O dia 27 de fevereiro de 1933 marcou o fim da República de Weimar e o destino da então frágil democracia alemã. Às 21h35 daquela noite o Reichstag, sede do parlamento alemão, estava em chamas, quatro semanas após Hitler ascender ao posto de chanceler ─ cargo semelhante ao de primeiro-ministro.

O parlamento estava sendo consumido por um incêndio criminoso, responsabilidade atribuída de imediato ao cidadão Marinus Van der Lubbe, um neerlandês. Hitler, às pressas, declarou que o incêndio fora ato praticado por comunistas.

O evento foi a oportunidade que Hitler precisava, tanto que no dia seguinte baixou um decreto declarando Estado de Sítio na Alemanha; as consequências disso todos conhecemos: ele tornou-se um governante perverso, cruel, autoritário, ditador, absolutista, impôs o nazismo, afastou os direitos individuais, prendeu e criou campos de concentração para “abrigar” os opositores.

Seis anos e sete meses depois ─ 1º de setembro de 1939 ─ a Wehrmacht, as forças armadas da Alemanha invadiram a Polônia, dando início à Segunda Guerra Mundial, e também sabemos da catástrofe que foi essa guerra sectária.

Hitler foi um covarde! Na Primeira Guerra Mundial fugiu da Áustria aos 18 anos, seu país de origem, alistando-se como voluntário no exército alemão, afirmando ser motorista de ambulância especializado ─ algo que nunca fora ─, a fim de não ir para a frente de batalha. A fuga é típica dos covardes!

Em oito de janeiro de 2023, após o presidente que governara o Brasil entre 2019/2022 ser derrotado no pleito eleitoral, porque não conseguira votos suficientes para se reeleger, e após ter fugido para os EUA, onde, dia sim, outro também estimulava a desobediência civil e a revolta, uma horda de bolsonaristas fanáticos que se encontravam acampados há semanas em frente ao Quartel General, em Brasília, alimentados na ideologia por militares não comprometidos com a pátria, e mantidos por empresários bolsonaristas fanáticos e irresponsáveis, optaram por repetir os eventos de fevereiro de 1933, na Alemanha, em maior extensão.

Invadiram, depredaram, destruíram como bárbaros o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, persuadidos por um líder covarde e ausente; com desejo estúpido, irracional, ilegal e inconstitucional, praticaram a barbárie protegidos, supremo absurdo, por alguns militares graduados, políticos e policiais, todos igualmente irresponsáveis, amantes e saudosistas da ditadura.

A democracia brasileira venceu! Os bandidos depredaram os alicerces da República, porém, não a destruíram. Milhares foram presos e estão sendo devida e merecidamente julgados e condenados. A democracia venceu!

Um deputado federal por Londrina, bolsonarista, arvorou-se em dizer em entrevista neste jornal que os vândalos que destruíram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal não eram os bolsonaristas que estavam acampados e mantidos por empresários irresponsáveis durante meses em frente ao Quartel General, em Brasília.

Afirmou o senhor deputado que foi a extrema-esquerda que realizara aquilo, utilizando-se dos black blocs, embora as provas, fotos, vídeos e depoimentos dos ensandecidos bolsonaristas provem o contrário. O senhor deputado, acredito, fez essa declaração em apoio ao seu líder político, porém, sem qualquer elemento substancial que comprovasse sua afirmação. O fez para se mostrar convincente e persuasivo. Sem dúvida, uma citação retórica!

Em Berlim foram os nazistas que atearam fogo no parlamento, porém, culparam os comunistas, exatamente como aconteceu no Brasil, com os bolsonaristas invadindo os pilares da democracia culpando a esquerda legitimamente recém-eleita.

Marinus Van der Lubbe recebeu décadas depois do Estado Alemão um pedido de desculpas, reconhecido como inocente na acusação falsa de ter ateado fogo no parlamento alemão.

O mentor dos atos de 8/1/23 no Brasil, insensato e divorciado da democracia, estava fugido desde dois dias antes do término do seu mandato, e da Flórida aguardava ser chamado após o golpe para assumir o governo que ele perdera nas urnas.

Hitler não fugiu; suicidou-se, portanto, um baita covarde! Nunca se esqueçam que o compadrio dele aqui nos trópicos é semelhante a ele, visto a intimidade e apreciação histórica e afetiva de ambos na busca do autoritarismo.

Almir Rodrigues Sudan, escritor graduado em direito, jornalismo e economia

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