ESPAÇO ABERTO: E agora presidente?
PUBLICAÇÃO
sábado, 05 de novembro de 2022
Padre Manuel Joaquim R. dos Santos
Foi umas campanhas mais dilacerantes da história republicana. Não dá para ignorar ou relativizar os embates fora do eixo, que de tão periféricos e medíocres, esconderam a beleza e a magnitude do ato democrático por excelência, que é uma eleição. A costumeira polarização que geralmente ocorre num segundo turno e que neste caso começou bem no início, revelou um país dividido e engessado em definições precoces, longe de qualquer debate salutar. O brasileiro iniciou a campanha de convencimento do adversário, tantas vezes transformado em inimigo, muitíssimo antes do pleito, não poupando armas para tal! Deste registro infeliz se encarregará a história que a meu ver, não proporcionará deleite em seu resgate, daqui a décadas ou séculos. O Brasil sai ferido e quiçá envergonhado, de uma contenda eleitoral em que o ódio colapsou as relações familiares e fraternas, de quem apenas queria manifestar legítimas opiniões e opções diversas.
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Contudo, embora se reconheça a legitimidade dos derrotados começarem a pensar na próxima eleição, o que é um modus operandi comum no país, impõe-se a necessidade proeminente de pensar a nação, o país, acima de tudo; aliás, slogan do candidato não eleito! O coletivo que se constrói após um pleito, não é para vencedores! É para todos. O mais votado, tem em suas mãos a outorga de tornar o Brasil uma mãe solícita a todos, de modo especial aos mais desfavorecidos. O Estado não é um ente virtual! Representa, outrossim, a garantia de que ninguém neste trem chamado Brasil deixará de desembarcar no destino. O instrumento para isso, são as políticas públicas, a política económica macro e garantidora da robustez do salário mínimo, que hoje é totalmente incompatível com uma vida digna.
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Compete ao presidente olhar para a frente, buscar e trabalhar pela reconciliação nacional, se articular com todas as forças políticas e de modo especial com a oposição, de forma profícua e republicana. Somos um país presidencialista embora nos lembre o cientista político Sérgio Abranches, que se trata de um presidencialismo de coalizão, tendo em vista os poderes adquiridos pelo Congresso na Constituição de 88. Por conseguinte, além de se fortalecer o equilíbrio entre os poderes, assunto que nos ocupou nos últimos quatro anos, faz-se mister que o presidente e o Congresso se articulem de forma legítima em torno da governabilidade, para bem geral da nação! Orçamento secreto, emendas do relator do Orçamento, fazendo jus ao nome, é ilegal e imoral! Emendas parlamentares são legais e devem continuar a sê-lo dentro da autonomia do Congresso e suas normas, sem jamais se tornarem na famosa “moeda de troca”!

A política internacional é de fundamental importância. Temos uma tradição excepcional e com princípios invejáveis de autonomia, soberania, desenvolvimento nacional e não intervenção. O mundo nos respeita e assim devemos continuar marcando posição em organismos internacionais. O presidente deve nos orgulhar com a sua presença em qualquer fórum de debate mundial, defendendo não só os nossos interesses, mas a paz e o desenvolvimento mundial, esperando-se especial lucidez nas questões climáticas. Embaixadores são de carreira e bem preparados pelo Instituo Rio Branco. Não devem, portanto, ser preteridos em prol de nomeações políticas de acomodação de aliados.
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Finalmente, é hora de se acabar com a reeleição no país! Que o mandato seja de cinco ou seis anos, mas só! Que as reformas política e administrativa recebam prioridade máxima, porquanto delas dependem as mudanças essenciais no exercício do poder e na qualificação da própria democracia. Partidos de aluguel, nanicos, sem ideologia alguma e instrumentos nas mãos de políticos suspeitos são uma excrecência no espectro da representatividade popular. Devem ser abolidos, mediante mecanismos que fortaleçam simultaneamente siglas sérias com ideologias consistentes, e por sua vez democráticas em seu bojo. Chega de caciques hereditários que usam partidos como instrumentos de sobrevivência política e econômica.
Enfim, cabe-nos a todos a vigilância proativa. A torcida de verdadeiros cidadãos pelo sucesso do governo e a denúncia quando necessária.
Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina
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