Fico com as belas e reencontro luz onde deixei de sonhar. Já o disse, relembro: aqui na Terra disputamos o modelo civilizatório.

Assim é que na peleja das penas (travesseiro e caneta) vence a tinta que desenha madrugada fria, enquanto o sono (sublimando a dor), cola na vida e segue dando significado à palavra, suposto que a felicidade abriu alas para o amanhã.

Falo de dor e alegria em uma espiral de vida que almiscara fantasias ao tempo em que recolhe pequenas porções de ‘spleen’, resignificando vivências e esquecendo a ‘metade amputada de nós dois’.

E lá nave vá, enquanto permaneço recolhido em pensamentos que aprisionam sentimentos, suposto que a vida segue frágil e temerária – medrosa de angústias circunstanciais que a noite colheu e o dia não pôde gozar. Há, todavia, circunstâncias maiores que a própria finalidade.

Ainda que os esquecidos sigam dormindo a memória, o resgate de dias felizes faz verberar felicidade para além da angústia herdeira do passado – e o passado que se resolva.

Hoje menos e mais não são senão mais e menos, enquanto a relativização de meus anseios verbera toda sorte de circunstâncias, desde que Ortega y Gasset chamou o ocidente para a briga.

Assim é que copio Milton e ‘já não sonho, hoje faço o meu querer’.

Meus pensamentos, pois, não me traem; ensinam e, aprendiz de um novo mundo, anuncio a aurora da desventura: vencemos a amargura, mas segue feroz a batalha contra o fascismo.

Estou em festa com a decisão do TSE que tornou inelegível você sabe quem. Ainda assim não descanso, suposto que meus anseios anseiam o amanhã – afinal não me basta uma primavera se o viver conta invernos e sucumbe em face das feridas de sentimentos que não redimem a dor.

As estrelas podem ter sido alcançadas, mas não se deixam levar na roda viva da vida – enquanto o cangaço se arma do cangaceiro, feito trepadeira à parede, sigo atento em busca do amanhã.

Estou eu, está você, estamos nós, machucados pela bruma de ódio que a espiral neoliberal espraiou sobre vivências e desencontros, enquanto o leite derramado no sangue do leiteiro não valeu a primavera que Arturo não esperou.

O ódio ainda mora entre nós e Alice não o resolveu (para o bem e para o mal) não morando mais aqui, suposto que estamos o que somos – sós.

Solidão, abrace minha sombra e explique a distância que a penumbra impõe, não deslembrando que há uma guerra civilizatória em curso e que ela (batalha a batalha) disputa nossa alma.

Geopolítica e discursos afirmativos não são senão as circunstâncias a que o filósofo de Espanha se referiu, suposto que o buraco na camada de ozônio vai além de escusas que o mal segue ditando ao bem, enganando o articulista incapacitado que, desavisado, não vê a disputa civilizatória que a temperatura elevadíssima de Gaya anuncia aos quatro cantos do viver.

Se não por isso, por Caetano Veloso – ‘você é meu caminho, meu vinho, meu vício. Desde o início estava você (...) visão do espaço sideral, onde o que eu sou se afoga’.

É esse o ponto: estamos afogados no mar de angústia que as inquietações de ontem seguem projetando no amanhã. Aparentemente a dureza da rota asselvajou o instante e nos fez reféns do ódio.

Odioso, um pastor neopentecostal se levanta na flórida e encoraja ‘ovelhas caucasianas’ matar o arco íris. Não quero odiar. Odiar cansa além da conta. Não nascemos para ódio e sim para o amor!

Daí não tripudiar sobre a decisão (muito bem-posta) do TSE, que disse inelegível o messias – até porque há um jogo sendo jogado e é bom ver que as balizas voltaram a seus marcos históricos, onde o devido processo dá cartas e joga de mão.

Sobre a inelegibilidade, não posso me furtar de saborear o doce da vida que o tempo flanou em minha angústia, até porque o andar da fila entronizou uma visão cidadã dos povos, verberando um modelo civilizatório que pensava perdido...

Assim, ao tempo em que o pastor encoraja a morte, a vida se impõe com sua costumeira urgência e nós seguimos sepultando o fascismo diariamente. É um exercício a que a democracia nos convida, sem listar hipótese de recusa – afinal não se diz não para a árvore dourada da vida em seus verdes manifestos de nós dois.

Com o messias fora do baralho (oito abençoados anos!), a leveza pede licença para respirar e as práticas que se anunciam dão a medida de sua valença – somos mais fortes que o ódio dessa gente.

Noves fora o ódio de ontem, hoje é dia de alegria e o recomeço de uma época de brilho e purpurina, adornada do arco-íris da vida.

Quero crer que os quase setecentos mil mortos pela pandemia que o negacionismo enlutou, tiveram uma resposta (pequena, quase ínfima; ainda assim significativa) em ordem a reconhecerem que ainda há juízes em Berlin.

Também acredito que as minorias tiveram alguma satisfação na dicção da inelegibilidade de seu algoz, naquilo que ninguém golpeou o negro, a mulher, o homossexual, os anões de jardim, quanto o messias!

Vida nova e sejamos todos bem-vindos aos primeiros dias do resto de nossas vidas, onde fascistas não passarão. Saudade Pai!

João dos Santos Gomes Filho, advogado

Os artigos, cartas e comentários publicados não refletem, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina, que os reproduz em exercício da sua atividade jornalística e diante da liberdade de expressão e comunicação que lhes são inerentes.

COMO PARTICIPAR| Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. As cartas devem ter no máximo 700 caracteres e vir acompanhadas de nome completo, RG, endereço, cidade, telefone e profissão ou ocupação.| As opiniões poderão ser resumidas pelo jornal. | ENVIE PARA [email protected]