ESPAÇO ABERTO: Amar a Eucaristia é amar ao próximo
Esta é a festa de Corpus Christi, nascida na Idade Média e que perpassou os séculos até hoje
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quinta-feira, 30 de maio de 2024
Esta é a festa de Corpus Christi, nascida na Idade Média e que perpassou os séculos até hoje
Rodolfo Trisltz
A cada ano que passa, a tradição se repete: montar tapetes de pó de serra, sal colorido e cascas de ovo sobre desenhos com significado religioso. Destaca-se o envolvimento das comunidades, cujos fieis acordam cedo para preparar o caminho por onde passará o Corpo de Cristo. Depois, a missa celebra a Eucaristia e a procissão passeia com o Santíssimo Sacramento, centro da fé católica, pelas ruas da cidade e dos bairros. Aliás, esta é a única vez que a Eucaristia sai em procissão pública, justamente pela manifestação da fé que temos no Corpo de Cristo. Esta é a festa de Corpus Christi, nascida na Idade Média e que perpassou os séculos até hoje.
A festa de Corpus Christi foi instituída pelo papa Urbano IV em 1264. A tradição diz que ele recebeu o segredo das visões da freira Juliana de Mont Cornillon, que mostravam uma lua cheia com uma mancha escura, interpretadas pela Igreja como a ausência de uma festa dedicada à Eucaristia. Ela confidenciou suas visões ao cardeal Jacques Pantaleón, que se tornaria o papa Urbano IV. Durante seu papado, aconteceu o milagre de Bolsena, através do qual escorreu sangue da hóstia que um sacerdote consagrava numa missa. O padre correu para Orvieto, onde estava a sede da Igreja. E, assim, o papa instituiu a adoração à Eucaristia e a procissão que se realiza em Corpus Christi.
Essencialmente, Corpus Christi é uma festa popular. Daí a importância de todas as comunidades se reunirem para prepararem os tapetes por onde passará a procissão com o Santíssimo Sacramento. Esse gesto também é um ato de convivência e confraternização, de as pessoas se unirem em torno de uma fé comum. Além disso, a manifestação pública da adoração à Eucaristia se mostra importante, inclusive, na transmissão dessa fé aos mais jovens. Nesse sentido, é também um ato catequético, além de um grande gesto de amor e devoção.
Entretanto, o amor à Eucaristia nos leva a uma missão: transformar o mundo. Como disse o próprio Jesus, “ide e anunciai”, é preciso abastecer-se deste verdadeiro alimento espiritual para podermos colocar em prática o amor, a fraternidade e a partilha do pão. De modo especial, aos que mais necessitam: desde as pessoas em situação de vulnerabilidade até as vítimas do desastre que atingiu o Rio Grande do Sul recentemente. O amor à Eucaristia deve se transformar em ações concretas ao próximo, senão nossa fé torna-se vã.
Por isso, cada nova festa de Corpus Christi, somos convidados a renovar nosso compromisso com o projeto de Cristo ao mundo. Somos impulsionados a fazer a diferença onde quer que precisem de nós. Em nosso dia a dia, adorar a Eucaristia significa irradiar a luz de Deus entre nossos familiares, amigos e colegas de trabalho. Significa ser justo, correto e íntegro nas atividades que desenvolvemos. Significa separar um tempo para desenvolver uma atividade voluntária que possa ajudar e beneficiar outras pessoas, de modo especial as que mais precisam.
Afinal, para usar uma palavra muito em voga nos dias de hoje, a Eucaristia nos leva a ter propósito de vida. E o que mais permanece conosco senão o bem que fazemos ao próximo? Esse é o combustível da nossa vida cristã. É o que não deixa a chama da nossa fé se apagar. É o que nos mantém firmes no caminho de Deus. Em suma, amar a presença do corpo e do sangue de Jesus nas espécies do pão e do vinho consagrados é, em última instância, amar nossos próprios irmãos, independentemente de ideologias políticas, de diferenças religiosas, de identidade ou gênero, ou de qualquer outra diversidade.
É o que desejamos, sob o manto de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Sob suas orações e intercessão junto a Jesus. Sob sua proteção. Afinal, ela é a mãe da própria Eucaristia!
Padre Rodolfo Trisltz, pároco e reitor do Santuário de Nossa Senhora Aparecida de Londrina