Dizem que a célula tem dois objetivos claros e concomitantes: a imortalidade e a reprodução. Em contextos adversos de catástrofes, imprevisibilidades ou rupturas, ela procura a imortalidade. Busca sobreviver. Em ambientes agradáveis e calmos, a reprodução! O que importa é passar adiante os genes. Esse será o DNA de toda a célula: o segredo intrínseco à própria vida. A perda de objetivos, de menor ou maior amplitude, aborta a vida e esta entra num processo de degeneração e morte. Morre-se, muito antes da morte!

A teimosia da vida é a sua alma mais genuína. Por isso, vemos plantas que brotam, crescem e florescem em ambientes inóspitos e aparentemente estéreis. O mesmo se diga de seres humanos, que tendo sido despejados em fétidas prisões por décadas, tornaram-se presidentes da república! Assim é a vida, com o seu potencial totalmente voltado para a “vida”! Há um bilhão de anos, uma mão mágica fê-la surgir. Uma explosão inacabada até hoje, porque a vida não para de evoluir e de se aperfeiçoar. Definido mesmo, só o criador! A criatura, é um processo até hoje. A perfeição é um eterno desafio que nos empurra para a acrobacia da vida enquanto tal: deixarmo-nos polir e moldar, por ninguém menos, do que a própria existência!

Neste contexto, a primazia é da pergunta. Não da resposta! É perguntando que se avança. É inquietando-se que se progride. Se a vida vegetal e animal não se questiona, nem por isso ela deixa de se abrir ao novo em seu intrínseco processo de evolução. As plantas buscam a luz do sol, como o ser humano anseia pelo amanhã! Mas o homem e a mulher, esses necessitam tanto da pergunta, quanto do ar que respiram! Humanizam-se proporcionalmente às questões que levantam! E se lá do céu, o Deus dos crentes se admira e se regozija, fá-lo-á ouvindo as nossas perguntas!

Os sábios abominam respostas e se consolam com perguntas! Os filósofos ensinam-nos a pensar através de perguntas. Os teólogos, dito pelo papa Francisco, buscam razões para a sua crença. A ortodoxia, muitas vezes dá lugar à irreverente heresia e esta, sim, nos faz avançar! A vida humana busca explicações e essas ocorrem segundo as perguntas que são feitas! O pensamento evolui, as invenções acontecem e o desenvolvimento se consolida, porque alguém colocou a pergunta em primeiro plano. Não tenhamos medo de perguntar!

A criança avança com perguntas. Ela precisa fazê-las, mais do que obter respostas. Por isso, encadeia uma pergunta na outra, menosprezando as respostas dadas. Questionar é a sua genuína tentativa de apreender o mundo, mais do que aprender as coisas! Uma pergunta abraça o universo. Como tudo é novo, só perguntando e perguntando, para dominar o seu exterior. Porque os adultos param de perguntar, eis a questão! Quando a pergunta começa a incomodar, sobra a mediocridade das respostas prontas. O adulto acuado prescinde do pensamento! Sem perguntas, sem humanismo!

Mas, e a pergunta em si traz seguranças? Por óbvio que não! Ela inquieta-nos, desinstala-nos e, por conseguinte, “tira-nos o chão”! Esse é o preço que pagamos pelo amanhã! O contrário, a satisfação com as respostas “tranquilas” inviabiliza o avanço civilizatório. Portanto, se a vida nos impulsiona inacabadamente para a frente, não tenhamos medo de fazer as perguntas necessárias, para viabilizarmos esse permanente avanço. Jesus de Nazaré não se cansava de fazer perguntas provocando os seus interlocutores a uma descoberta de si mesmos. Dizem que Confúcio e os “buddhas” (“despertos”), idem! O mesmo se aplica à sabedoria socrática!

Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina

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