Evidente, a vida continua. Evidentemente, a vida continuaria. Se a vida sempre continua depois que o Brasil perde a Copa, se a vida não acabou depois que Nando e Marisa terminaram, se a vida não terminou quando aquela mãe perdeu seu filho, e se ela insiste em não acabar mesmo que eu já tenha pedido algumas inúmeras vezes. Gostaria de fazer um último pedido: vida, se for para terminar, melhor que seja antes da segunda-feira, domingo fim de tarde é uma boa opção. Enquanto isso, escrevo.

Óbvio, a vida continuou e, como sempre, nem muito boa, nem muito ruim, como uma típica montanha russa, que dá um medo danado e a gente insiste em pagar o preço para ver se vale a pena. Quando se vê, já é sexta-feira, quando se vê, já é segunda-feira de novo, quando se vê, mais um mês acabou e o próximo já é Natal, quando se vê, já surgiram novos problemas e aquele ficou no meio do caminho, quando se vê, já passou tudo e só ficou um pouco de gente, quando se vê, eles passarão, e eu só passarinho, quando se vê, Mario Quintana está dentro da gente.

Obviamente que era para ser tudo um pouco mais fácil, e um pouco menos dolorido. Porque minha psicóloga não escreve logo um livro com um roteiro ou com uma espécie de manual para vida. Pronto: leia e viva a vida perfeita, se fosse na minha vez de escrever, o nome do livro seria: maturidade a quê custo?

Obviamente que crescer se mostra necessário, mas dá uma saudade de ser criança, de deitar a cabeça no colo da mãe e esquecer de tudo, de chorar com medo da montanha russa, e de dormir no sofá da sala e acordar no quarto.

Enquanto escrevo esta crônica, vou contar uma história para fazer a vida continuar mais devagar. É a história de um médico, que quando era criança passou por uma experiência marcante, ele estava em um final de semana na fazenda do seu avô, e lá tinha um galpão que todo mundo falava que era amaldiçoado.

No sábado, fim de tarde, depois de um dia de muito chuva, seu avô se lembrara que tinha deixado o galpão com as janelas abertas, e pediu para o seu neto fechar aquelas malditas, ele logo ficou morrendo de medo, mas não titubeou, foi logo e fechou o galpão de ponta a ponta.

Depois de muitos anos, o neto já era médico e o avô já estava bem velhinho, e começaram a lembrar desta história. O doutor disse que jamais faria isso com um neto seu, e, foi ali, que aqueles velhos cabelos brancos disse o seguinte: nós passamos a vida inteira correndo do medo, a diferença é que os corajosos, quando se mentem medo, correm para frente, só é preciso escolher a direção.

Acredito que um homem perde a vida em duas oportunidades: a primeira, de fato, com a morte; já a segunda, e mais dolorosa, é quando se perde a esperança. A única direção possível é entrar nessa montanha russa, com a certeza de que o medo nos acompanhará e a lagrima, às vezes, poderá até cair, mas a vida continua, só que desta vez, a vida continua com esperança.

Gabriel Faria, advogado, autor do livro "Se não virar amor, faço poesia"