Foi umas campanhas mais dilacerantes da história republicana. Não dá para ignorar ou relativizar os embates fora do eixo, que de tão periféricos e medíocres, esconderam a beleza e a magnitude do ato democrático por excelência, que é uma eleição. A costumeira polarização que geralmente ocorre num segundo turno e que neste caso começou bem no início, revelou um país dividido e engessado em definições precoces, longe de qualquer debate salutar. O brasileiro iniciou a campanha de convencimento do adversário, tantas vezes transformado em inimigo, muitíssimo antes do pleito, não poupando armas para tal! Deste registro infeliz se encarregará a história que a meu ver, não proporcionará deleite em seu resgate, daqui a décadas ou séculos. O Brasil sai ferido e quiçá envergonhado, de uma contenda eleitoral em que o ódio colapsou as relações familiares e fraternas, de quem apenas queria manifestar legítimas opiniões e opções diversas.

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Contudo, embora se reconheça a legitimidade dos derrotados começarem a pensar na próxima eleição, o que é um modus operandi comum no país, impõe-se a necessidade proeminente de pensar a nação, o país, acima de tudo; aliás, slogan do candidato não eleito! O coletivo que se constrói após um pleito, não é para vencedores! É para todos. O mais votado, tem em suas mãos a outorga de tornar o Brasil uma mãe solícita a todos, de modo especial aos mais desfavorecidos. O Estado não é um ente virtual! Representa, outrossim, a garantia de que ninguém neste trem chamado Brasil deixará de desembarcar no destino. O instrumento para isso, são as políticas públicas, a política económica macro e garantidora da robustez do salário mínimo, que hoje é totalmente incompatível com uma vida digna.

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Compete ao presidente olhar para a frente, buscar e trabalhar pela reconciliação nacional, se articular com todas as forças políticas e de modo especial com a oposição, de forma profícua e republicana. Somos um país presidencialista embora nos lembre o cientista político Sérgio Abranches, que se trata de um presidencialismo de coalizão, tendo em vista os poderes adquiridos pelo Congresso na Constituição de 88. Por conseguinte, além de se fortalecer o equilíbrio entre os poderes, assunto que nos ocupou nos últimos quatro anos, faz-se mister que o presidente e o Congresso se articulem de forma legítima em torno da governabilidade, para bem geral da nação! Orçamento secreto, emendas do relator do Orçamento, fazendo jus ao nome, é ilegal e imoral! Emendas parlamentares são legais e devem continuar a sê-lo dentro da autonomia do Congresso e suas normas, sem jamais se tornarem na famosa “moeda de troca”!

Imagem ilustrativa da imagem ESPAÇO ABERTO: E agora presidente?
| Foto: Roque de Sá/Agência Senado

A política internacional é de fundamental importância. Temos uma tradição excepcional e com princípios invejáveis de autonomia, soberania, desenvolvimento nacional e não intervenção. O mundo nos respeita e assim devemos continuar marcando posição em organismos internacionais. O presidente deve nos orgulhar com a sua presença em qualquer fórum de debate mundial, defendendo não só os nossos interesses, mas a paz e o desenvolvimento mundial, esperando-se especial lucidez nas questões climáticas. Embaixadores são de carreira e bem preparados pelo Instituo Rio Branco. Não devem, portanto, ser preteridos em prol de nomeações políticas de acomodação de aliados.

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Finalmente, é hora de se acabar com a reeleição no país! Que o mandato seja de cinco ou seis anos, mas só! Que as reformas política e administrativa recebam prioridade máxima, porquanto delas dependem as mudanças essenciais no exercício do poder e na qualificação da própria democracia. Partidos de aluguel, nanicos, sem ideologia alguma e instrumentos nas mãos de políticos suspeitos são uma excrecência no espectro da representatividade popular. Devem ser abolidos, mediante mecanismos que fortaleçam simultaneamente siglas sérias com ideologias consistentes, e por sua vez democráticas em seu bojo. Chega de caciques hereditários que usam partidos como instrumentos de sobrevivência política e econômica.

Enfim, cabe-nos a todos a vigilância proativa. A torcida de verdadeiros cidadãos pelo sucesso do governo e a denúncia quando necessária.

Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina

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