ESPAÇO ABERTO: De que é feita a justiça divina
PUBLICAÇÃO
sábado, 13 de maio de 2023
Nelio Roberto dos Reis
Duas mães pedem a Deus, com devoção extrema, que livre seus filhos da dor, do sofrimento e da morte. Suplicam, sem coragem de duvidar que serão atendidas. Entregam a Deus e confiam.
O filho de uma delas morre de maneira cruel e covarde. O outro prossegue forte e abençoado, com uma conquista atrás da outra. A mãe boa agradece todos os dias. Deus é bom e ouve as preces dela, com seu coração generoso. Que testemunho sobre Deus a outra mãe, que sofreu a perda brutal do filho, deveria dar?
As duas rezaram, pediram com fé sincera. Sempre amaram o próximo, foram dedicadas e fiéis. Amaram a Deus sobre todas as coisas. Fizeram sempre o que aprenderam ser a vontade do Senhor. Não deveria Deus, em sua imensa bondade, proteger o filho das duas? Não seria justo se assim fosse? Mas para uma, todas as bençãos, para a outra, o maior dos sofrimentos. De que é feito então a justiça divina? Se Deus sabe o que faz e faz o que quer, para que servem a prece e o fervor de quem suplica? A vida revela de forma fria, que alguns são ouvidos e outros não. Acaso somos todos iguais diante do Senhor? Que exemplo Deus nos dá, quando uns se tornam mais merecedores do que outros? Não estaria a justiça divina se inspirando na injustiça humana? (Trecho tirado do livro “Tudo é rio”, de Carla Madeira). Como uma mulher, mineira de 58 anos, conseguiu expressar em três parágrafos tudo que acreditei a vida toda e nunca consegui dizer.
Sobre a justiça e julgamento dos homens é fácil. Lembro muito bem da estória que contam sobre o momento em que Jesus, querendo substituir um médico cansado de um órgão público, foi atender em seu lugar. Entra um paciente paraplégico em cadeira de roda na sala e Jesus diz: “Levanta-te e anda”. O paciente sai andando e ao chegar na recepção os pacientes que esperam ser atendidos perguntam: como é o novo médico? E, o antes cadeirante, responde: é como qualquer outro médico da rede pública, nem examina a gente. Estes são os homens. Mas sobre a justiça divina, nada somos capazes de entender.
Como se torna necessário uma disciplina de filosofia em qualquer setor de qualquer faculdade. Não para tentar explicar, mas simplesmente para entendermos que não somos capazes de entender nenhuma lógica dos céus. Pedir a Deus para não sofrer é como pedir para voar, mas como
entender? Somos pequenos e insignificantes, mas não engolir como saliva esses fatos se nos foi dado um cérebro para raciocinar.
Ainda temos pessoas que acreditam que a Terra é plana. Outros não acreditam em vacinas. O que poderemos fazer? Acreditar em bruxos? Feliz o tempo de Papai Noel e Coelhinho da Páscoa.
Shakespeare já falava que a sabedoria e a ignorância são transmitidas como doenças, daí a necessidade de se escolher as companhias. E como sabemos, a falta de conhecimentos básicos e o pior da humanidade.
Dick Eastman em seu livro, Digno de Louvor fala, ” louvar a Deus se torna ainda mais fascinante quando tomamos consciência da complexidade dele”. Mas pela complexidade e muito mais fácil ser ateu. De uma coisa é importante ter certeza. Entre a insignificância do homem e a grandiosidade de Deus, deveria ter um equilíbrio que não existe. Temos aqui, inúmeros apedeutas de grandes aglomerados explicando tudo como mistérios sem nunca admitir o tamanho da nossa ignomínia. Só sei que deveríamos beijar os pés das prostitutas, gays e presidiários assim como Jesus lavou os pés dos discípulos (João 13). Praticar a humildade e não a falsa sabedoria.
Não somos a imagem e semelhança de nada, somos somente matéria orgânica organizada, tão organizada que assustamos. Somos capazes de construir maravilhosos computadores, e não conseguimos reconhecer a insignificância. Nosso enorme ego, nos faz pensar somos maiores do que um grilo. Será!