Este estudo busca abordar criticamente a complexidade da interação entre sociedade, meio ambiente e humanidade, considerando os elementos de ecologia e economia, especialmente em face das múltiplas deficiências do modelo atual de extração, transformação, produção e consumo na era da alta modernidade. O enfoque é estabelecer uma compreensão mais profunda da relação entre natureza e seres humanos, promovendo diálogos interdisciplinares que enriqueçam a diversidade cultural e recriem o mundo.

O cerne deste trabalho reside na busca por uma ressignificação do mundo, resultante da interação entre diferentes trajetórias, trocas de experiências, linguagens, cuidados e envolvimentos, na formação de lideranças ambientais. Este processo contribui para a construção de sociedades sustentáveis, alinhando-se com princípios delineados na Carta da Terra, nas Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para 2030, nas Ecos Conferências da ONU, nas orientações do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) e nas Conferências das Partes (COPs) 28 ao todo com esta última nos Emirados Árabes.

A metodologia proposta para a educação e formação de lideranças ambientais abrange quatro pilares fundamentais para esse desafios e esse entendimento:

Princípios e Valores: Inclui uma imersão profunda no território, apurando o olhar, a audição e a percepção das manifestações da natureza, visando conhecer seus potenciais e entender o impacto das ações desenvolvidas.

Intervenção Pedagógica: Emprega abordagens horizontais e dialógicas, ouvindo todas as vozes e valorizando as experiências, respeitando os povos originários, com sua cultura e seus conhecimentos, promovendo assim a participação ativa de todos os envolvidos.

Atitudes e Habilidades Éticas e Emancipatórias: Integração dos novos conhecimentos com as experiências individuais, permitindo que cada sujeito se envolva no processo de aprendizado. Cada sujeito sinta-se co-participe do processo em questão.

Gestão Comunitária: Capacitação para administrar processos de empreendimento, conscientizando, sensibilizando, motivando e envolvendo a comunidade de maneira ativa, para trabalhar coletivamente.

Destacam-se a importância de estimular uma inteligência prudente, atenta e cuidadosa, enfatizando a necessidade de interação entre diferentes disciplinas, áreas de conhecimento e dimensões pouco exploradas. O texto advoga que ao longo dos últimos três séculos, pelas mudanças escolhidas no ritmo e nos roteiros modernos, gerou um sistema propenso a se tornar autodestrutivo, desmantelando tudo o que toca e impondo sua lógica.

Afirma Boff (2010), “hoje pela unificação do espaço econômico mundial nos moldes capitalistas (...) contra a natureza e contra humanidade torna o capitalismo claramente incompatível com a vida”. Herdamos uma ciência que, ao invés de promover a compreensão da vida, muitas vezes resulta na destruição. Nisso é que se propõe uma abordagem mais ampla, contextualizada e global, em contraposição ao modelo atual.

A narrativa sugere que a transformação inicia-se com indivíduos visionários, capazes de imaginar globalmente e agir localmente, evoluindo para uma compreensão mais profunda e imprescindível dos desafios civilizacionais. O chamado é para uma ciência reflexiva e crítica do conhecimento humano em relação à natureza e a si mesmo.

Por fim, entende-se que essa formação se faz necessária para estruturar uma cultura sustentável, fundamentada em um novo padrão que vai além da mera etiquetagem dos produtos como "sustentáveis". É defendida a abordagem da sustentabilidade como substantivo, promovida pela ciência emergente, que demanda uma revisão completa das formas de produção e da concepção de mundo guiada pela racionalidade das ciências e tecnologias modernas.

Paulo Bassani, cientista social e sociólogo ambiental