, a dor, os remédios a preço cada vez mais pela hora da morte... A lista não tem fim. Todos nós reclamamos de uma coisa ou de outra.

O fazer é uma questão complicada. Só não temos que fazer nada quando somos criancinhas. Assim que crescemos, somos iniciados no que se tem que fazer, como agir, para atingir o grau desejado de convivência social. Boa educação, boas maneiras, boas atitudes, enfim o que se fazer para ganhar a inserção na sociedade. Em seguida, quando adultos, nos deparamos com o que pode ser feito, com as premências e opções, seja no campo profissional ou afetivo. Devo escolher, ou aceitar, isso ou aquilo, esse, essa ou aquele? Escolhas ou imposições feitas, passamos a atuar num mundo onde esperamos o melhor, ou o que julgamos melhor, para nossas expectativas. Daí, então, surgem as decepções e frustrações normais e inevitáveis. Fazer o quê? O que se deve e o que pode ser feito, já que, além de nossos atos, dependemos - ponto crucial – do que os outros fazem???

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E nessas situações de impotência ante a insatisfação surge a repetida expressão popular “fazer o quê“. Na maioria das vezes concordamos. O sentimento é generalizado, apesar dos incentivos mostrando que a melhor resposta para o descontentamento é a reação imediata e a luta constante.

Somos teatrais quando exclamamos “fazer o quê !?”. Nem precisamos de ensaio. A performance é perfeita, natural. Nada mais convincente. O indivíduo vira os olhos para cima e solta os braços ao longo do corpo junto com um suspiro, em sinal de total desalento. Como reagir diante da cena? Depende de quanto tempo se quer gastar com o assunto. Se constatamos gravidade, como abatimento profundo, é melhor e urgente sentar-se com o sujeito e tentar animá-lo com planos positivos. Ou recomendar ajuda especializada – psicólogo, terapeuta - sempre a saída mais aconselhável. Mas quando percebemos que essa frase já é um cacoete de gente que de tudo reclama, comentar é esticar uma conversa infrutífera. Dizer o que a “fazer o quê”? Nada! Talvez um simples ’é mesmo!’. Ou fazer uma cara contrafeita em sinal de concordância e solidariedade. Afinal, estamos todos no mesmo barco. Fazer o quê?

Orides Navarro Gordan, formada em Letras pela UFPR

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