Recentemente, esta FOLHA publicou duas notícias que nos escandalizaram, mostrando como os criminosos do colarinho branco se locupletam com o dinheiro da corrupção e como os brasileiros mais pobres são obrigados a pagar, sem dó e nem piedade, essa conta indecorosa. Destacaram-se as seguintes manchetes sobre as reportagens: dia 12/11, "Toffoli derrubou R$ 17 bilhões em ações de ressarcimento na Operação Lava Jato"; e dia 13/11, "Limitar ganho do salário mínimo pode poupar R$ 11 bilhões até 2026, prevê governo". Isto é, vão tirar dinheiro dos mais necessitados para cobrir o roubo perdoado. É de doer na alma!

De um lado, a abominável anulação dos processos de crimes de corrupção, inclusive de réus confessos, suspensão dos acordos de negociação entre os criminosos e o governo, anulação de provas, trancamento de ação penal motivada por delação premiada e outros tantos recursos de cunho meramente protelatório. Seguindo a execrável tradição de que, no Brasil, governantes e políticos corruptos raramente vão para a cadeia, com certeza esses processos já entraram na fila da prescrição e o consequente arquivamento por decurso de prazo são favas contadas. Assim, essa canetada monocrática em favor da impunidade está suprimindo dos cofres públicos 17 bilhões de reais.

Em contrapartida, para equilibrar as suas contas, o governo federal planeja achatar os ganhos do já minguado salário mínimo, tirando dos mais pobres 11 bilhões de reais. Serão afetados, principalmente, os que recebem benefícios previdenciários e assistenciais, abono salarial, seguros-desemprego entre outras despesas pagas pelo poder público, baseadas no piso salarial.

É triste assistir a esse disparate proporcionado por quem deveria ter probidade em seus propósitos e lutar contra as injustiças sociais. Nessa mesma prática para enxugar o orçamento, também é revoltante constatar a hipocrisia dos nossos governantes, que nunca cortam verbas das mordomias extravagantes, dos escandalosos penduricalhos em contracheques, dos rendimentos estratosféricos muito além da realidade brasileira, nos três poderes da República. Nesse sentido, um destaque negativo para o Judiciário brasileiro por ser o mais caro entre outros 53 países. Aqui a Justiça consome 1,6% do nosso Produto Interno Bruto, enquanto a média internacional para esse custo é de 0,37% dos PIBs respectivos.

Decisões diametralmente opostas como essas discorridas, com efeito cruel para os brasileiros que vivem na extrema pobreza, acentua ainda mais o desiquilíbrio social no país, alimentado por uma permanente má distribuição da renda.

Essa aviltante e atroz desigualdade é uma chaga aberta do seio da nossa sociedade, o que faz o Brasil ficar relegado entre os países mais desiguais do mundo. Lastimável!

Ludinei Picelli, administrador de empresas