Vladimir Putin venceu as eleições mais uma vez. Será com certeza o mandatário mais longevo da história do país, passando o sanguinário Stalin, que governou de 1927 a 1953 sem opositores! O que o leitor conhece da Rússia corresponde à verdade. Um país feudal até 1917. Uma ditadura comunista marxista até 1989, um país em frangalhos até 2000 e um nação sob o nacionalismo totalitarista até aos dias de hoje.

Putin se encarregou gradativamente de reconduzir a “mãe Rússia” aos velhos tempos dos Czares. Até as portas do Kremlin são de ouro! Todos têm algo em comum: derramamento de sangue, torturas em prisões, guerras “desnecessárias” (peço desculpa pelo pleonasmo) e perseguições políticas!

Com o desmonte do império da União Soviética, a Rússia ficou com um arsenal “invejável”, que na última década do século passado foi alvo de roubos e vendas clandestinas a outros ditadores de plantão e grupos terroristas. Boris Iéltsin começou como um “impaciente” com as reformas de Gorbatchov. Em 1991 assinou um decreto, proibindo qualquer atividade do partido Comunista na Rússia. Passou para a história como uma caricatura, amante da bebida e o homem que transformou a economia socialista em economia de mercado e com isso permitiu encher as esquinas de Moscou com fast food americanos e lojas de grife ocidentais.

O seu governo foi pautado pela corrupção, inflação e colapso total do país. No meio do ano de 1999, nomeou Putin primeiro ministro, que em dezembro desse ano assumiria como presidente com a sua renúncia. Isso é história. Iéltsin afirmou, às vésperas de sua morte, em 2007, que Putin foi a melhor escolha.

Putin não se tornou o que é hoje repentinamente. Como afirmou um historiador russo atual, “o inverno chega de mansinho com chuva, gelo, e depois vem a neve. E às vezes demora para acabar”. E pode demorar! Até 2036! O atual ditador nacionalista foi se consolidando no poder, incialmente se alternando com o seu amigo de infância Demitri Medvedev. Uma jogada de mestre na terra do xadrez!

Putin é um restaurador do apogeu perdido! Seja dos tempos soviéticos ou da “velha mãe russa czarina”! Por isso, anexou a Crimeia e invadiu a Ucrânia. É ressentido com os líderes do Ocidente, que debocharam do seu país, quando de rastros, parecia ocidentalizar-se como nunca! Ele foi um observador, oficial da KGB e depois na administração Iéltsin. Putin é imparável em seu intuito.

A vitória sobre a Ucrânia não cessará sua gana de ir mais além. Na África, a Rússia, como a China, não está apenas jogando, mas dando cartas! O atual czar já demonstrou, portanto, avidez pelo poder e pelo expansionismo correlativo.

A esquerda erra feio ao se omitir na condenação explícita de Putin ou de Maduro. Um como o outro são ditadores que oprimem o seu povo e fomentam conflitos. A ideologia, passada ou presente, não responde mais a nenhuma questão que os envolve! Não são de esquerda nem de direita. São populistas nacionalistas que não têm escrúpulos para conseguir os seus objetivos. O principal deles, manter-se no poder.

Putin usa constantemente as armas nucleares como persuasão contra a Otan. Nisso não é inédito. Boris Iéltsin, que acabou se desentendendo com o então presidente Bill Clinton, é autor da seguinte fala: “Ontem, Clinton se permitiu pôr pressão na Rússia. Me parece que ele esqueceu, por um minuto, um segundo que seja, que a Rússia tem um arsenal cheio de armas nucleares. Ele se esqueceu disso."

Um amigo dizia-me, no mês passado, que essas armas têm mais poder de manter a paz do que o clamor de Francisco! Senti-me abalroado pela perversidade fática, de reconhecer que voltamos à Guerra Fria.

O mundo está tão ou mais perigoso do que na década de sessenta, pois o caldo geopolítico vem temperado com o avanço da extrema direita e os eventos climáticos extremos, cada vez mais frequentes.

Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina

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