ESPAÇO ABERTO: Apreender a pensar a dialogar para a vida
PUBLICAÇÃO
sábado, 06 de maio de 2023
Paulo Bassani
Antes de apreender qualquer coisa necessitamos apreender a pensar. Este é um dos fundamentos para tentar estabelecer aproximações sobre nossa condição humana nesta alta modernidade. Uma atitude necessária para ingressar num tempo de vivência, esperança, de que o amanhã possa ser melhor do que foi no passado. Se não soubermos minimamente como funciona nosso cérebro para o uso da nossa capacidade de pensar, de imaginar e de criar não podemos avançar numa cultura democrática de alto teor, associada a uma cultura sustentável tão necessária ao nosso tempo.
Esses dois conceitos, Cultura Democrática e Sustentável são elementos fundamentais da vida moderna. Tem tudo haver com o novo, com o amanhã que ainda não existe por completo e, que nessa condição necessita ser criado, e recriado, para tanto necessitamos do pensamento, do exercício constante da imaginação criativa que nos impulsiona a ser melhores, a fazer melhor do que fomos e do que fazemos.
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Este tempo/espaço do pensamento/reflexão/ação somente emerge com o tempo, associado à leitura, reflexão, diálogos, debates, escrita, compromissos, atitudes, comportamentos e hábitos. Antes, porém, pensar e debater qual o pensamento que nos levou até aqui e, qual o pensamento e conhecimento que vai nos orientar daqui para frente. Enormes serão os desafios que teremos que enfrentar! Estes serão esclarecidos e tratados, se abrirmos espaços para outros saberes, deixarmos de lado a forma como o sistema hegemônico nos condiciona, aliena e atrofia, para que outros saberes, saberes que não sabemos, desconhecemos possam entrar em cena.
Nesse sentido trata-se olhar, estar atentos no que está acontecendo mundo afora. Entretanto não podemos apenas ser influenciados pelo imediato, pelo conhecido, pois talvez já não sejam suficientes, já não dão conta, não possuem mais muito a dizer, a nos ensinar.
Leonardo Boff nos lembra “das sombras do norte só temos visão de passado e não de futuro”. Zygmunt Bauman nos diz que na sociedade líquida, que estamos inseridos, há precarização, a incerteza, a inconsistência, a falta de vínculos e a expansão dos medos sobre a atualidade e o que há de vir. E que o projeto em curso desta sociedade vigente renega a possibilidade emancipatória firmando-se como um instrumento de domínio.
Por isso que o futuro começa aqui e agora, no desafio de conhecer quem somos de fato, quais nossos potenciais, nosso território para que ao aprofundarmos nossa noção de pertencimento e de potencialidades humanas, que numa leitura global consigamos estabelecer as traduções para nossa territorialidade de vida.
No geral, não temos o hábito de ouvir o pensamento crítico, principalmente nesse tempo de redes sociais, nela não circula o pensar crítico, nela circula informações rasas, curtas, preconceituosas e muitas vezes mentirosas. Tornamos-nos intolerantes, normalmente presos às coisas tradicionais, aos axiomas morais e religiosos com interpretações conservadoras e duvidosas. No qual se apegam a estruturas valorativas do cotidiano, do sofrimento das pessoas, e, que ignoram estruturas críticas de uma sociedade que gera esse sofrimento e sua manutenção.
Por conseguinte, nosso pensar reside, em grande medida, em exercitar os sonhos, as utopias coletivas, não há nada melhor para pensar o futuro e aí ir experimentando as formas que precedem esta chegada, assim moldamos, ajustamos os caminhos possíveis ao andar. Lembrando que o futuro sempre será um construto, nunca uma determinação pronta e acabada. Nesse caminhar, necessitamos compreender a teia da vida que nos cerca e que fazemos parte, em todas as suas manifestações. Desta feita ninguém ficará fora deste projeto de atitudes, comportamentos e hábitos necessários. Que no pensar, no agir sejam cultivados modelos que sirvam para muitos e não para poucos, porque este formato já se encontra instalado, já sabemos onde nos levou.
Imagino um tempo/espaço onde possamos sentar numa grande mesma mesa redonda, se possível, olho no olho, para que todos possam ver, ouvir e se manifestar. Nessa perspectiva recuperar e reaprender a pensar, a dialogar, numa revolução cultural de educativa e conscientizadora. Para suscitar isso serão necessárias mentes abertas, lúcidas e muita coragem, construindo um entendimento, uma visão de mundo global e local a curto, médio e longo prazo.
Paulo Bassani, cientista social, escritor e professor universitário
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